Terá estado a Madeira nos planos de anexação dos EUA para uma nova ordem mundial?
Nos dias em que os Estados Unidos da América se preparavam para mudar oficialmente para um novo presidente, com o regresso de Donald Trump à Casa Branca já nesta segunda-feira, 20 de Janeiro de 2025, tendo em conta algumas ideias que este vem lançando de uma possível anexação ou compra da Gronelândia, inclusive juntar o Canadá aos 50 estados actuais da maior potência económica e militar do Mundo, além de desejar o regresso do Canal do Panamá à posse do 'império' norte-americano, surgiu nas redes sociais uma imagem de um mapa que revela os planos de um passado bem distante, elaborado antes mesmo deste ter nascido (1946). Mas, sabia que a Madeira esteve numa espécie de plano de domínio global de grandes potências? E não, não ficaria na posse portuguesa.
Ora é precisamente a II Guerra Mundial que define o referido documento histórico. Nesse mapa-mundo, elaborado em 1941 por um ideólogo, hoje em dia anónimo, Maurice Gomberg, fez-se um esboço do que poderia ser o pós-Guerra, com "os EUA a assumirem a liderança mundial para o estabelecimento de uma Nova Ordem Moral Mundial para paz permanente, liberdade, justiça, segurança e reconstrução mundial", refere uma nota da casa de leilões Sotheby's, que em tempos colocou esta peça de museu à venda.
Impresso em Filadélfia em 1942, três anos antes do fim da II Guerra Mundial e pouco antes da adopção da Carta das Nações Unidas pelos Estados Unidos, o documento passou por várias mãos e hoje tem inclusive uma referência online na Biblioteca do Congresso dos EUA, em Washington.
"Abaixo do mapa estão impressas nada menos que quarenta e uma previsões do formato futuro do mundo para paz permanente, liberdade, justiça, segurança e reconstrução mundial. No momento em que escrevo isto, cerca de cinquenta anos depois, muitas se concretizaram", refere o último dono conhecido, Lorde Wardington, membro já falecido da Casa dos Lordes dio Reino Unido, que o recebera de presente de Stephen C. Massey, um avaliador de antiguidades e consultor independente baseado em Nova York. Com mais de 50 anos de experiência na área de livros impressos raros, manuscritos, cartas autografadas e arquivos. Um homem com pergaminhos e que ajudou a vender, por exemplo, o Codex Leixester de Leonardo da Vinci (licitado por 30,8 milhões de dólares em 1994), duas cópias do primeiro livro impresso substancial do mundo ocidental, a Bíblia de Gutenberg, bem como vários exemplos do First Folio de William Shakespeare, bem como a primeira impressão da Declaração de Independência dos EUA que, como tem sido amplamente divulgado, foi brindado com Vinho Madeira.
Ora, o referido mapa tem, efectivamente uma curiosidade. Basicamente coloca a Madeira, bem como os Açores, as Canárias e Cabo Verde, num enorme conjunto de territórios na posse dos Estados Unidos da América, incluindo a Gronelândia, o Canadá e o México, o Panamá, entre quase todas as ilhas da América Central e Caraíbas, bem como as do Pacífico. O mundo seria dividido entre outras potências, como a então URSS, a China, os Estados da Europa, os estados da Commonwealth (Reino Unido, Austrália e outros), os Estados Unidos da América do Sul e, ainda, os Estados Unidos de África.
Outline of post-war new world map.
F17019 U.S. Copyright Office Scale ca. 1:30,000,000. Shows protectorates and peace-security bases. Available also through the Library of Congress Web site as a raster image. Includes text. AACR2: 650/1; 650/2

