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Nem um passo atrás

Sei bem o que sentem muitos madeirenses em relação às eleições de domingo. De como estão descontentes, porque cansados de, eleição após eleição para a Assembleia da República, ouvirem falar dos mesmos assuntos de sempre, enquanto as dificuldades do dia-a-dia permanecem. De como voltam inevitavelmente a ouvir falar do Estatuto Político-Administrativo, da Lei Eleitoral, ou da Lei das Finanças Regionais, utilizadas como arma de arremesso por quem, ao fim de 50 anos de governação na Madeira, foi absolutamente incapaz de fazer melhor: o PSD e o CDS.

Compreendo o que pensam os madeirenses sobre a situação política inqualificável que vivemos na Região. De como depois da justiça tomar conta do palco político, tudo o que parece restar é mais passado. Percebo a avaliação que fazem sobre os comportamentos de uns e a reacção de outros, mas sejamos francos: PSD e CDS não são, hoje, mais do que uma assombração do passado. No CDS, já só sobra José Manuel Rodrigues para lutar pela sua eleição - para a Assembleia primeiro, eventualmente para a sua presidência depois. No PSD, de um lado, Miguel Albuquerque representa a continuidade da tragédia política dos últimos 10 anos, em que nunca foi capaz de compreender a importância de estabelecer pontes na República para defender a Madeira; do outro, Manuel António procura reaparecer como se não soubéssemos que fez parte, foi conivente e continua a ser fanaticamente apoiado por um regime de 40 anos - o de Alberto João Jardim.

Mas os madeirenses não esquecem - e por isso no domingo é importante não darmos passos atrás, para um passado de má memória, em que duas governações PSD/CDS, uma no Continente e outra na Madeira, empurraram os madeirenses para a mais grave crise económica e social que vivemos, com a austeridade que nos foi imposta em dose dupla, um castigo a Jardim promovido por Passos e Albuquerque. A um passado de “ajustamento”, que significou cortes de salários e de pensões, desemprego e emigração em massa, como resposta às dificuldades.

Nem um passo atrás para os jovens, convidados a abandonarem os estudos e a emigrarem nesse tempo de má memória. Reconheço o que sente uma geração incapaz de ganhar o salário que merece, de adquirir a habitação de que precisa e de constituir a família com que sonha - mas também me recordo bem de onde viemos e do que foi feito. De como se facilitou o acesso à universidade, com o corte no valor das propinas e a sua devolução, com o aumento das bolsas de estudo e das camas nas residências. De como o IRS jovem, a subida dos salários mínimos e médios, o fim dos estágios não remunerados e a regulamentação do teletrabalho e da semana de quatro dias melhoraram o mercado laboral. De como os passes, os manuais e as creches gratuitas alteraram profundamente a vida de muitas famílias. Sim, é possível mais - mas o país está melhor, não está pior do que a direita o deixou.

Nem um passo atrás nos direitos dos migrantes - que são também os nossos emigrantes, que tiveram de ouvir Passos Coelho associá-los agora ao crescimento da insegurança, como se migrantes portugueses não trabalhassem diariamente, geração após geração, para afirmarem o bom nome de Portugal além-fronteiras. Como se a nossa diáspora, espalhada por todo o mundo, não fosse constituída por migrantes que também merecem ser tratados com respeito, dignidade e igualdade, estejam onde estiverem.

Nem um passo atrás nos direitos das mulheres, que assistiram a um dirigente da AD vangloriar-se pelas limitações à Interrupção Voluntária da Gravidez, enquanto falam da “família tradicional portuguesa” e das “meninas do Bloco” com total misoginia. Nem um passo atrás na luta contra o negacionismo climático, invocado por um cabeça de lista da AD. Nem um passo atrás na economia portuguesa, que precisa de um choque salarial para todos, não de um choque fiscal para alguns.

Hoje, Portugal cresce mais, a dívida pública é mais baixa, o investimento subiu, a pobreza está mais baixa, o desemprego está mais baixo, os salários estão mais altos, as pensões estão mais altas, os alunos na universidade subiram e o abandono escolar desceu. Foi este país que, todos juntos, construímos ao longo dos últimos anos - e que construímos apesar da pandemia, da guerra, da inflacção e dos últimos dois Governos, em pouco mais de dois anos, terem sido derrubados duas vezes, sem ser em eleições. Agora, o país precisa de mais acção, de fazer mais e melhor, para resolver os problemas que persistem na educação, na saúde, ou na justiça. De mudar - mas com estabilidade e com a garantia total da Liberdade que Abril representou para todos. Sem fantasmas do passado a pairarem no horizonte. É por isso que domingo confiarei em Pedro Nuno Santos e votarei PS: por mais futuro, sem passos atrás.