Roberto Almada é figura incontornável do Bloco de Esquerda na Madeira. Construiu o percurso na política à base da resistência e da resiliência, expondo as desigualdades sociais e denunciando os problemas reais da população tentando capitalizar com a sua determinação (re)conquistas para o BE, designadamente a representação parlamentar sempre que esta foi perdida. Muitas vezes ouvia-se nos corredores da política que era uma voz incómoda.
Iniciou a sua vida profissional em 1989, com apenas 19 anos, num lar de idosos, uma experiência onde terá aprendido cedo que cuidar dos outros é uma das tarefas mais nobres que podemos ter. Essa experiência terá sido determinante para o seu percurso, levando-o a tirar o curso técnico-profissional de Educador Social e, mais tarde, a trabalhar com crianças e jovens no antigo Centro Polivalente do Funchal, hoje Estabelecimento Vilamar.
Mais tarde licenciou-se em Ciências da Educação na Universidade da Madeira, ingressando depois na carreira de Técnico Superior de Educação no Instituto de Segurança Social. Acredita, piamente, que o trabalho mantém ligado à realidade da população: “Os deputados não devem perder a ligação com o mundo do trabalho e com a vida concreta de cada dia. Tenho a minha profissão, da qual muito gosto, e porque sinto os problemas de quem trabalha sinto que posso ser mais útil na luta política no sentido de apresentar propostas e ter intervenções que ajudem na resolução dos problemas das pessoas”, diz-nos.
Mas foi na antiga União Democrática Popular (UDP) que deu os primeiros passos na militância política, incentivado por Paulo Martins, a quem reconhece um papel fundamental na sua formação política e da qual também não esquece Guida Vieira ou Rodrigo Trancoso, parceiro de bancada quando, em 2019, juntos, foram eleitos deputados pelo Bloco. “O melhor resultado de sempre”, recorda com saudosismo esse êxito.
Em 2002 que tornou-se deputado pela primeira vez, substituindo Paulo Martins ao abrigo da política de rotatividade. Terá confirmado que a política não é um jogo de vaidades, mas um compromisso sério com as pessoas.
Com a integração da UDP no Bloco de Esquerda em 2004, Almada tornou-se o primeiro deputado do BE na Assembleia Legislativa da Madeira. Desde então, passou a ser olhado como uma das figuras mais marcantes do partido na Região, sendo eleito Coordenador Regional em 2008, cargo que exerceu durante uma década.
“Logo após assumir a liderança do projecto político na Madeira voltei ao parlamento onde cumpri o ano de 2008, 2010 e 2011. Nas eleições regionais de 2011, as primeiras em que o Paulo Martins não foi cabeça-de-lista o BE perdeu a representação parlamentar tendo regressado, nessa altura, novamente, à minha atividade profissional. Todavia, quatro anos volvidos, em 2015, voltei a ser cabeça de lista nas eleições regionais desse ano e fui eleito, com o Rodrigo Trancoso, naquele que foi o melhor resultado do BE Madeira em eleições regionais até hoje”, resume num retrato que era bem mais colorido do que é hoje para os ‘bloquistas’. Roberto Almada, BE
A cada regresso ao parlamento, confessa que leva consigo as vozes de quem luta por uma vida melhor ou de quem se recusa a aceitar a injustiça como destino pautando a trajectória do Bloco na Madeira, feita de avanços e recuos. De alegrias e de tristezas.
Em 2019, após a sua saída da coordenação regional, o partido perdeu representação parlamentar. Em 2023, voltou a encabeçar a candidatura e conseguiu, mais uma vez, devolver ao Bloco a sua voz na Assembleia. Mas, com a dissolução do Governo Regional e a convocação de novas eleições em 2024, o BE voltou a ficar sem representação.
“Não desistir de defender os madeirenses no parlamento e fora dele é o meu objectivo. E essa resistência, essa luta por melhores condições de vida para os nossos conterrâneos e essa resiliência permitiram trazer de volta o Bloco ao palco parlamentar de todas as vezes que ficou sem representação”, Roberto Almada, BE
Agora, por escolha dos militantes, Almada regressa como primeiro candidato do BE às eleições regionais de 23 de Março de 2024. Logo atrás Dina Letra que o convidou para novo desafio. “Não desistir de defender os madeirenses no parlamento e fora dele é o meu objectivo. E essa resistência, essa luta por melhores condições de vida para os nossos conterrâneos e essa resiliência permitiram trazer de volta o Bloco ao palco parlamentar de todas as vezes que ficou sem representação”, expressa convicto que os votos que faltaram no último sufrágio desta vez dará para a sua eleição.
“Sinto que posso ser mais útil na luta política no sentido de apresentar propostas e ter intervenções que ajudem na resolução dos problemas das pessoas. Também por isso, acho que o regresso do Bloco ao parlamento nas próximas eleições é tão importante para as pessoas”, expressa no timbre que o caracteriza colocando a habitação, os salários e pensões dignas, o combate à pobreza e a luta contra a impunidade são algumas das bandeiras que considera essenciais para o futuro da Madeira.
“Quem quer habitação a preços que possamos pagar sabe que pode contar com o Bloco para essa luta. Quem acha que precisamos de melhores salários e pensões, de um combate mais determinado à pobreza e exclusão social, pode contar com o Bloco para essas lutas. Quem acha que é necessário uma posição consequente contra o regime de impunidade nesta terra sabe que pode contar com o Bloco para essa luta”, esta é a convicção que tem guiado Roberto ao longo de mais de duas décadas de luta política na Madeira. Roberto Almada, BE
Acredita que o seu partido “é uma voz insubstituível” no parlamento que não usa “truques na mala, perdão, na manga”, porque “olhamos sempre para o futuro com a determinação de quem sabe que não pode desistir”, observa num misto de ironia às notícias mais recentes.
Este é o retrato do cabeça de lista do BE às próximas regionais e, já agora, se por alguma razão o caro Leitor julgou que Roberto Almada sempre padeceu de calvície, a próxima imagem, prova que afinal foi um menino de cabelo farto e loiro - "quem diria", reage com humor e simultaneamente ouvindo-se um sorriso do outro lado do telemóvel.