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Crónicas

O drama da violência doméstica continua…

Todos os anos por esta altura, chamo à atenção para este flagelo que continua a envenenar a sociedade e nos deve encher de vergonha. No dia 25 de Novembro celebrou-se o “Dia Internacional para a eliminação da violência contra as mulheres”. Na verdade este dia há muito que se devia ter transformado num conceito mais geral em que também aqui os homens fossem incluídos. Acima de tudo queremos que a violência termine e ponto final. Seja com quem for, contra quem ou por que motivos. Se é certo que os números não param de aumentar não será menos verdade que as novas gerações têm maior capacidade e disponibilidade para reportarem os abusos que sofrem e para levarem os seus casos às autoridades e associações de apoio à vítima. Importa ainda assim salientar que nos primeiros nove meses deste ano já se registaram 25.317 ocorrências, o valor mais alto dos últimos sete anos. Até final de Setembro houve em contexto de violência doméstica, 18 mortos, sendo que 16 eram mulheres e 2 homens. Aliás, percentualmente e olhando para os dados dos 10 anos anteriores é nos homens que se regista uma maior subida, passando de 18 para mais de 28%.

É um tema que me toca particularmente. Não que o tenha vivido, felizmente. Sou e sempre fui contra todo e qualquer tipo de violência. Mas quem tem uma mãe e uma irmã que ama ou uma sobrinha que representa a transformação desse amor nos mais novos, têm que se revoltar contra a permanência deste tipo de situações. E se acham que perto de vocês isso não acontece, que é só para os outros, estão redondamente enganados. Relações tóxicas, violentas e obsessivas não escolhem estratos sociais, nem veem carteiras. Não se extinguem nos menos informados nem nos bairros sociais. E à nossa volta, sem o sabermos ou darmos conta, pessoas de quem gostamos e por quem faríamos tudo, vivem este drama. Escolhem o silêncio pela vergonha que sentem ou porque acham que ainda conseguem dar a volta à situação. Que foi só uma vez e que o outro na verdade não é assim. Foi um caso isolado, uma vez sem exemplo. Mas não é. Nunca é. Sofrem por dentro, carregam no corpo marcas e na alma uma dor dilacerante que não se explica. Para além do impacto que é reproduzido nos filhos. Assumir essa desilusão e dar algum tipo de sinal, por mínimo que seja, deve ser por isso razão para a nossa atenção e a nossa presença, sem estigmas, julgamentos ou imposições.

Já tive amigas que me confessaram as suas experiências de uma forma emocionada. Amigas que provavelmente seriam as últimas que eu diria terem passado por tamanha angústia. Meses, anos que se arrastaram com um sentimento aprisionado e uma impotência para reagir que lhes embarga a voz de cada vez que revisitam esse tema. E muitas das vezes nem são as feridas físicas aquelas que demoram mais a sarar. São as psicológicas que deixam um rasto emocional devastador que lhes retira a chama e o prazer de viver. Acho sinceramente heróico, quem consegue fazer das fraquezas forças e assume uma determinada atitude para pôr um fim numa relação abusiva e para afastar quem usa a manipulação disfarçada de boas intenções. Nem imagino o que seja voltar para casa todos os dias, sabendo de antemão que o que vão encontrar é desprezo, guerra, discussão e medo.

Volto por isso a este tema e voltarei, ano após ano. Porque compete a cada um de nós fazer a sua parte e alertar para esta praga que teima em não largar a nossa sociedade. Talvez quem sabe, alguém que me leia possa enfim ganhar coragem e soltar-se dessas amarras ou que quem vislumbre um sinal possa atuar de imediato para tentar resolver a situação. Às vezes é tempo de ir embora, mesmo que no horizonte não pareça existir mais nada. Mesmo que o caminho seja longo e tortuoso. Mais vale tarde do que nunca. Antes que seja tarde demais.

Frases soltas:

A Guiné Bissau, país que me diz muito e onde tenho grandes amigos, vive novamente uma situação política limite. Entre golpes de Estado encenados e uma sede de poder egocêntrica e perigosa, é tempo da comunidade internacional exigir a quem se encontra no poder, a libertação imediata dos presos políticos e o anúncio sem demoras dos resultados eleitorais. Não pode valer tudo num país com imenso potencial mas que vê recorrentemente a sua reputação internacional trespassada por quem pouco pensa no povo e só quer servir os próprios interesses.

Nikolas Ferreira, deputado federal brasileiro foi condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, a pagar 40.000 reais (aproximadamente 6500€) por ter chamado a “uma mulher trans”, de homem. Longe vai o tempo em que quem dizia a verdade não merecia castigo…