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Regionais 2025 Madeira

Entre saltos e reviravoltas

O DIÁRIO continua a apresentar o perfil dos cabeças-de-lista às eleições de 23 de Março. O de hoje é do líder do PS-Madeira

Paulo Cafôfo impôs a primeira derrota ao PSD no Funchal. Foi em 2013, mas haveria de ser repetida em 2017, igualmente com Cafôfo. Não o fez sozinho. Conseguiu-o através de uma coligação de partidos, liderada pelo PS e a seu (do PS) convite. Mas o percurso político de Paulo Cafôfo começou antes, bem antes.

O professor de História, da escola do Campanário, era vice-presidente do SPM – Sindicato dos Professores da Madeira, na altura liderado por Marília Azevedo.

Em Setembro de 2011, Paulo Cafôfo pediu a demissão do cargo, só o tornando público mais tarde, em meados de Outubro. A razão, que alegou, foi a discordância com o modelo adoptado para a inauguração da (então) nova sede do SPM.

O acto contou com o presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, em pleno período eleitoral.

"Hoje regressei à escola. Depois da renúncia ao cargo de vice-coordenador da direcção do Sindicato dos Professores da Madeira, solicitada a 27 de Setembro, mas só agora deferida de modo a que não interferisse com a inauguração da sede/centro de formação do SPM, volto ao lugar onde ocorrem as mais importantes mudanças: a escola." Foi desta forma que Paulo Cafôfo anunciou, a 18 de Outubro, no Facebook, a sua demissão do cargo de vice-coordenador do SPM.

Mas já antes, Cafôfo assumiu posições políticas vincadas, ainda que não partidárias. Fazia-o no seu blog ‘Besoirar’, entretanto retirado de on-line.

Uma consulta às publicações, por exemplo de 2009, evidencia tais posições. Eis alguns títulos e trechos que o ilustram:

- “O Presidente do Governo Regional é efectivamente um mestre na arte de dividir para bem reinar” – 30 de Setembro de 2009;

- “No PSD já se afiam as facas” – 29 de Setembro de 2009;

- “Porque não quero maiorias absolutas (…). Dizia o Professor André Freire do ISCTE, que a qualidade da democracia é tanto mais fraca quanto maior for a maioria absoluta que governa” – 11 de Setembro de 2009;

- “A política partidária madeirense deu um nó! Os dois principais partidos políticos PSD e PS, encontram-se com lideranças em efervescência” – 24 de Abril de 2009;

- “Muito sinceramente pensei em fechar este espaço de intervenção cívica. Aqui tenho elaborado a minha leitura dos acontecimentos quotidianos do país, e mais particularmente desta Região. Acontece que por vezes, o que neste território se passa é tão pobre e repetitivo, que me aborrece por vezes estar a ampliar cenas déjà vu. É uma saga, tipo Rambo I, II, III, IV, e por aí adiante...” – 16 de Março de 2009.

Não o fez, não desistiu do espaço naquela altura.

Em 2012, foi convidado pelo PS para integrar o Laboratório de Ideias da Madeira, o que considera ter sido o início da sua “participação política activa”.

No ano seguinte, pela mão do presidente Victor Freitas, foi indicado pelo PS para candidato à presidência da CMF, cargo para que viria a ser eleito a 29 de Setembro de 2013.

Quatro anos mais tarde, a 1 de Outubro de 2017, foi novamente eleito, desta feita com uma votação reforçada, tendo obtido maioria absoluta.

Durante o tempo em que foi presidente da CMF, chegou à direcção da Associação de Municípios da Madeira (AMRAM) e da Confederação dos Municípios Ultraperiféricos (CMU).

Embalado pelos bons resultados autárquicos e pelo desgaste de Miguel Albuquerque, que enfrentava mínimos históricos de popularidade, Paulo Cafôfo e o PS entenderam que estavam reunidas as condições para ganhar as eleições regionais de 2019 e assumir o Governo Regional.

Para isso, deixou a presidência da CMF, em Junho de 2019, para assumir a candidatura à presidência do Governo Regional, sendo, com esse objectivo, cabeça-de-lista do PS, nas eleições legislativas regionais daquele ano.

A 22 de Setembro de 2019, o PS alcançou o melhor resultado, com 51.207 votos e 19 deputados (o maior número na actual configuração parlamentar), mas o PSD obteve 56.449 votos e 19 deputados. PSD e CDS, que obtivera 3 deputados, coligaram-se e o PS ficou arredado do poder.

No dia 25 de Julho de 2020, foi eleito presidente do PS e assim permaneceu até ao fim de Fevereiro de 2022, tendo substituído no cargo por Sérgio Gonçalves. Voltaria a ser eleito presidente do PS-M a 2 de Dezembro de 2023 e reeleito a 31 de Janeiro passado (2025).

Pelo caminho, foi secretário de Estado das Comunidades Portugueses, a convite do Governo de António Costa, de Março de 2022 até ao final da legislatura, Abril de 2024. Foi o cabeça-de-lista pelo círculo da Madeira nas eleições legislativas nacionais de 10 de Março de 2024.

O regresso à liderança do PS deu-se após um mau resultado eleitoral, quando os socialistas passam de 19 para 11 deputados. No entanto, nas eleições de 26 de Maio do ano passado, Paulo Cafôfo não conseguiu melhor. Sob a sua liderança e como cabeça-de lista, o PS obteve 28.981 votos e 11 deputados.

É desse patamar que parte para as eleições de 23 de Março próximo.

As origens

Paulo Cafôfo nasceu na freguesia de Santa Luzia, no Funchal, no dia 18 de Maio de 1971.

Academicamente, andou no Convento de Santa Clara, passou pelo Colégio de Santa Teresinha, Salesianos e APEL, antes de, como a sua mãe, se licenciar em História, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Depois foi professor em várias escolas da Região e integrou vários Conselhos Executivos e Pedagógicos.

Paulo Cafôfo tem dois filhos e é também conhecido por aderir a algumas causas, como a animal e a ambiental. Nas redes sociais, destacam-se os temas culturais, históricos e regionais, mas também os ‘amigos de estimação’.

É uma pessoa que não deixa indiferente quem com ele convive. Suscita amores e ódios, mas não indiferença.

Paulo Cafôfo tem demonstrado, na vida política, características felinas: agilidade, tenacidade e capacidade de cair sempre de pé.