Crónicas

Luzes da cidade

Quando somos pequenos tudo nos parece grande. Voltamos aos ambientes da nossa infância e sorrimos ao recordar o tempo em que sobredimensionávamos a sala de aula, o campo de futebol, o parque infantil…e as distâncias entre lugares.

Houve uma época em que imaginava que o Funchal seria para os lados da Ponta Delgada. Recordo-me daqueles dias em que ir do Porto Moniz ao Funchal era uma odisseia, várias horas de viagem e a jornada começava cedo, ainda de noite. Sabia que o trajecto era longo, que o destino ficava afastado e olhando para o horizonte mais luminoso algures por ali seria a “cidade”. Ao sair do Porto Moniz toda a costa norte se estendia até ao piscar do farol de São Jorge. Aquele aglomerado tão grande de luzes da Ponta Delgada parecia estar à distância de várias horas. Inesquecível ainda hoje era o raiar do dia, a caminho de São Vicente, num nascer do sol que rompia o horizonte e aquele brilho imenso sobre o Atlântico e nós ali a passar mesmo ao lado do calhau.

É esta a primeira ideia que me assoma para a expressão “luzes da cidade”. Com ou sem Charlie Chaplin e o seu Vagabundo falta-me ainda descobrir o Poço das Pulgas lá para os lados da minha “cidade”.