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Desporto

Pinto da Costa madeirense

Conheça alguns momentos de uma forte ligação à Madeira do presidente portista que, mais do que amigos, tinha "irmãos" na Região

"Qualquer indivíduo que venha de fora sente-se em casa na Madeira", disse ao DIÁRIO em 2009

A relação de Pinto da Costa com a Região, onde se sentia em casa, era alimentada com frequência. As amizades cultivavam-se com regularidade e naturalidade. Nos jantares informais. Nas cerimónias oficiais. Nas sessões solenes e nos estádios. Com os portistas. Mas não só. Tanto que na sua última obra 'Azul até ao Fim' há uma gratidão partilhada aos "irmãos" da Madeira.

O "irmão" mais chegado é claramente o antigo presidente do Marítimo e empresário, António Henriques, seu compadre, que era presença assídua junto do presidente do portista, nos momentos de glória, bem como nesta fase difícil da vida. Pinto da Costa será para sempre padrinho da sua filha.  

A figura marcante do futebol mundial tinha ainda na Região um grupo de antigos colegas, mas quase todos falecidos. José Miguel Mendonça, antigo presidente da ALM, é dos poucos vivos desse grupo.

Em Dezembro de 2004, em plena Quinta Vigia,  Pinto da Costa ofereceu o livro ao seu "amigo de 50 anos" e para que não houvesse mal entendidos, também fez rasgados elogios a Jardim, deixando-lhe uma dedicatória: "Com a minha sincera homenagem ao doutor Alberto João Jardim pelo seu carácter, pela sua frontalidade e pela sua fantástica obra nesta maravilhosa ilha da Madeira, com votos de o poder ver em breve pôr o seu talento ao serviço de todo o Portugal".

Também simpatizava muito com o histórico social-democrata e "eterno delegado na Madeira" António Gil Silva. Sempre que vinha à Região conversavam a sós. Quando  faleceu fez questão de marcar presença na missa de 7.º dia.

Uma memória recordada ao DIÁRIO pelo seu filho João Cunha e Silva, que era por vezes convidado para a tribuna do Dragão, sendo que "o último jogo que vi onde estive com ele foi no ano passado quando demos 5-0 ao Benfica". Mantinham uma relação de amizade "por ser portista, filho de quem era e porque ficou muito contente pelo jantar que lhe organizei aqui na Madeira". Um gesto que o levou a ser citado na última obra do eterno presidente portista.

Nesse repasto ocorrido em Julho de 2022 no Lagar estiveram 324 portistas. Pinto da Costa chorou comovido quando ouviu palavras de admiração. Mas sobretudo quando sentiu que a sua surpresa era comparável à conquista de um título. 

João Cunha e Silva pediu-lhe para trazer as tacas de Portugal e de campeão nacional ganhas na temporada 2021-2022. Só que "não era possível tirá-las do museu, nunca faziam isso". O certo é que fez a surpresa e trouxe as duas. "Foi uma festa enorme. Toda a gente a querer tirar fotos com ele e com as taças", recorda.

"Quando o ouvi dizer bem da minha terra"

A 3 de Janeiro de 2009, Pinto da Costa conta ao DIÁRIO como tentou fazer as pazes entre os presidentes do Marítimo e do Nacional, Carlos Pereira e Rui Alves. Falava com ambos e  sabia das divergências. 

"Tenho pena. Custa a compreender que dois indivíduos que estão à frente dos principais clubes da Madeira não tenham um bom relacionamento, numa terra que tem um povo tão simpático e cordial como são os madeirenses", referiu na entrevista que pode reler aqui.

Filipe Sousa era jornalista do DIÁRIO e teve direito a prenda, mesmo que já estivéssemos nos primeiros dias do ano novo. Foi beber água com Pinto da Costa e ficou rendido. No dia da entrevista, publica este desabafo:

Quem me conhece sabe que não sou portista mas que tenho o maior respeito por Pinto da Costa... Gosto de Pinto da Costa porque sempre defendeu a ‘sua dama’, o FC Porto, a sua Região e as suas gentes, mesmo que por vezes de forma pouco prudente e talvez desonesta. Ontem tive finalmente o privilégio de um ‘tête-à-tête’ com o presidente de todos os portistas e as minhas expectativas não saíram goradas. Pediu-me desculpa por ter demorado, facto que registei com agrado, e lá partimos para uma entrevista ‘controlada’, porque insiste em dizer que não há ponto final nos ‘apitos’ que por aí andam. Mais satisfeito e orgulhoso fiquei quando o ouvi dizer bem da minha terra, dos madeirenses, de forma sentida e honesta - pareceu-me. Felizmente só meia dúzia de portistas, como aquele ‘fulano’ que escreveu o Equador, é que dizem mal da Madeira. Só pode ser por inveja ou por estupidez, pois não se pode misturar a árvore - ou será o Jardim? - coma floresta. Filipe Sousa, na crónica 'Nem todos dizem mal de nós', publicada no DIÁRIO de 3 de Janeiro de 2009

Hoje recordou esse momento, em post publicado no Facebook.

Pinto da Costa, que também insultou jornalistas, deixava marcas em que o entrevistava: "Há pessoas que passam sem deixar rasto e outras que aparecem como raios inesperados de luz que nos encandeiam para sempre. Jorge Nuno Pinto da Costa foi das maiores surpresas da minha vida. Tinha-o como um ditador implacável. Encontrei um génio do humor e da conversa inteligente e profunda mas em simultâneo leve e agradável, daquelas que duram horas que parecem segundos", segredou Sandra Felgueiras que com ele conversou demoradamente para a TVI e CNN Portugal em Agosto do ano passado.

A simpatia em pessoa

Pinto da Costa dava-se com quem simpatizava. Que o diga Cristiano Ronaldo, desafiado pelo presidente do FC Porto a chegar aos mil golos. E para lá caminha.

"Sou amigo do Cristiano há muito tempo, desde que ele começou a jogar. É normal que, mesmo que ele jogue em adversários, isso não altere a nossa amizade. Tenho camisolas que o Ronaldo manda desde a sua primeira passagem pelo Manchester United, com uma dedicatória simpática, portanto não há nada pelo facto de ter sido um adversário em termos de clube. Puderam ver a felicidade em estarmos a conversar, foi muito agradável. De quê? São coisas particulares, mas foi muito agradável e espero que ele continue a marcar muitos golos, menos se jogar contra o FC Porto, o que já não é provável. Espero que dure, é um grande nome do futebol português". Pinto da Costa, em Outubro de 2023

Que o diga o Rui Castro que várias vezes conduziu o autocarro portista nas visitas do clube nortenho à Região. Que o digam os inúmeros madeirenses que com ele tiraram fotografias e lhe pediram autógrafos. Quem o disse foi o veterano atleta João Baptista, que faleceu em Março de 2023, com 84 anos, quando foi encorajado pelo presidente a manter-se firme como "pioneiro das ultra-maratonas" na Região.

Jorge Nuno Pinto da Costa foi o dirigente mais titulado do mundo e o que mais tempo esteve na liderança de um clube de futebol. Até ao fim de azul, dedicou mais de 40 anos ao Futebol Clube do Porto. Há três anos que lutava contra um cancro. Morreu ontem aos 87 anos.

A todos os portistas da Madeira, seus amigos e conhecidos, o DIÁRIO apresenta sentidas condolências.