Apagar o Natal para não ofender?!

Há uma nova moda nas instituições: apagar o Natal. Não é por falta de luz, nem por contenção orçamental. É para “não ofender”. Desta vez, o alvo é claro: não melindrar o Islão. E não, não compro.

Sou contra.

Não estamos a falar de impor crenças a ninguém. Estamos a falar de abdicar da nossa própria identidade por medo. E medo nunca foi virtude, sempre foi fraqueza disfarçada de virtude.

O Natal não é só religião. É cultura, tradição, memória coletiva. É presépios feitos na escola, árvores decoradas, músicas que atravessam gerações. É o calendário, é o ritmo do ano, é aquilo que nos diz quem somos e de onde vimos. Apagar isto não é “inclusão”. É amnésia cultural.

O argumento é sempre o mesmo: “para não excluir”. Mas repare-se na ironia, para não excluir uns, exclui-se toda uma história. A casa é nossa, mas mudamos os móveis para agradar a quem acabou de chegar. E ainda pedimos desculpa por termos sofá.

Em países islâmicos ninguém abdica do Ramadão para não ofender cristãos. Nem do chamamento à oração. Nem das suas regras, símbolos ou costumes. E fazem muito bem. Respeitam-se a si próprios. Aqui, confundimos respeito com submissão.

Respeitar outras culturas não implica apagar a nossa. Convivência não é silêncio identitário. Integração não é reescrever quem somos para parecer neutros, porque neutro, neste caso, é vazio.

O mais curioso é que muitos muçulmanos nem pedem isto. Vivem, trabalham, convivem e seguem a sua fé sem dramas. Quem se apressa a cancelar o Natal fá-lo mais por culpa ideológica do que por pedido real. É a velha elite moralista a salvar-nos de um problema que não existe.

Uma sociedade que tem vergonha das suas tradições está condenada a ser irrelevante. Quem não sabe afirmar o que é, acaba sempre a ser moldado pelos outros.

Celebrar o Natal não é ofender ninguém. Ofensivo é fingir que a nossa cultura é descartável, negociável, secundária. Não é.

Quem vem por bem é bem-vindo. Mas não nos peçam para desligar as luzes da árvore. Esta casa tem história. E o Natal faz parte dela.

António Rosa Santos