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Avanço da ultradireita europeia

Nos últimos anos, a Europa tem testemunhado o fortalecimento da extrema-direita, o que coloca em causa o equilíbrio das democracias liberais. Deixando para trás o estatuto de forças marginais, estes movimentos afirmam-se como atores relevantes no sistema político europeu, capazes de influenciar de forma direta o debate público e de condicionar a agenda política.

A extrema-direita europeia exprime-se através da rejeição da imigração, crítica à cultura woke, oposição sistemática ao reconhecimento dos direitos da comunidade LGBTI+, reafirmação da identidade nacional face aos efeitos uniformizadores da globalização e contestação ao projeto de integração da União Europeia.

Além disso, o êxito político da ultradireita europeia assenta na sua capacidade de transformar medos coletivos e identidades fragilizadas em instrumentos de mobilização, convertendo o ressentimento social em energia política. Ao capitalizar essas inseguranças, estes movimentos ampliam a sua base de apoio e reconfiguram o espaço público, impondo narrativas e condicionando o futuro das democracias liberais. O crescimento da extrema-direita não decorre apenas do desencanto de parte do eleitorado com a esquerda, mas também de uma reconfiguração profunda da própria direita, obrigada a reposicionar-se perante o avanço destes movimentos. Em resposta, a direita tradicional procura marcar distância ao tratar questões como segurança e imigração dentro dos limites do Estado de direito, procurando dar resposta às inquietações sociais sem abdicar dos princípios democráticos do sistema liberal.

Neste contexto, o principal desafio das forças democráticas reside na capacidade de formular alternativas credíveis e de edificar coligações suficientemente amplas para mobilizar uma base plural e diversa. Só assim poderão contrariar a normalização dos discursos extremistas e salvaguardar os valores da democracia liberal. Para que estas coligações se revelem sustentáveis, devem reconhecer-se 3 princípios: a ascensão da ultradireita não é um fenómeno conjuntural; a unidade democrática não pode limitar-se a uma lógica defensiva de mera rejeição desses movimentos; parte significativa do eleitorado que se aproximou da ultradireita foi movida por medo, frustração e descontentamento.

Em suma, o fortalecimento da extrema-direita na Europa representa uma transformação estrutural que desafia as democracias liberais. Para responder a este fenómeno, as forças democráticas precisam construir coligações inclusivas e oferecer soluções credíveis, transformando medo e descontentamento em confiança nas instituições e reafirmando o pluralismo, a liberdade e a coesão como pilares da ordem política europeia.