"Não nos podemos esquecer que o AVC é uma das principais causas de morte na Região"
A neuropsicóloga, Joana Câmara, afirmou que 90% dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) podem ser evitados e adiantou que “o acesso à reabilitação cognitiva [na Região] é ainda muito escasso”
Joana Câmara, neuropsicóloga de profissão, adiantou ao DIÁRIO-Saúde, que as doenças neurológicas têm vindo a aumentar em Portugal, “em grande medida por força do envelhecimento populacional e também devido à carga de determinadas doenças cardio e cerebrovasculares”.
Segundo a profissional de saúde, “não nos podemos esquecer que o AVC é uma das
principais causas de morte e de incapacidade na Região Autónoma da Madeira”,
situação que se estende a todo o país que regista cerca de 25 mil casos por
ano.
A cada hora que passa, estima-se que cerca de três portugueses tenham um AVC. Desses três, um irá sobreviver sem qualquer sequela, outro irá falecer e, o terceiro, irá sobreviver, mas com sequelas que são muitas vezes permanentes. Joana Câmara, neuropsicóloga
Joana Câmara garante que os dados permitem dizer que “o AVC é uma questão de saúde pública muito importante”, adiantando que “cerca de 90% dos casos são preveníveis se gerirmos um conjunto de factores de risco que são modificáveis”.
Hipertensão arterial, diabetes mellitus, consumo de álcool e de tabaco, obesidade e, neste caso, da gordura visceral em concreto, doenças cardíacas e stress, são alguns dos factores de risco, numa lista, que se estima, ser de 11.
A profissional que trabalha directamente com sobreviventes de AVC, explicou em que consiste a reabilitação cognitiva, uma intervenção altamente personalizada, que é baseada na evidência científica e que compreende um conjunto de abordagens e técnicas de intervenção que visam, essencialmente, “optimizar o funcionamento cognitivo, promover o bem-estar, a qualidade de vida e, em última instância, a funcionalidade de pessoas que, neste caso, sobrevivem a lesões cerebrais adquiridas”.
Levada a comentar quais são as principais dificuldades que encontra na prática da reabilitação cognitiva, adiantou que se prende pelo facto de “não estar muito difundida no nosso Serviço Regional de Saúde” e, que quando existem programas de reabilitação cognitiva disponíveis “são limitados no tempo” o que gera uma longa lista de espera de pessoas que ficam a aguardar por uma vaga e “depois já não iniciam a reabilitação tão precocemente quanto deveriam, alterando, desta forma, o tipo de abordagem terapêutica.”
Os programas, ao serem escassos e limitados no tempo, acabam por ser menos intensivos e têm poucas sessões. O que faz com que as pessoas depois, quando os programas terminam, sintam que foram quase que abandonadas, por assim dizer, porque continuam com dificuldades no dia a dia e precisam de apoio.
Questionada sobre como classifica o acesso à reabilitação cognitiva na Madeira, Joana Câmara sublinhou que é “ainda muito escasso”.
“Isso prende-se com a falta de neuropsicólogos de intervenção no hospital, nas unidades de cuidados continuados e também no sector privado. Se nós pensarmos numa equipa multidisciplinar que intervém num programa de reabilitação no pós-AVC, pensamos num programa que integra vários profissionais de saúde, desde fisiatras, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, terapeutas da fala, fisioterapeutas, mas os neuropsicólogos de intervenção nestas equipas são uma raridade, simplesmente pode haver um ou nenhum”, frisou.
Na entrevista, presente no canal do DIÁRIO, no YouTube, explicou ainda que a aposta deve centrar-se na “integração de neuropsicólogos de intervenção no sector público e no sector privado para conseguirmos dar uma resposta mais aprimorada, mais efectiva a pessoas que têm défices multidomínio na sequência de determinadas doenças neurológicas, por forma a conseguirmos responder a estas necessidades que existem na prática”.
Saiba como pode gerar uma maior reserva cognitiva, “uma
espécie de escudo que protege o cérebro das doenças neurológicas e que o torna mais
resiliente face ao dano ou à lesão cerebral”.
“Pessoas com maior reserva cognitiva e com lesão no cérebro, carga patológica no cérebro, podem não manifestar sintomas clínicos compatíveis com essas lesões em vida e, se fizer uma avaliação cognitiva, podem ter, precisamente, resultados normais. Portanto, mais reserva cognitiva significa mais saúde do cérebro e mais resistência e resiliência neuronal”, finalizou a neuropsicóloga.