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Liberdade para amar

Estamos no mês em que se celebra o 50.º aniversário do 25 de Abril. A revolução dos cravos, onde foram colocadas flores nas armas das tropas que lideraram o golpe que terminou com a ditadura em Portugal. Desde então, um longo processo, com avanços e retrocessos, tem sido feito em prol dos direitos humanos no nosso país.

Numa sociedade altamente conservadora, foi difícil, durante décadas, já em democracia, conquistar direitos fundamentais para as pessoas, em particular mulheres e LGBTQIA+, que lhes permitissem viver com respeito e equidade. Em 2010, casais do mesmo sexo passaram a poder casar no civil e, em 2016, a adotar crianças. Mas ainda há muito a fazer.

O amor é um sentimento nobre, ligado a muitas emoções e que influencia o nosso comportamento. Relaciona-se intrinsecamente com o bem-estar e o nosso Eu em todas as suas dimensões. Quando amamos e nos sentimos amados/as, e aqui está incluído o amor próprio, a nossa autoestima fica mais estável. Tendemos a nos focar em demasia nas guerras, discórdias e violências – porque vende e gera audiência – e esquecemo-nos de que o ser humano está predisposto geneticamente para as relações afetuosas porque é um animal social. Relaciona-se em família, na comunidade, no trabalho e em tantos outros meios, onde estabelece laços que podem ser mais ou menos duradouros.

No entanto, há muitas coisas que são confundidas com amor num relacionamento íntimo, e que não o são. A possessividade e o controlo não são provas de amor. A romantização dos ciúmes não é amor. A falta de liberdade para ser quem é não é amor. A falta de independência económica (voluntária e romantizada) não é amor. Há ideias retrógradas que perpetuam o “amor ideal” que estão a ressurgir no nosso país, à boleia dos retrocessos a que estamos a assistir em vários países da Europa.

Está também a ser difundida a ideia de que a orientação sexual é uma moda que os/as jovens seguem. Eu pergunto, a quem lê este artigo, se é possível escolher, de forma consciente, por quem nos sentimos atraídos/as? De quem gostamos? Podemos escolher com quem nos relacionamos, mas a atração, e a orientação sexual, é uma conjugação de vários fatores, genéticos e ambientais. Se ser heterossexual é mais “fácil”, gera menos discórdia e discriminação, o melhor seria “escolher” essa orientação e estava tudo resolvido. Mas… somos todos/as iguais? Sentimos todos/as da mesma forma? Ou merecemos ser respeitados/as e felizes, ao lado de quem gostamos, independentemente do nosso sexo?

Questiono-me porque há tantas pessoas que se ofendem com a felicidade alheia. Que passam a vida a destilar ódio nas redes sociais. Que confundem propositadamente as massas e espalham ideias erradas do que é o género, a sua identidade e a orientação sexual. Que tratam pessoas LGBTQIA+ como párias ou bizarrices, enquanto, nas suas vidas, muitas vezes não têm relações saudáveis. A essas pessoas, eu desejo que sejam felizes. Que se amem em primeiro lugar e aprendam a amar. Que compreendam que o amor e a liberdade, seja ele nosso ou de outras pessoas, devem andar de mãos dadas e que se respeitarmos, seremos respeitados/as. “Make love, not war”. Amor é amor.