O Partido dos Animais e os Animais dos Partidos

Após mais um ciclo de eleições legislativas regionais, a reflexão e o debate está instalado. Ainda bem.

Queremos sim, que a dignidade e maturidade do questionamento, do confronto e do diálogo na procura de soluções, seja apanágio não só de todos e todas os/as agentes políticos, como igualmente de cada cidadão e cidadã preocupado em contribuir eticamente para a harmonia do espaço que coabita.

Contra o antropocentrismo viciado e que se auto-alimenta e perante a ciência que tanto tem despertado para a legitimidade das outras espécies, das suas faculdades, sensibilidades, inteligências e códigos de comunicação diversos, tão desrespeitados e violentados pela nossa espécie, não vejo qualquer carga negativa ou pejorativa a de comparar um animal humano a um animal não humano. Tanto temos em comum!

As hierarquias artificiais que a espécie humana cria para se sobrevalorizar (mesmo entre si), destruindo-se a si própria, fisicamente e espiritualmente, quando destrói os ecossistemas e todas as criaturas neles interdependentes, além de ser pouco eficiente é eticamente deplorável e depreciativa de nós próprios.

'Gosto muito de animais, mas primeiro estão os seres humanos'. Este tipo de expressões, além de serem comuns, ocas e inférteis, querem apregoar que a valorização de uns implica anular os outros. Que estupidez. Quando se defende com conhecimento e compaixão os animais, defende-se sempre todos, todos, todos os animais, humanos e não humanos.

É um dever, um ganho ético, espiritual e civilacional.

Entre populistas (espécie perigosa), entende-se porém a dificuldade de não verem além da sua própria família cultural, quando nem sobre ela conseguem aceitar as mais coloridas e identitárias diferenças.

Nós, os designados humanos e muitas forças partidárias, precisamos de continuar a ir às escola da vida, às bibliotecas municipais, para potencializar com conhecimento e ciência o melhor que a nossa espécie pode ainda dar, deixar de fazer e modificar. Possamos todos e todas enobrecer o melhor das virtudes culturais e políticas, designadamente o de saber trabalhar e encontrar alianças ou acordos entre estruturas de pensamento completamente diferentes, dentro dos valores maiores da democracia, liberdade, arte e compaixão. Com a nossa emancipação cívica e política possamos todos e todas não só fazer oposição por oposição; alimentar polarizações; apenas atacar, criticar ou apontar o que está mal, mas sempre e perante as diferenças de entendimentos, nos transformemos em fazer parte das soluções e nesse sentido perspectivar com novas visões, um futuro que já se vislumbra tão débil e gravemente danificado.

Consigamos ser dignificantes animais cívicos e políticos, entendendo que na nossa pequenez planetária, não há lugar para nacionalismos territoriais, mas um espaço comum de todas as desafiantes impossibilidades e enriquecedoras diferenças.

Neste momento são os jovens, muitos rapazes e raparigas activistas, que estão a ter efectiva consciência de futuro e um sentido pragmático de querer com acções originais e novos paradigmas culturais salvar em sustentabilidade o nosso espantoso Planeta. Não desvalorizemos as acções dos jovens sonhadores, quando nós adultos não conseguimos fazer o que nos competia à custa da demagogia, apatia, falácia e de extremismos ideológicos arcaicos, que estão novamente a querer nascer da podridão, da ignorância e do medo.

Laíz Vieira