Desinformação emocional: manipulação através dos sentimentos
Pessoas mais emotivas e menos racionais têm maior tendência a serem vítimas de desinformação
Temas controversos como a violência de forças policiais, confrontos bélicos, a corrupção política, a entrada de migrantes e refugiados, diferentes ideologias de género e de religião, narrativas sobre as vacinas e outras questões de saúde pública, a crise habitacional e temáticas ambientais, entre outros, são frequentemente explorados emocionalmente com o intuito de despertar sentimentos como indignação, medo, revolta, raiva, esperança ou apoio incondicional.
Recentemente, uma inédita megaoperação policial contra o Comando Vermelho, uma organização criminosa do Rio de Janeiro, Brasil, envolvida em tráfico de droga, assaltos, extorsão e controlo das ‘favelas’, resultou em mais de uma centena de mortos. Visto como uma vitória para a segurança pública, mas também como uma “matança” não autorizada, o incidente provocou posições distintas, com a divulgação de conteúdos, verdadeiros ou deturpados, que provocaram diferentes reações do público, originando polarização. Para gerar mais pânico, conforme deram conta diversos fact-checkers, vários conteúdos desinformativos circularam: divulgação de altos níveis de alerta de segurança, abate de um drone, cerco policial, incêndio de um comboio, encerramento de uma ponte, sequestro de um jornalista, indemnização aos familiares dos mortos, entre outros. Verificou-se também o recurso a imagens e vídeos do passado, assim como ao uso de IA para reproduzir cenas mais chocantes.
Com uma amplificação mediática notável e uma impressionante projeção internacional, as imagens e os vídeos dos corpos que circularam sobretudo nas redes sociais a uma velocidade estonteante despertaram de forma imediata empatia, sentido de justiça ou ódio, originando narrativas de conspiração com discursos de ódio e desconfiança institucional.
Isto acontece porque, ao se moldarem as perceções, consegue-se explorar a vulnerabilidade do público. As emoções podem acelerar julgamentos intuitivos, reduzir a reflexão deliberada e manipular o pensamento crítico. Há, inclusive, vários estudos que comprovam que as pessoas mais emotivas e menos racionais têm maior tendência a serem vítimas de desinformação.
Para colmatar, as plataformas digitais e os algoritmos privilegiam conteúdos emocionais porque geram mais envolvimento, logo mais tráfego e até mesmo mais receitas publicitárias. Quando determinados conteúdos emocionais são partilhados, o comportamento e a reação dos utilizadores dão pistas essenciais, como o número de gostos, os comentários, as partilhas e as republicações. Também a identificação algorítmica de imagens, vídeos, emojis, pontuação e linguagem emocionais, assim como o tempo de visualização dos vídeos e da leitura das publicações são essenciais para avaliar se o conteúdo é emocional.
Perante este cenário, a par ou integrada na importante literacia mediática, que, segundo a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, consiste na competência, conhecimento e compreensão que permitem aos cidadãos aceder e utilizar os meios de comunicação social (internet, redes sociais e meios tradicionais) de forma crítica, eficaz e segura, seria importante promover a literacia emocional, o que nos permitiria distinguir mais facilmente quando estamos a ser manipulados emocionalmente. Desta forma, controlaríamos os nossos impulsos e evitaríamos publicar ou partilhar conteúdos desinformativos.