Fome em Gaza terminou mas a insegurança alimentar persiste
A fome em Gaza terminou, mas a maioria da população da Faixa de Gaza continua a enfrentar elevados níveis de insegurança alimentar, afirmou ontem a principal autoridade mundial em crises alimentares.
"Após o cessar-fogo declarado em 10 de outubro de 2025, a análise mais recente indica uma melhoria notável na segurança alimentar e nutricional" na Faixa de Gaza, referiu o novo relatório da Classificação Integrada de Fases da Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), um organismo ligado à ONU, baseado em Roma.
No entanto, a maioria da população da Faixa de Gaza continua a "enfrentar elevados níveis de insegurança alimentar", e a situação mantém-se "crítica", apesar do "acesso facilitado para entregas de alimentos humanitários e comerciais".
"Toda a Faixa de Gaza está classificada em situação de emergência (Fase 4 do IPC) até meados de abril de 2026. Nenhuma área está classificada como estando em situação de fome (Fase 5 do IPC)", referiu o IPC.
De acordo com a previsão do IPC para o período de 01 de dezembro de 2020 a 15 de abril de 2026, "a situação deverá manter-se grave, com aproximadamente 1,6 milhões de pessoas ainda a enfrentar insegurança alimentar a um nível de crise ou pior (Fase 3 do IPC ou superior)".
"Perante provas esmagadoras e inequívocas, até o IPC teve de admitir que não havia fome em Gaza. No entanto, o relatório do IPC é mais uma vez deliberadamente distorcido e não reflete a realidade na Faixa de Gaza", reagiu Oren Marmorstein, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel na rede social X.
"O relatório ignora o volume considerável de ajuda humanitária que entra na Faixa, uma vez que se baseia principalmente em dados relativos aos camiões da ONU, que representam apenas 20% de todos os camiões de ajuda", acrescentou o porta-voz israelita.
A subnutrição não é o único problema em Gaza, sublinhou o IPC, uma vez que "o acesso à água, ao saneamento e à higiene é também muito limitado" e "as condições de vida em habitações sobrelotadas aumentam o risco de epidemias".
Além disso, "mais de 96% das terras agrícolas na Faixa de Gaza foram destruídas ou estão inacessíveis, ou ambas as coisas".
"O gado foi dizimado e as atividades de pesca continuam proibidas. Grande parte das infraestruturas essenciais para o transporte e armazenamento de alimentos importados foram severamente danificadas ou destruídas. O dinheiro é escasso e a taxa de desemprego atingiu os 80%", segundo o IPC.
"A fome em Gaza atingiu níveis alarmantes que poderiam ter sido evitados", afirmou a organização não-governamental (ONG) Oxfam França.
"Israel está a permitir a entrada de muito pouca ajuda e continua a bloquear ativamente os pedidos de dezenas de organizações humanitárias reconhecidas", acrescentou a ONG em comunicado.
Em agosto passado, o IPC declarou o estado de fome em Gaza, o primeiro a atingir o Médio Oriente, atraindo a ira de Israel, que denunciou o anúncio como "baseado em mentiras do Hamas".
Israel iniciou a guerra em Gaza após o ataque do Hamas ao território israelita em 07 de outubro de 2023.