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Fact Check Madeira

Albuquerque mentiu sobre ligação marítima entre Madeira e Porto Santo?

CDU acusou, ontem, o presidente do Governo Regional de não concretizar orientação estratégica definida em 2015

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No contexto de iniciativa política promovida, ontem, no Porto do Funchal, a CDU veio a público "denunciar mais uma das mentiras do Governo de Miguel Albuquerque”, desta feita relacionada com a mobilidade marítima de passageiros entre a ilha da Madeira e a ilha do Porto Santo.

CDU denuncia "mentiras" de Albuquerque na ligação marítima entre Madeira e Porto Santo

A CDU esteve, hoje, no Porto do Funchal, para "denunciar mais uma das mentiras do Governo de Miguel Albuquerque no que diz respeito à mobilidade marítima de passageiros entre a ilha da Madeira e a ilha do Porto Santo". 

Na ocasião, Ricardo Lume afirmou que no primeiro Governo de Miguel Albuquerque, em 2015, constava no Programa do XII Governo Regional, como orientação estratégica para o Porto Santo “reforçar as acessibilidades externas mantendo-se a ligação marítima durante todo o ano e sem interrupções”. A medida – realçou o dirigente da CDU – “não passou do papel”.

Será esta acusação verdadeira?

O DIÁRIO foi consultar o Programa do XII Governo Regional da Madeira (2015-2019). Ora na página 11 do referido documento, na secção ‘Transportes e Turismo’, inserida no capítulo II, dedicado precisamente ao Porto Santo, é expresso o objectivo de “reforçar as acessibilidades externas mantendo-se a ligação marítima durante todo o ano e sem interrupções”.

Além disso, o Programa do XII Governo Regional realça que o executivo “entendeu destacar o Porto Santo na sua orgânica, chamando-o à tutela da Presidência e criando ao mesmo tempo, no seu programa, um conjunto de medidas sustentadas e integradas para o desenvolvimento da ilha”.

Estas orientações estratégicas, na qual se enquadra a medida acima mencionada, estabeleciam – “perante um cenário de dificuldades agravadas pela dupla insularidade” – os seguintes objectivos:

  • “Esbater esse primeiro handicap das gentes porto-santenses";
  • "Promoção de medidas de incentivo às mobilidades inter-ilhas e com a plataforma continental de forma a criar massa crítica suficiente para alavancar a economia local, quer seja através do aumento do turismo interno, daquele que é originário do continente português, bem como o incremento das operações turísticas já existentes com várias cidades europeias, alargando-as no tempo e no número de turistas desembarcados no Aeroporto de Porto Santo";
  • "Criação de incentivos à inovação económica, com especial realce à área agroalimentar e à de prestação de serviços periféricos ao turismo; promoção de medidas de apoio ao emprego e ao aumento de formação e especialização técnica dos desempregados";
  • "Potenciação e salvaguarda da defesa da autenticidade da ilha de Porto Santo, promovendo políticas sustentadas de defesa do património natural, cultural e ambiental";
  • Promoção do destino e da marca Porto Santo”.

Descarregue o documento:

A mesma preocupação com a dupla insularidade do Porto Santo seria expressa nos programas do XIII e XIV Governos Regionais, pese embora sem referência directa à ligação marítima com a Madeira:

Na sua intervenção, a CDU apontou ainda que "dez anos depois o Governo Regional continua sem uma actuação para conter os efeitos da dupla insularidade na ilha do Porto Santo, principalmente no mês de Janeiro, pois apesar de muitas promessas, que o Porto Santo teria uma ligação ferry todo o ano”.

Com efeito, e conforme noticiou o DIÁRIO, este ano o navio Lobo Marinho (que faz o transporte regular marítimo de passageiros e mercadorias inter-ilhas) iniciou a sua habitual paragem para manutenção a 8 de Janeiro.

Lobo Marinho vai para manutenção para se tornar mais ecológico

A manchete deste domingo, 5 de Janeiro, revela que Intervenção histórica torna Lobo Marinho mais ecológico. O navio-ferry irá realizar "doca de manutenção anual" que "custará 5 milhões de euros" e "arranca quarta-feira e dura seis semanas. Permitirá reduzir a emissão de 3,2 mil toneladas de CO2 por ano. Viagens inter-ilhas deixam de ter paragem semanal entre Maio e Outubro". leia todas as novidades na página 3.

De ressalvar que durante o período de doca, a Porto Santo Line assumiu a responsabilidade de afretar um navio de carga contentorizada que realizará uma viagem semanal entre a Madeira e o Porto Santo, assegurando o total abastecimento da Ilha Dourada. Adicionalmente, o armador assegura o envio limitado de produtos frescos, por via aérea, no final de cada semana.

Embora não esteja obrigada a tal, à semelhança dos últimos anos, a empresa tomou também a iniciativa de proporcionar o transporte de 50 passageiros por dia (residentes no Porto Santo), por via aérea, pagando a mesma tarifa, que se cifra nos 10,70 euros, como se estivessem a viajar no Lobo Marinho, suportando a Porto Santo Line o diferencial de preço, em relação ao custo da viagem aérea.

A verdade é que o Governo Regional está mais preocupado em defender os interesses económicos e estratégicos da empresa que assegura o transporte marítimo entre a Madeira e o Porto Santo do que garantir o princípio da continuidade territorial aos porto-santenses Ricardo Lume, CDU

Refira-se ainda, a propósito, que o XV Programa de Governo (aprovado a 24 de Julho de 2024, com 22 votos favoráveis do PSD, do CDS-PP e do PAN, 21 votos contra do PS, do JPP e de uma deputada do Chega, e quatro abstenções do Chega e da IL) mantém como orientação estratégica em matéria de ‘Transportes e Mobilidade Marítima’ o objectivo de “promover uma alternativa de passageiros e carga durante a interrupção anual da linha marítima Madeira - Porto Santo”.

Dir-se-ia um passo atrás na ‘velha meta’, assumida em 2015, de garantir “ligação marítima durante todo o ano e sem interrupções”.

"No ano de 2015, no primeiro Governo de Miguel Albuquerque, constava no Programa do XII Governo Regional, como orientação estratégica para o Porto Santo 'Reforçar as acessibilidades externas mantendo-se a ligação marítima durante todo o ano e sem interrupções'. [No entanto] esta orientação estratégica não passou do papel" - Dirigente da CDU, Ricardo Lume