Abuso de poder no Ensino Superior

Já há muito tempo que os casos de assédio no ensino superior ganham voz para depois serem esquecidos. Um ciclo que não encontra resolução, quer por falta de fundamentos para condenação quer por desinteresse público pela matéria.

Neste processo quem sofre é a vítima.

Por assédio entenda-se não só o sexual, mas o moral também. Todos provenientes do abuso do poder de quem tem um cargo de chefia, de quem tem um ascendente sobre os seus colegas e alunos.

Infelizmente tais comportamentos acabam por ser normalizados. É um ciclo sem fim que abre portas a que outros com tendências comportamentais de relacionamento com outros errados, possam exercer tais comportamentos com seus colegas e alunos.

Logo nos meus primeiros dias de caloiro, os meus colegas mais velhos, de algumas disciplinas já diziam com cara de susto que “Ui, esse é lixado, não é qualquer um que aguenta”.

Verdade que apanhei com professores e professoras com um ego superior, que não toleravam o erro, a dúvida. Muitas vezes usavam o seu poder que era o conhecimento, experiência e o cargo de professor para humilhar os mais novos. Aqui digo que é um comportamento execrável, pois destruem a oportunidade dos alunos de aprenderem, e por isso são alunos, não sabem e precisam aprender.

Tal comportamento é de quem é frustrado, mas nada justifica comportamentos de humilhação.

Lembro de uma colega ter tentado tirar uma dúvida sobre a matéria após termos recebido os resultados de um teste, pelo que a professora no auge do seu ego lhe respondeu “Estudasses”. Esta foi uma resposta dada pelo Tomás Taveira, enquanto abusava de uma mulher, para quem não se lembre de onde vem esta expressão nojenta.

Outra vez esta mesma professora amuou connosco durante uma aula por não estarmos a entender um exercício. Simplesmente foi tratar das suas “experiências de investigadora” e ficamos o resto da aula a tentar resolver o exercício e com um desconforto enorme.

São pequenos comportamentos, respostas tortas que minam a experiência de um aluno universitário que deveria ser de desafios e motivação para estudar e aprender.

Enfim.

Quanto ao abuso sexual, todos ouvimos histórias. Uma amiga de outra universidade contou que como eram poucas mulheres no seu curso, que alguns professores ficavam “malucos” com elas. E que ela própria usou isso para que lhe subissem a nota. Usou uma saia mais curta para ir rever um teste que não tinha corrido muito bem.

É chocante ouvir isto, como se fosse normal. Não é normal. E pessoas como ela incentivam a que estes comportamentos continuem e proliferem pelo meio académico. É nojento.

Depois são tais atitudes e a maneira leviana como falou sobre isto que fazem com que as vitimas sejam descredibilizadas. Que se puseram a jeito para serem assediadas. É assustador.

Mas é mais fácil olhar para o lado e fingir que não existe. No fim, são as vítimas que saem sempre queimadas, são julgadas por não falarem. Quando ganham coragem e falam, são escrutinadas, se não tiveram um comportamento provocador, se não usaram roupa provocante. Depois são descredibilizadas, largadas e esquecidas.

R.N.