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Regionais 2025 Madeira

Tresloucados

Ex-jornalista do DIÁRIO, Filipe Sousa, mede a temperatura politica no terceiro dia de campanha

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Voltaire escreveu que devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas do que pelas respostas.

Por isso, no desafio lançado pelo diretor do DIÁRIO para escrever neste barómetro de campanha, resolvi questionar-me, em vez de optar por dissertações políticas, até porque o ‘bichinho’ jornalístico continua bem vivo, provavelmente mais do que nunca, perante os acontecimentos que vou observando.

O filósofo iluminista francês também sublinhou que somos todos malucos. E que quem não quer ver malucos tem de partir os espelhos. De facto, andamos todos um pouco… ‘tresloucados’ e não somente ‘deslocados’, como tão bem cantaram os NAPA.

A jovem banda, que nos vai representar no Festival da Eurovisão, entendeu cedo e perfeitamente o simbolismo do ‘ser madeirense’, algo que não se explica e que só se sente. E a harmonia que compuseram e escreveram, que desperta a paixão pela minha terra, o desejo de voltar sempre a casa, deveria servir, neste momento, de exemplo e mote para a restante batalha eleitoral que nos atiraram para as mãos.

Saberão os candidatos o que é o amor à Madeira? À Autonomia? Desconfio, caso contrário não optavam pelos constantes jogos sujos, discursos de vitimização e ataques pessoais desonestos.

Não seria mais sensato se os candidatos discutissem ideias em vez da obsessiva mania pelas promessas vãs e decisões inconsequentes?

Quem ganhará com tudo isto? A ‘besta’ da abstenção, para a qual há cada vez menos antídoto. E porquê? Porque andamos tresloucados, deslocados e esquecidos do que é mais importante: a Madeira e os madeirenses!

Um apelo final ao voto. Valerá sempre a pena. É um ato de democracia, que foi tão difícil de conquistar. Caro leitor, vá lá e deixe a sua cruzinha…

Já todos sabiam que assim que o ‘tresloucado’ Presidente da República marcou eleições antecipadas, que a campanha eleitoral ficaria marcada pelas implosões internas. E, confirmou-se, em todos os partidos que tinham assento parlamentar!

No PSD, por causa de ressabiamentos e da justiça, que só aponta e não dispara conclusões; no PS, pela total desorientação e consciência da ultrapassagem pela direita dos ‘verdes’; no CDS, porque continua a querer ir com todos; no Chega, porque o líder é uma mera marioneta de André Ventura e tudo fez para afastar quem lhe fazia sombra ; no IL, porquanto Nuno Morna não tem ‘peso’ à altura; no JPP, onde Abel tenta ressuscitar Caim, depois de o ter matado à frente da família e amigos, o que muitos se recusam em esquecer; e no PAN, porque o discurso ficou vulgarizado.

Nunca devemos subestimar um movimento populista, porque as emoções podem persuadir muito mais do que os pensamentos mais nobres. É um dilema que vivemos presentemente. Seremos, portanto, capazes de nos lembrarmos das malas, dos alegados abusos sexuais de menores, das perseguições internas, das ameaças, das irresponsabilidades políticas ou da irracionalidade no momento da decisão?

Temos o dever de pelo menos nos questionar e até de perguntar a quem tanto beneficiou do dinheiro dos contribuintes madeirenses, para estudar nos Estados Unidos ou para escrever livros - e que hoje quer fazer frente aos que diz sobreviverem alapados ao Estado -, se irá devolver as verbas que tanto lhe deram jeito num passado bem recente quando andava de laranja, bem vivo, ao peito.

Os discursos de vitimização são estratégias de comunicação, em que uns assumem ou projetam o papel de vítimas para justificarem ações, ganhar empatia e evitar responsabilidades. Vem isto a propósito da posição (ou falta dela) de muitas figuras regionais e ex-governantes com responsabilidades políticas no passado. Será verdade que andam a apelar ao voto em partidos dos quais não são militantes? Convinha esclarecer este assunto e marcar uma posição. O voto nulo e o voto em branco também contam para diminuir o ‘poder’ da abstenção. Portanto, se houver uma réstia de dignidade humana, digam em quem vão votar. Branco, laranja, verde, rosa, amarelo, vermelho, azul… nulo? Façam a sua justiça. Mas assumam-na, para evitar o ‘alimentar’ boatos.

Os cartazes são uma ‘praga’ mesmo fora dos períodos eleitorais. Uma volta pelos espaços públicos mais emblemáticos da nossa Ilha permite constatar o facto. É uma realidade da qual ninguém se livra. Todavia, a questão fulcral, hoje, não é o impacto visual, mas sim, os limites da mesma propaganda, bem evidente no ‘tresloucado’ cartaz que o PS Madeira colocou à entrada do Aeroporto de Lisboa. A falta de sentido de Estado e o imoral ataque ao ‘ser madeirense’ foi de tal ordem que, até, envergonhou muitos socialistas regionais. Há quem diga que toda a publicidade é boa publicidade, mas aqui o tiro na ‘careca’, perdão, nos pés, deixou um buraco sem fundo, que trará duras consequências e, certamente, um dos piores resultados da história ao PS Madeira.