DNOTICIAS.PT
Fact Check Madeira

Será que há “sempre” incêndios após o espectáculo pirotécnico do fim-de-ano?

None

O espectáculo pirotécnico da última madrugada provocou pequenos focos de incêndio em vários pontos do Funchal. O que ocorreu numa encosta em São Gonçalo, nas proximidades de um posto de lançamento de fogo e junto ao letreiro luminoso que assinala a passagem de ano, foi aquele que inspirou maior preocupação aos moradores na zona.

A notícia do DIÁRIO sobre esse incêndio motivou muitos comentários nas redes sociais, com várias leituras e perspectivas diferentes sobre o incidente. Várias pessoas relativizaram a importância deste tipo de incidente. “Deixem-se de mesquinhices. Sempre houve incêndios e danos”, escreveu uma cidadã no Facebook. Será que em todas as passagens de ano houve estas ocorrências?

Para esclarecer esta dúvida, o DIÁRIO fez um levantamento das suas notícias com o balanço dos festejos desta data importante ao longo das últimas três décadas, normalmente publicadas nas edições impressas de 2 ou 3 de Janeiro. A seguir apresentamos a relação dos anos em que houve incidentes (incêndios e danos) relacionados com o fogo-de-artifício e que foram merecedores de análise noticiosa.

1998

As faíscas provenientes do espectáculo pirotécnico provocaram muitos focos em mato seco, e num armazém de materiais de construção civil sediado no Caminho de Santo António. Felizmente, os princípios de incêndio foram extintos a tempo, alguns dos quais por populares, pelo que não foi necessária a intervenção dos bombeiros, que estiveram permanentemente em prevenção. No Jardim Botânico, em três locais de S. Gonçalo e até na iluminação pública, no Jardim Municipal do Funchal, registaram-se focos que foram rapidamente debelados, não constituindo perigo a vizinhos ou a passeantes na tradicional noite de euforia, nesta cidade.

2000

Os bombeiros foram chamados a debelar incêndios após o fogo do virar do ano. Quase duas dezenas de incêndios em mato, alguns ameaçando residências, deram trabalho pela noite dentro aos Bombeiros Voluntários Madeirenses e Bombeiros Municipais do Funchal. Os BVM e os BMF foram chamados ao Lazareto, onde o fogo em mato chegou a ameaçar algumas casas. Tudo foi rapidamente controlado com a colaboração dos residentes nas casas ameaçadas pelas labaredas. Na Rua da Carne Azeda, um outro incêndio, debelado pelos BVM, pôs em perigo uma moradia. Os BVM foram ainda solicitados para combater um fogo em mato na cota 200 (Boa Nova). Outro fogo em mato foi registado na Estrada Comandante Camacho de Freitas e numa quinta abandonada situada no Largo das Babosas, freguesia do Monte. A Estrada dos Marmeleiros, Rua Conde Carvalhal, Travessa de S. Luís, e Beco dos Viveiros registaram igualmente pequenos focos supostamente provocados pelo fogo- de-artifício. Na Levada de Santa Luzia, o fogo propagou-se numa palmeira, enquanto, na Rua Pedro José de Ornelas, o fogo começou num sótão, ameaçando uma residência. Na Bica de Pau, em São Gonçalo, Rua do Comboio, os bombeiros actuaram no combate a incêndios em mato que também poderiam pôr em risco algumas moradias.

2001

Devido aos postos de lançamento de fogo-de-artifício, tanto os Bombeiros Municipais do Funchal como Bombeiros Voluntários Madeirenses tiveram de combater pequenos incêndios, embora sem prejuízos de maior. Locais onde houve necessidade de intervir foram: Nazaré, Pico da Azinhaga, nas Virtudes; Caminho do Monte e Caminho da Água de Mel, em São Roque.

2004

As duas corporações de bom- beiros do Funchal acorreram a mais de uma dezena de fogos que deflagraram por todo o concelho, na noite de fim-de-ano. Um dos casos mais graves deu-se numa quinta em São Gonçalo, nas proximidades do letreiro que assinalou a passagem de 2003 para 2004. Um fogo em mato, numa zona de encosta, alastrou-se a grande velocidade, deixando alarmadas as largas dezenas de pessoas que ainda ali se encontravam, após terem observado o espectáculo pirotécnico. Os Bombeiros Voluntários Madeirenses deslocaram-se para o local com quatro viaturas e 12 elementos, só regressando ao quartel duas horas depois. Populares que estavam no local garantiram que as chamas quase os cercaram, mas não houve a lamentar vítimas.

Os BVM combateram em cerca de dez fogos em mato, grande parte dos quais de pequenas dimensões. Contudo, um dos fogos, junto ao polidesportivo de São Gonçalo, causou alguma apreensão, por se estar a aproximar de um bairro, numa zona de grande densidade populacional. Já no Beco da Lindinha, próximo da Boa Nova, um outro fogo em mato teve origem junto a residências, mas os bombeiros impediram que causasse danos maiores.

