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Madeira

Greve de vários dias na hotelaria madeirense chegou a registar adesão de 100%

Números do Sindicato não eram coincidentes com os da ACIF e do Governo

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Foto DR/Arquivo

Há quarenta anos, a actualidade madeirense ficava marcada pela luta dos trabalhadores do sector hoteleiro, com recurso à greve, que em algumas unidades chegou aos 100%.

A notícia publicada na edição de 24 de Abril de 1984 referia que a paralisação tinha tido início na madrugada do dia anterior e que os números do sindicato e da Associação Comercial e Industrial do Funchal (ACIF) não coincidiam, discrepância actualmente ainda recorrente, mesmo depois de tantos anos.

Entre os hotéis mais afectados pela paralisação que visava melhores condições de trabalho e melhores salários, onde se registava uma adesão de 80 ou de 90% estavam o Madeira Sheraton, o Savoy, bem como os hotéis Raga, do Mar, do Carmo. O café Apolo e Café Funchal também não escaparam à greve.

Ao DIÁRIO, Leonel Nunes, na altura o porta-voz do Sindicato dos Trabalhadores da Hotelaria, Turismo e Similares da RAM, dava conta de que, perante a intransigência da Mesa de Hotelaria da ACIF, fora decidida a prorrogação da greve, passando a paralisação para dois dias, sendo “renovável por períodos de 24 horas”.

O sindicalista reforçava que a greve se iria manter “até os patrões responderem afirmativamente às reivindicações”, sustentava, na altura. “Apesar do Sindicato já ter, por mais de uma vez afirmado que continua aberto ao diálogo e à negociação, o patronato, numa posição extremista, mantém-se intransigente”, complementava.

Leonel Nunes denunciava, igualmente, que algumas unidades hoteleiras estariam a “utilizar não grevistas em determinados serviços”, ao mesmo tempo que impediam a entrada dos piquetes de greve nas empresas.

Por outro lado, a mesa da ACIF, do presidente da mesa de Hotelaria, Francisco Silva,  referia que a continuação da greve era um acto de desespero da Comissão Negociadora Sindical. Os números avançados pelos patrões apontavam para apenas 20% de adesão, sustentando, por isso, que a actividade hoteleira “não foi significativamente afectada”, muito por força da “noção de responsabilidade de vasta maioria dos trabalhadores que sabem perfeitamente que os tempos não são bons”.

Já o Governo Regional falava em “tentativa de desestabilização” por parte do Sindicato, que era acusado de não esgotar previamente todas as outras formas de luta, antes de recorrer à greve.

Nessa edição era notícia, também, no âmbito regional, as reivindicações da freguesia da Camacha por novas estradas, ao mesmo tempo que pediam iluminação pública para o Largo da Achada.

As comemorações do 10.º aniversário do 25 de Abril também tinham o seu espaço nas páginas do DIÁRIO, ao ser noticiada a deslocação das mais altas figuras da Região para Lisboa, com o intuito de participarem nas iniciativas que lá eram levadas a cabo. Na Madeira, por outro lado, a proposta do PS para assinalar o momento no parlamento regional foi chumbada pela maioria social-democrata. “As únicas comemorações políticas da Revolução na Madeira são promovidas por uma comissão unitária de personalidades independentes e de diferentes correntes políticas”, podemos ler nessa notícia.

No desporto, o desempenho dos atletas madeirenses em provas regionais era salientado. O recorde absoluto da Madeira nos 10.000 metros planos alcançado pelo madeirense José Frias, “ao obter a sensacional marca de 29.40.5.”, numa corrida que teve lugar na pista do Estádio Nacional, numa prova que contava para os Campeonatos de Portugal de Atletismo.

A nível nacional, era chamada à primeira página a entrevista de Mário Soares ao ‘Der Spiegel’, na qual o então primeiro-ministro dizia que os portugueses compreendiam as medidas implementadas, considerando-as patrióticas e necessárias, ao mesmo tempo que criticava a postura assumida pela comunicação social portuguesa. Pelo meio, negou a existência de fome em Setúbal e criticou os discursos do então Presidente da República, António Ramalho Eanes.

A crise dos orçamentos das famílias que levavam a dívidas no montante de 200 mil contos à banca era outro dos temas em destaque na edição de 24 de Abril de 1984.

Na esfera internacional, a preparação da visita de Ronald Regan à China ganhava projecção, bem como a reivindicação do Papa João Paulo II de um “estatuto especial” para Jerusalém.