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A tacada

No dia 14 de novembro de 2025, o Governo Regional dos Açores anunciou a alienação dos Campos de Golfe da Batalha e das Furnas, na ilha de São Miguel e do Campo de Golfe da Terceira, na ilha Terceira. O objetivo (inscrito no comunicado do governo) é que estes campos passem a ser “explorados de forma mais eficiente por entidades privadas especializadas”. A decisão demonstra um sentido oposto do assumido no orçamento do PSD na Madeira. Nos Açores reverte-se o caminho da construção e gestão pública dos campos de golf, enquanto na Madeira assistimos a um “all in” na estatização.

Um pouco de história ajuda-nos a compreender a situação. Nos Açores a lógica de administração estatal do golf remonta aos anos 80, com a constituição da VerdeGolf - Campos de Golf dos Açores SA. Este modelo permitiu usar dinheiros públicos para dar ímpeto à ideia de “ilhas de golf”. Muitos dos argumentos que vemos hoje na nossa região foram utilizados nos Açores.

O governo regional do Partido Socialista procurou sair da gestão pública do golf, tendo em 2005 assinado um protocolo de parceria com o grupo luso-irlandês SIRAM/OCEÂNICO. Dentro desse investimento privado foi anunciado o nome de Nick Faldo para a construção de um campo de golf em Santa Maria. Poucos adivinhavam na altura a crise do subprime e das dívidas soberanas, que serviu de argumento para a retirada dos investidores.

Em 2006, o governo do Partido Socialista concretizou a privatização da VerdeGolf, como tinha prometido. Contudo, em 2010, a gestão pública regressou ao golf, através da Ilhas de Valor SA. É de notar que, entretanto, a VerdeGolf tinha acumulado dívidas, as quais acabaram por ser assumidas pelo erário público regional através desta nova entidade.

O Tribunal de Contas efetuou em 2015 uma auditoria à “Exploração e gestão de campos de golfe pela Ilhas de Valor, S.A.” (Relatório N.º 04/2015 – FS/SRATC) a qual revelou um défice de 2,4 milhões de euros entre 2010 e 2013. O Tribunal de Contas revelou ainda que “entre 2010 e 2013, a atividade de exploração dos campos de golfe de São Miguel registou um impacto “pouco favorável” na situação financeira global da Ilhas de Valor, tendo o peso relativo dos rendimentos provenientes dessa atividade passado de 41%, em 2010 e 2011, para 9,7% e 16%, em 2012 e 2013, na sequência do ‘grande aumento’ dos subsídios à exploração” (noticiado por este jornal em 5/7/2015).

Pouco depois, em 2017, o Tribunal Judicial de Ponta Delgada declarou insolvente a Verdegolf - Campos de Golf dos Açores, S.A, que somava dívidas superiores a 48 milhões de euros.

A lição açoriana tem diversas condicionantes, mas demonstra o prejuízo na tacada pública. Pelo que, convém seguir a lição económica de que à iniciativa privada o que é dos privados, ao público o que é de todos.

Votos de bom ano.