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Sindicato critica easyJet por "ter 'budget' para greves mas não para aumentos salariais"

Foto Arquivo/Aspress
Foto Arquivo/Aspress

O presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil acusou hoje a easyJet de "ter um 'budget' para greves mas não para aumentos salariais" e avisou que os tripulantes de cabine estão preparados para mais paralisações.

"Infelizmente, a empresa tem a postura de que quando fazemos um pré-aviso de greve eles cancelam as reuniões. A easyJet já tem um 'budget' [orçamento] para greves. Em França e Espanha também foi necessário haver uma, duas, três e infelizmente quatro greves para a empresa ouvir", disse Ricardo Penarróias.

O presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), que falava aos jornalistas à porta do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, junto de cerca de três dezenas de tripulantes de cabine que gritam "não voamos, não voamos", criticou a postura da easyJet por esta "discriminar" os trabalhadores portugueses.

"Não é justo que um tripulante em Portugal ganhe menos 67% do que um tripulante em França ou na Alemanha. Não é o nível de vida de Portugal comparado com França que justifica esse diferencial. Estamos a falar de uma das bases mais rentáveis, rede essa que teve lucro no primeiro trimestre de 228 milhões. Os lucros têm de acompanhar as condições dos trabalhadores", disse.

Já no protesto, nas 't-shirts' cor de laranja que alguns tripulantes de cabine envergam lê-se: "um inglês, um francês, um português trabalham na easyJet. Parece anedota mas o português ganha muito menos".

"EasyJet é expansão, os salários é que não" ou "Discriminação: um salário português não chega ao final do mês" são outras das frases mais ouvidas num protesto cuja principal faixa tem a inscrição "Não somos menos do que os outros!".

Aos jornalistas, Ricardo Penarróias disse que a negociação com a empresa "parece um jogo de paciência", usando como exemplo o que aconteceu em outros países, como Espanha ou França onde, insistiu, "foi preciso chegar à terceira ou quarta greve para que algumas reivindicações dos tripulantes de cabine fossem ouvidas".

"A realidade é sempre a mesma: uma proposta sempre muito abaixo da realidade do país. A segunda proposta vem com algumas melhorias e a terceira também. Já vamos na terceira greve infelizmente. Isto parece um jogo de paciência. Esperemos que a empresa perceba que as reivindicações são justas", disse.

Para o presidente do SNPVAC, a situação é "clara e evidente": "Se a easyJet afirma que é a segunda marca em Portugal, então as condições de salário têm de acompanhar esse crescimento", resumiu.

Esta é a terceira greve destes trabalhadores no espaço de cerca de três meses.

Os dirigentes sindicais acusam a transportadora de "precarização e discriminação" face aos outros países e exigem aumentos salariais, bem como melhores condições de trabalho.

Jéssica Froes, também dirigente sindical do SNPVAC, explicou que atualmente as escalas de voo podem ser mexidas a qualquer momento e que os trabalhadores pedem "no mínimo" uma previsibilidade de 48 horas.

A dirigente sindical indicou que foram canceladas a nível nacional 96 ligações, isto depois de a empresa já ter cancelado 346 voos após o pré-aviso de greve.

"Sessenta e seis não foram cancelados, mas os passageiros podem ser surpreendidos", disse Jéssica Froes.

Os destinos mais afetados pela paralisação são Madeira, Londres, Paris, Genebra e Luxemburgo.

Este é o primeiro dia de uma greve que se prolonga até terça-feira.

No Porto, já vários passageiros foram surpreendidos com o cancelamento de um voo que ia às 07:10 para o Luxemburgo.

"Estivemos tempo e tempo e mais tempo à espera de uma explicação e nada. Agora, se tiver voo, só vou às 18:00. E eu não sou do Porto, vim para cá ontem [quinta-feira] e paguei hotel e alimentação para estar pronta às 07:00 da manhã e agora quem me paga isso? É inadmissível", disse Irene Gomes.

Ao lado o marido, Filipe Gomes, explicou por que é que "precisam mesmo muito de chegar ao Luxemburgo": "Vou lá tomar uma vacina. Tinha a enfermeira para me ir a casa já marcada e tudo", descreveu, acrescentando, que apesar da incerteza, vai esperar 12 horas no aeroporto Sá Carneiro e "ter esperança".