Já os BMF combateram outros três fogos em mato - em São Martinho, Penteada e na Rua Pedro José de Ornelas -, que também não tiveram graves consequências.

2005

Dos 41 postos de lançamento de fogo-de-artifício em oito registaram-se incidentes com engenhos pirotécnicos, que causaram dez feridos ligeiros e um grave - um bombeiro que ficou internado, após ter sido atingido por um projéctil. Os Bombeiros Municipais do Funchal registaram quatro incidentes junto aos postos de lançamento de fogo-de-artifício: junto ao estádio dos Barreiros; na Rua Pestana Júnior; no arsenal da Tecnovia (junto às instalações do Tecnopólo); e na Avenida do Mar. Este último foi o que registou repercussões mais visíveis da explosão. O material pirotécnico que se encontrava no interior de um dos nove contentores instalados na baixa (em frente ao Museu da Electricidade) detonou a sensivelmente 20 segundo do fim do espectáculo, depois de, dali, terem saído alguns disparos. A potência do estouro originou, através da deslocação do ar, o rebentamento dos vidros do edifício da Casa da Luz. Quatro pessoas tiveram de receber tratamento hospitalar, queixando-se de dores ao nível do aparelho auditivo.

Prova da potência da pólvora foi o estado em que ficou o contentor (arredondado) que servia de "casa" à projecção do fogo a partir do miradouro das Neves (São Gonçalo). O material pirotécnico detonou no interior e projectou-se para as imediações, vitimando uma agente da PSP (que ficou em mau estado) e ainda quatro pessoas que assistiam ao espectáculo. Os projécteis atingiram algumas viaturas e residências, que ficaram com os vidros partidos. Naquele miradouro, que conta com uma vista privilegiada para a baía do Funchal, as cinco vítimas foram transportadas ao hospital para lhes serem extraídos alguns dos projécteis do corpo (maioritariamente vidros) e serem suturados. Foram ainda registados incidentes no Jardim Botânico (junto ao parque do Jardim dos Louros), no Livramento e ao lado cemitério de São Gonçalo. Neste último, um espectador ficou ferido, a par de um bombeiro dos "Voluntários Madeirenses" que sofreu uma perfuração nas costas, devido a um projéctil. O "soldado da paz" recebeu tratamento hospitalar e teve alta. No Livramento, houve o registo de danos materiais em pelo menos duas residências, localizadas sob o viaduto. As casas ficaram com os vidros estilhaçados na sequência da vibração causado pelos disparos do fogo-de-artifício, a partir de um posto de lançamento da via rápida.

Após a meia-noite, os BVM foram chamados para extinguir seis pequenos fogos que deflagraram no Lombo da Quinta, nos Louros, junto ao cemitério de São Gonçalo, na Pena, e no caminho que liga a Ribeira de João Gomes e Santa Luzia e dois no Pináculo. O incêndio que requereu mais meios dos bombeiros deflagrou nas instalações da secção de aprovisionamento da Câmara Municipal do Funchal, debaixo da ponte da Ribeira de João Gomes.

2008

O material incandescente que caiu após os disparos do fogo-de-artifício terá originado três incêndios. A zona de São Gonçalo, a da Penteada e a Estrada Luso Brasileira foram os locais afectados pelos fogos de pequenas proporções. As chamas começaram a deflagrar durante o espectáculo do fogo, sendo que o mais visível por todas as pessoas foi o que deflagrou em São Gonçalo. Uma zona de mato seco, situada a escassos metros do letreiro luminoso ‘2008’ foi consumida pelas chamas. Os Bombeiros Voluntários Madeirenses intervieram prontamente, evitando que houvesse prejuízos elevados. Os incêndios da Estrada ‘LusoBrasileira’e na Penteada foram extintos pelos Bombeiros Municipais do Funchal. A exemplo do que aconteceu com o fogo de São Gonçalo, a corporação atacou o incêndio de imediato.

2010

Cerca das 00h13, um fogo em mato no sítio da Quinta do Poço, Santa Luzia, deu trabalho aos Bombeiros Municipais do Funchal. No combate às chamas estiveram três elementos e uma viatura pesada.

2012

Bombeiros Municipais do Funchal e Bombeiros Voluntários Madeirenses passaram a madrugada a combater fogos em mato, provocados pelo material pirotécnico que foi sendo lançado ao longo da noite. A situação mais grave, e bem visível em todo o anfiteatro funchalense, ocorreu em São Gonçalo, na encosta onde estava colocado o sinal luminoso do ano ‘2012’. O incêndio, que não ameaçou bens ou pessoas, começou pouco depois da meia-noite, tendo origem directa no fogo de artifício. No local estiveram os BVM, que tiveram que pedir apoio aos BMF, já que tinham muitos meios mobilizados noutro incêndio na Rochinha. As chamas consumiram mato durante mais de uma hora, numa situação recorrente. Em causa está a colocação no local de um posto de lançamento de material pirotécnico que tem acabado sempre por provocar fogo. Já os Bombeiros Municipais tiveram de acudir a oito fogos. Pouco depois da meia-noite foram chamados ao Caminho de Santo António, partindo depois para a Estrada Luso Brasileira, Rua Tenente Coronel Sarmento e Caminho da Igreja, em São Gonçalo. As duas corporações tiveram também a braços com várias princípios de incêndio em palmeiras.

