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Fact Check Madeira

Será que os governos têm esquecido os idosos carenciados das comunidades?

O Lar Padre Joaquim Ferreira, na Venezuela, acolhe idosos e está a braços com a falta de verba

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Foto DR

O Lar Padre Joaquim Ferreira, uma conhecida instituição projectada pela comunidade portuguesa na Venezuela para apoiar e albergar idosos, está sem fundos, mesmo estando já a operar a menos de metade da sua capacidade, alertou, na segunda-feira, o seu presidente Carlos Fernando Carvalho, em declarações à Lusa.

“Já estamos em Abril e posso dizer que não temos os recursos para terminar o mês. Mas estamos confiantes que os vamos ter, graças ao apoio de muitos conterrâneos e de empresários dedicados que põem uma mão no coração e metem a outra na algibeira e nos ajudam”, afirmou o lusodescendente.

A notícia não deixou de gerar alguns comentários nas nossas plataformas, tendo um dos leitores criticado o governo português por fechar os olhos às dificuldades das comunidades portuguesas, nesta particular referindo-se àquela radicada na Venezuela.

“O governo português preocupa-se mais com quem não quer trabalhar, esses têm que ser apoiados, mas os portugueses a quem a vida não sorriu são completamente abandonados, se no meio de tantos houvesse um cigano já havia dinheiro”. Mas houve também quem lembrasse os problemas que afectam as comunidades mais idosas em Portugal, fazendo questão de dizer que o foco dos apoios deve ser para quem aqui reside.

Mas será verdade que os governos nacional e regional ‘abandonaram’ os lusodescendentes idosos, no caso aqueles que residem no Lar Padre Joaquim Ferreira na Venezuela?

Para apurar a existência de apoios fizemos uma rápida consulta ao arquivo do DIÁRIO, procurando saber mais sobre a conhecida instituição, projectada pela comunidade portuguesa e impulsionada pela Sociedade de Beneficência de Damas Portuguesas de Caracas, com o apoio de vários organismos, entre eles a Academia do Bacalhau de Caracas.

A publicação mais recente que surge na pesquisa, já datada deste ano, de 20 de Março, dá conta de que o Governo Regional da Madeira, através da Direcção Regional das Comunidades e da Cooperação Externa, reafirmava o empenho em apoiar a comunidade madeirense radicada na Venezuela no combate à pobreza e risco de exclusão.

“O Governo Regional continua a apoiar os nossos conterrâneos, quer residam na Madeira ou em países terceiros. Através do apoio ao movimento associativo na Diáspora, garantimos a distribuição de cabazes alimentares, a aquisição de medicamentos e o combate à exclusão social dos mais idosos. Além disso, contribuímos para projectos que apoiam madeirenses em situação de sem-abrigo”, explicou o governante.

Antes ainda, em Junho de 2024, Sara Madruga da Costa, num artigo de opinião no DIÁRIO lembrava uma visita à comunidade madeirense na Venezuela, enquanto adjunta do secretário de Estado das Comunidades, com passagens pela Sociedade de Beneficência das Damas Portuguesas, o Lar Padre Joaquim Ferreira, o Lar Geriátrico de Maracay e a OMG “Regala una Sonrisa” que ajuda sem abrigo e portugueses e luso-descendentes em situação de abandono, entre muitas outras associações. “O Governo português apoiará todas estas associações do Distrito Capital, Arágua, Carabobo, Lara e La Guaira com cerca de cento e oitenta mil euros e vai continuar a enviar e a distribuir medicamentos e a apoiar a rede médica”, referiu à data.

A 6 de Setembro de 2023, ainda era secretário de Estado das Comunidades o madeirense Paulo Cafôfo, também numa visita à comunidade madeirense radicada na Venezuela, o Governo da República lembrava os apoios às instituições de solidariedade social. Para o referido lar apontavam, nos últimos dois anos, a atribuição de 43 mil euros.

Em Junho do mesmo ano, Rui Abreu, à data o director regional das Comunidades e Cooperação Externa, também visitou a Venezuela para as celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, tendo anunciado um pacote especial de ajudas para quatro entidades, uma delas a presidida por Carlos Fernando Carvalho.

Em 2022, cabia também ao presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque anunciar a celebração de dois contratos-programas para apoiar dois lares na Venezuela. Ao Lar Padre Joaquim Ferreira cabia uma fatia de 7.500 euros.

Ou seja, nesta breve análise, é possível verificar que tanto o Governo da República, quanto o Governo Regional da Madeira, têm vindo a apoiar as instituições que prestam apoio social na Venezuela, ainda que seja perceptível que as verbas continuem escassas e que os responsáveis por estas instituições continuem a apelar a mais apoios para a prossecução dos seus objectivos.

Mas também é verdade que os problemas não são recentes. A falta de meios financeiros é uma realidade que se arrasta ano após anos. Em 2018, numa reportagem do DIÁRIO feita com os utentes e responsáveis pelo LAR, já se indiciavam problemas. “A ajuda cá significa poupança lá. Se não houver condições para acolher esta gente, vai ser necessário fazê-lo na Madeira”, dizia Marilu de Andrade, que desempenhava as funções de secretária da direcção, e avançava com ideias: “Uma solução seria um apoio mensal ou uma ajuda substancial, cada ano”, dando o exemplo dos lares das comunidades italianas e espanholas que recebem uma ajuda fixa, dos respectivos governos.

“O governo português preocupa-se mais com quem não quer trabalhar, esses têm que ser apoiados, mas os portugueses a quem a vida não sorriu são completamente abandonados, se no meio de tantos houvesse um cigano já havia dinheiro”