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Fact Check Madeira

Haverá sismos todos os dias no arquipélago da Madeira?

Uma das imagens do sismo de Março de 2020 foi a reacção de quem assistia a um espectáculo na Igreja Matriz de São Vicente.
Uma das imagens do sismo de Março de 2020 foi a reacção de quem assistia a um espectáculo na Igreja Matriz de São Vicente.

No último domingo, logo pelas primeiras horas, foi registado mais um sismo na zona da Madeira, desta feita a 250 quilómetros a Oeste do Porto Moniz. Logo pela manhã, o DIÁRIO, na sua edição on-line, em dnoticias.pt, deu conta do ocorrido. Tratou-se de um sismo de 4.2. na escala de Richter e foi registado pelos sismógrafos do Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA).

Este é um tipo de notícias que costuma gerar muitas reações dos leitores, o que voltou a aconteceu. Foram mais de três dezenas, muitas delas fazendo referências a uma intervenção divina, o que resulta apenas da crença de cada um e não de qualquer facto científico.

Mas houve também quem tenha feito afirmações mais objectivas. Uma delas manifestou espanto com o facto de o sismo ter sido notícia. Disse ser algo que acontece todos os dias e que, por isso, se estaria a “espalhar o alarme social”. Será verdade que todos os dias há sismos à volta da ilha da Madeira?

Antes da verificação, objectiva, sobre a existência ou não de sismos diários no arquipélago da Madeira, vejamos, com recurso a notícias e a estudos científicos qual é a realidade sismográfica da Região.

Em Fevereiro de 2022, o DIÁRIO noticiou que a Madeira ia ter três novos sismógrafos. O anúncio foi feito quando técnicos do IPMA estiveram no Porto Santo, no âmbito da manutenção de outros equipamentos semelhantes lá instalados.

Nessa ocasião, Fernando Carrilho, geofísico do IPMA, alertou apara a cautela necessária, quando se aborda a questão sísmica na Madeira, apesar desta não ser uma Região problemática: “No contexto nacional, a zona do arquipélago da Madeira, no ponto de vista da perigosidade sísmica, é aquela que tem menor perigosidade”. Contudo, isso "não significa que não esteja sujeito ao fenómeno, como foi que aconteceu em Março de 2020, que em termos práticos foi, se calhar, um dos maiores terramotos registados instrumentalmente nos últimos vinte anos”. Tal sismo foi de 5,2 escala de Richter.

O último grande sismo anterior no arquipélago aconteceu em Maio de 1975, provocando danos em várias habitações.

O sítio da internet do IPMA apresenta a Rede Sísmica Portuguesa. São identificados cinco sismógrafos no arquipélago da Madeira: Dois no Porto Santo; um no Porto Moniz; Um no Pico do Areeiro e um no Funchal. Nos Açores existem 35. Só na ilha de São Miguel existem 10. Isto dá-nos, desde logo, a ideia da frequência sísmica entre um arquipélago e outro. Nos Açores, por exemplo, existem vulcões activos.

O sítio oficial do Governo açoriano diz que “nos Açores existem 26 sistemas vulcânicos activos, 8 dos quais submarinos.”

Entretanto, em 2023, a Madeira ‘ganhou’ um novo sistema de detecção sísmica.

Em Janeiro de 2024, a ARDITI, num texto publicado no DIÁRIO, revelava: “O equipamento de Detecção Acústica Distribuída (DAS), instalado na Estação de Desembarque de Cabo da EMACOM – Telecomunicações da Madeira, na Praia Formosa, registou pela primeira vez actividade sísmica. O sistema inovador, que envolve vários parceiros em Portugal, é um avanço significativo na capacidade de monitorização sísmica da Região, indo ao encontro dos objectivos inovadores do projecto SUBMERSE, financiado pela UE, que utiliza cabos submarinos para a monitorização da Terra.”

A tecnologia aplicada aos cabos, informou o projecto BELLA II (Building the Europe Link to Latin America and the Caribbean), projecto co-financiado pela União Europeia, “graças à sua sensibilidade” permitem “detectar não apenas terremotos, mas também as vocalizações de mamíferos marinhos, ondas e actividades humanas. E o que é mais importante, com os sistemas de monitorização correctos, essas informações podem ser usadas para alertas antecipados de tsunamis ou para identificar rapidamente as áreas afectadas. De facto, é possível detectar terremotos em alto-mar em até alguns décimos de segundo, avisando antes do início de um forte tremor”.

Vejamos, agora, a quantidade de sismos que vêm a ser registados. Uma vez mais, recorremos à informação disponibilizada pelo IPMA.

Durante o mês de Março de 2025, foram registados seis sismos, o último dos quais referido na notícia de domingo. Outra informação, que o IPMA também disponibiliza, é a sismicidade para os últimos dois anos. Assim, verifica-se que entre 31 de Março de 2023 e 31 de Março de 2025 foram registados 95 sismos no arquipélago da Madeira.

Distribuídos os 95 sismos pelos 731 dias do intervalo em causa, facilmente se constata que o arquipélago da Madeira está muito longe de registar pelo menos um sismo por dia, independentemente da intensidade. Aliás, no período referido, nem chega a um por semana. É, mais precisamente, uma média de um sismo a cada 7,69 dias.

Assim, avaliamos como falsa a afirmação que diz haver sismos diários à volta da Madeira. Mesmo numa avaliação não literal da afirmação, o resultado seria o mesmo, falsa.

“Todos os dias há sismos à volta da Ilha. Porquê espalhar o alarme social?” - A. Castro, no Facebook do DIÁRIO