Por trás das promessas e dos apertos de mão, aqui fica um resumo e uma apreciação, subjectiva, como não poderia deixar de ser, do percurso de um partido novo na Madeira - Nova Direita - que quis marcar a diferença nas Regionais 2025, mas que esbarrou numa campanha-contra-um-só-homem (Albuquerque) rumo a umas eleições que se perspectivam muito divididas sobretudo entre dois blocos: PSD de um lado e PS-JPP do outro, com o Chega como pretenso fiel da balança, a fazer fé na sondagem da Aximage para o DIÁRIO e a TSF-Madeira.
Ora, em Janeiro de 2025, quando Paulo Azevedo foi confirmado como cabeça-de-lista pelo partido Nova Direita às eleições Regionais da Madeira, prometeu uma "política agressiva" que, segundo suas próprias palavras, fazia falta na Região porque "paninhos quentes nas feridas não resolvem o problema".
Este homem de 50 anos, que admitiu gostar de desafios, iniciou ali uma jornada de dois meses que culminará este domingo, data das eleições que vão definir, em princípio, o futuro político da Região.
A génese de uma campanha
"Fico triste ao ver que a terra onde nasci está nas mãos de pessoas que nada fazem pelo futuro dos jovens de cá e desprezam os velhinhos que muito lutaram pela autonomia", afirmou Paulo Azevedo em Janeiro, estabelecendo desde logo o tom emocional, mas firme, que permearia toda a sua campanha.
Com o objectivo declarado de conquistar um lugar na Assembleia Legislativa Regional, o candidato da Nova Direita sempre afirmou que só falaria de coligações após o resultado das urnas, focando-se exclusivamente em levar a sua mensagem aos eleitores madeirenses.
Uma ilha pintada de "azul"
Com o arranque da campanha, as actividades intensificaram-se em Março. No dia 10, o Caniçal "amanheceu pintado de azul", como descreveu o próprio partido. Os pescadores locais, que se diziam "esquecidos e desacreditados", ouviram do Nova Direita propostas concretas, como o aumento das quotas de pesca.
José Franco, porta-voz da Nova Direita Madeira, resumiu o sentimento encontrado nas ruas: "As pessoas estão descontentes com a política na Ilha. Estão descrentes, desiludidos com a política, com os políticos e com as inúmeras promessas não cumpridas."
Saúde e habitação: duas das bandeiras da campanha
A 11 de Março, ao percorrer as zonas do Caniço e do Garajau, em Santa Cruz, Paulo Azevedo definiu claramente dois dos temas centrais da sua campanha: a falta de habitação acessível e os problemas no sistema de saúde.
"Não podemos continuar a aceitar promessas vazias, mas precisamos de soluções rápidas e concretas", afirmou o candidato, propondo alternativas como a construção modular, que segundo o cabeça-de-lista poderia entregar novas casas em apenas seis meses.
Descentralização e desenvolvimento rural
Na Ribeira Brava, a 13 de Março, o partido apresentou a sua visão para o desenvolvimento económico da ilha, criticando a concentração de investimentos no Funchal.
"A Madeira não pode continuar a concentrar todo o investimento no Funchal. Precisamos de criar incentivos para que novas empresas e serviços se instalem no interior da ilha", defendeu Paulo Azevedo, propondo a criação de polos comerciais fora do centro urbano para estimular o fluxo de pessoas e negócios.
Denúncias e problemas sociais
A campanha não se limitou a propostas. A 14 de Março, a Nova Direita denunciou casos de perseguição política a famílias de São Roque e relatos de 'bullying' na Universidade da Madeira, envolvendo um professor estrangeiro e alunos. Um dos momentos em que tiverem mais atenção nas redes sociais.
Educação e combate às drogas
O ensino profissional recebeu destaque no dia 17 de Março, quando Azevedo visitou a escola profissional Francisco Fernandes, em São Martinho.
"Precisamos de formar mais técnicos especializados – electricistas, mecânicos, pedreiros, pintores – porque já estamos a enfrentar uma escassez grave em várias profissões essenciais", defendeu o candidato, propondo também apoio financeiro para jovens recém-formados que quisessem se fixar na Madeira.
No mesmo dia, ao visitar os bairros das Corelas e Santo Amaro, o partido ouviu preocupações sobre o crescimento das drogas sintéticas e propôs uma política de "tolerância zero" em relação a estupefacientes. Aqui percebeu-se a experiência de Paulo Azevedo a lidar com estes temas, ou não fosse ele um profissional ligado à segurança.
Os esquecidos pelo poder, segundo a Nova Direita
Um dos momentos mais marcantes da campanha ocorreu a 18 de Março, quando o partido visitou os bairros do Falcão, Galeão e Quinta do Leme. Ali, Paulo Azevedo denunciou o "abandono total das infraestruturas" e destacou que, apesar do medo de represálias, muitos residentes manifestaram a intenção de exigir mudança através do voto.
A recta final
Nos últimos dias de campanha, Paulo Azevedo questionou a credibilidade das sondagens, classificando-as como "falsas" e enfatizando que "as sondagens valem o que valem". Para ele, a verdadeira medida do apoio popular vem do contacto directo com os cidadãos.
Esta quinta-feira, 20 de Março, o candidato regressou à Baixa do Funchal para reforçar o apelo ao voto: "Estamos na rua para apelar ao voto. O nosso foco é garantir que os madeirenses não ficam em casa, porque se não houver mobilização, tudo continuará na mesma."
O apoio da líder nacional deu conforto
Durante várias iniciativas, a líder nacional do partido, Ossanda Liber, acompanhou a candidatura da Nova Direita na Madeira.
E mesmo quando não veio à Madeira, esteve sempre muito activa no Instagram, onde se descreve como uma mulher conservadora, mãe de quatro e a candidata da Nova Direita à Câmara Municipal de Lisboa.
Hoje é o último dia
Hoje, 21 de Março, último dia de campanha, a Nova Direita tem prevista uma caravana que percorrerá várias localidades da ilha. Começará na Universidade da Madeira, no Tecnópolo do Funchal, seguindo depois para o centro do Funchal, Caniço, Santa Cruz e Machico. À tarde, a caravana passará por Câmara de Lobos e Ribeira Brava, e a noite culminará com um jantar-comício no restaurante A Parreira, no Funchal.
À primeira vez que concorre às Regionais, ninguém esperaria mais
Independentemente do resultado das urnas no dia 23 de Março, a campanha da Nova Direita procurou deixar a sua marca não na política madeirense, mas junto do eleitorado que contactou, com todas as limitações conhecidas de um partido 'pequeno'.
Com um discurso que misturou críticas contundentes ao 'status' quo e propostas que considera inovadoras, Paulo Azevedo procurou construir uma narrativa de proximidade com o eleitorado.
"A Nova Direita é a única verdadeira alternativa e estamos aqui para servir a população, não para nos servirmos dela", repetiu várias vezes durante a campanha.
Entre projectos de habitação, planos para a saúde e propostas de descentralização, a Nova Direita encerra a sua campanha com a convicção de ter dado voz a muitos madeirenses que, segundo o partido, se sentiam esquecidos pelo poder estabelecido.
Agora, resta aguardar a decisão das urnas.