Por uma Política ao lado das pessoas…

Permitam-me partilhar, neste espaço, algumas reflexões sobre o nosso país — um país que, com urgência, precisa de furar a bolha.

Estas palavras nascem de conversas que tenho tido com muitas pessoas e dos debates a que tenho assistido no contexto das eleições legislativas que se aproximam.

Vivemos numa bolha. Uma bolha política onde se debate por debater, onde os problemas são tratados como meros exercícios de retórica, onde se celebram vitórias vazias. O país real observa à distância — cansado, descrente, sem esperança. A política entretém-se consigo própria, enquanto os cidadãos se desligam.

Tornou-se banal ver partidos a discutir como se estivessem num jogo de tabuleiro, alheios às consequências. Normalizou-se a tecnocracia estéril, os chavões da gestão, os planos sobre planos, os estudos sobre estudos. Mas quem ouve os que esperam meses por uma cirurgia? Quem responde às famílias que contam os cêntimos para decidir se aquecem a casa ou compram comida? Quem dá voz aos que, mesmo a trabalhar, não conseguem pagar a renda ou a prestação da casa? Portugal precisa, com urgência, de furar esta bolha.

O custo de vida sufoca. Os salários estão estagnados. Ter uma casa tornou-se um luxo. A saúde pública é um labirinto, aparentemente sem saída à vista.

As pessoas vivem exaustas, apenas a tentar sobreviver ao dia seguinte. E a política o que tem feito? Responde com slogans, promessas recicladas e um autismo institucional que afasta e desmoraliza.

O que o país maravilhoso que temos precisa, afinal? Precisa de uma política que resolva; que vá à raiz dos problemas; que esteja ao lado das pessoas — não atrás dos muros do poder. Portugal precisa de uma política que saiba ouvir antes de falar. Que compreenda que a autoridade se constrói com serviço, não com títulos nem megafones.

Mas Portugal também precisa de liberdade, precisa de confiança nos cidadãos.

Precisamos de um Estado que liberte em vez de aprisionar, que permita em vez de controlar.

Precisamos de um Estado mais leve, mais eficiente, que não asfixie quem quer empreender, inovar ou simplesmente trabalhar com dignidade. Não é sustentável um país onde criar um negócio é um ato de coragem, onde quem gera emprego é tratado como suspeito e onde a burocracia consome mais energia do que a própria atividade económica.

Portugal precisa de um sistema fiscal mais justo e transparente, que premeie o esforço, que deixe as pessoas ficar com mais do que ganham, que incentive o investimento e valorize quem arrisca. A liberdade económica é condição essencial para a prosperidade social. E não há igualdade/equidade de oportunidades sem mobilidade — e esta só se alcança com mérito, educação de qualidade e liberdade de escolha.

Só com essa visão — livre, responsável, próxima das pessoas — será possível convocar ambição e coragem. Só assim se pode olhar os portugueses nos olhos e afirmar: é possível um Portugal diferente.

Como eu gostaria de ver Portugal como um país onde trabalhar compensa; onde ter uma casa não seja um fardo; onde cuidar da saúde não dependa da sorte; onde o talento é valorizado e a iniciativa apoiada. Um país que funcione — para todos e com todos.

Não nos falta talento. Falta-nos direção. Falta-nos coragem para furar a bolha — e a liberdade para respirar fora dela.

Está na hora de rebentá-la.

Tenho dito

José Augusto de Sousa Martins