Naquela que seria uma nova ordem mundial pós-guerra, a Madeira e os Açores deixariam de ser Portugal além-mar, tornando-se 'braços armados' dos EUA no Atlântico, uma espécie de extensões ou bases militares para garantir o poderio e controlo norte-americano perto da Europa e de África.
É certo que os Açores têm há décadas uma base militar (Lages, na ilha Terceira) da NATO, mas que praticamente é controlada pelos EUA. E que a Madeira, no caso o aeroporto do Porto Santo, tem uma base militar da Força Aérea Portuguesa instalada, ainda que numa escala muito reduzida, também podendo servir meios da NATO e, portanto, interesses norte-americanos.
Contudo, olhando para este mapa, ficamos com a ideia que, efectivamente, este plano do Maurice Gomberg, filho de imigrantes judeus polacos, nascido em Setembro de 1893, em Filadélfia, Pensilvânia, podia muito bem ter chegado a vias de facto. Isto tendo em conta a forma como o mundo ficou após o final da II Guerra Mundial, dividida em blocos, com os grandes vencedores a serem os EUA, a ex-URSS e o Reino Unido.
"Maurice Goldberg imaginou uma divisão do mundo por civilizações. Os Estados Unidos teriam sido expandidos para incluir toda a América do Norte, do Canadá ao Canal do Panamá, e muitas ilhas do Pacífico e Atlântico, incluindo as Antilhas, Groenlândia e Irlanda", lê-se num artigo escrito este domingo, 19 de Janeiro, na página da The Peninsula Foundation, de origem indiana e que aborda várias temáticas da política mundial, escrito precisamente com o título "Trump e Musk, Canadá, Panamá e Gronelândia, uma velha história". No artigo salienta-se: "Um projeto maluco que já aparecia num mapa, imaginado em 1941 por um seguidor do movimento tecnocrático. No entanto, foi o ramo francês desse movimento que inventou o transumanismo caro a Elon Musk, cujo avô foi o responsável pelo ramo canadiano do movimento tecnocrático".
Ora, recorremos à revista Forbes para perceber o que significa Transumanismo. É "um movimento multidisciplinar, estuda como a tecnologia é capaz de fundir o corpo e a mente humana, permitindo ao ser humano transcender diante das limitações atuais. Os transumanistas buscam aprimorar as habilidades humanas, prolongar a expectativa de vida e moldar o próprio caminho evolutivo, superando as restrições biológicas e aumentando as capacidades físicas e intelectuais, levando a uma nova era do potencial humano".
O que é transumanismo?
O movimento do transumanismo une a tecnologia e biologia para romper as limitações atuais do ser humano expandindo sua capacidade . Leia na íntegra na Forbes Brasil.

Portanto, se imaginarmos que o movimento tecnocrata "queria trocar políticos por engenheiros", como referiu um artigo da BBC que recorda que este surgiu na década de 30 e 40 do século XX e chegou a ter mais de meio milhão de membros, quiçá o próprio Maurice Gomberg, acreditam que "a modernidade e o desenvolvimento tecnológico abriram as portas para uma nova era de abundância, mas também geraram novos problemas sociais, como o desemprego em massa, a degradação do meio ambiente, a superpopulação e a desigualdade".
O que foi o Movimento Tecnocrático, que queria trocar políticos por engenheiros - BBC News Brasil
'Estamos tão à esquerda que fazemos o comunismo parecer burguês', dizia o idealizador do movimento, Howard Scott.

Um extenso artigo foi publicado em Julho de 2010 pela 'Big Think' sobre o mapa e a sua ligação à ideologia da Nova Ordem Mundial (NOM), frequentemente referida por teoristas da conspiração da qual o próprio Donald Trump alimenta o seu ideário de uma 'Fazer a América Grande Outra Vez'. "No cerne da NOM está sempre a noção de que um pequeno grupo de indivíduos, instituições, indústrias e/ou nações poderosas deve liderar o mundo na direção certa (ou seja, em direção à 'unificação'). Isso pode ser contra a vontade do próprio mundo (e, portanto, feito secretamente, pelo menos em algumas versões da história da NOM), mas, em última análise, é para seu próprio bem", salienta o artigo.
A 1942 Map of the New World Order
The map on the bedroom wall of every teenage Bilderberger

Juntando os pontos, estará essa nova era a ganhar corpo com o presidente mais poderoso do Mundo à beira de tomar posse? E esse projecto expansionista implicará ganhos territoriais negociados ou à força? Dúvidas que os próximos tempos e anos seguintes nos levarão a uma resposta. E se o plano de Gomberg tivesse sido levado a sério, poderíamos hoje ver a bandeira dos EUA hasteada na Quinta Vigia? Tudo é possível em geopolítica, contudo fica difícil imaginar esse cenário.