2013

No Funchal, a madrugada do primeiro do ano levou os Bombeiros Municipais a apagar dois fogos no Caminho do Comboio e no Pico do Funcho, em São Martinho.

2014

A queda de materiais incandescendentes do fogo- de-artifício esteve na origem de dois focos de incêndio que deflagraram em habitações no Funchal. Uma delas ficou completamente carbonizada na Segunda Travessa do Frias, abaixo da Achada, na freguesia de São Pedro. Ao que tudo indicava, o fogo começou num toldo em fibra de vidro que acabou por derreter, alastrando depois aos tapassóis. Também no Livramento, foi atingida uma habitação situada na Rua do Comboio, junto à Levada de Santa Luzia, sobranceira a um dos postos de lançamento de fogo-de-artifício da Cota200, na via rápida. Um invólucro incandescente do fogo-de-artifício danificou a tijoleira do terraço e o ‘capot’ de um automóvel de ‘rent-a-car’.

2015

Em consequência do lançamento do material pirotécnico ocorreu um pequeno foco de incêndio em mato junto ao Pináculo, o qual foi rapidamente debelado pelos BVM, de estavam de prevenção junto deste posto de lançamento de fogo.

2016

As duas corporações de bombeiros funchalenses combateram dois fogos de pequenas proporções alegadamente motivados por resquícios da queima do fogo pirotécnico. Em ambas as situações, verificadas em locais opostos da cidade, as chamas eclodiram em zona de vegetação e foram rapidamente debeladas pelos Municipais do Funchal e Voluntários Madeirenses.

2018

Vários incêndios deflagraram em zonas de mato logo após o espectáculo pirotécnico, no Funchal. Pouco depois da meia-noite, os Bombeiros Voluntários Madeirenses deslocaram-se à zona do Caminho do Pináculo, assim como ao Caminho de Ferro para extinguir pequenos focos de incêndios, que não provocaram danos de maior. Também outros fogos surgiram na zona das Neves, São Gonçalo e Quinta da Aragem. Os Bombeiros Sapadores do Funchal prestaram apoio nestes casos.

2020

Registaram-se vários focos de incêndio motivados pelo rebentamento de fogo-de-artifício. Os Bombeiros Sapadores do Funchal combateram fogos na Rua das Amoreiras, Caminho da Penteada e na Rua 4 de Abril. Neste último caso, tratou-se de uma plataforma com fogo-de-artifício que não rebentou e acabou por se incendiar. Já os Bombeiros Voluntários Madeirenses foram accionados para fogos num terreno abaixo Jardim Botânico, num terreno a norte do Centro de Inspecções, Estrada do Aeroporto, Neves, São Gonçalo (encosta junto ao sinal luminoso que assinala o ano 2020), junto ao Miradouro do Pináculo e junto ao campo de tiro no Caminho do Pináculo. Houve ainda a registar um incêndio na Rua de Santa Maria, junto à residência universitária, que foi combatido por ambas as corporações. Nesse mesmo local, foi necessário os BVM retirarem 10 pessoas que ficaram presas no interior de um elevador.

2021

Os Bombeiros Voluntários Madeirenses combateram três focos de incêndio provocados pelo lançamento do fogo-de-artifício. Na Estrada Conde Carvalhal, acima do Pináculo, foram registados três focos de incêndio em zonas de mato, devido à existência de postos de lançamento nas proximidades. Todos foram rapidamente extintos. Além disso, esta corporação prestou apoio aos Bombeiros Sapadores do Funchal num fogo em mato junto ao miradouro da Tabaiba, com veículo ligeiro de combate a incêndios.

2024

Verificaram-se oito ocorrências relacionadas com pequenos focos incêndios causados pelo fogo-de-artifício. Um dos focos de incêndio ocorreu em São Martinho. O fogo consumiu uma zona de mato no Pico da Igreja e foi combatido pelos Bombeiros Sapadores do Funchal. Já os Bombeiros Voluntários Madeirenses foram alertados para focos de incêndio em São Gonçalo, na Boa Nova e na recta das Neves. Não houve danos de maior a registar.

Como podemos verificar, em 16 dos últimos 30 anos houve incêndios e danos relacionados directa ou indirectamente com o espectáculo pirotécnico, a larga maioria dos quais com limitadas consequências. Nalguns anos, as notícias de balanço da noite mais festiva do ano assinalam expressamente que não se registaram quaisquer incidentes. Ou seja, não será verdadeira a afirmação de que “sempre houve incêndios e danos” na Noite de São Silvestre.

“Deixem-se de mesquinhices. Sempre houve incêndios e danos”