Educação e Rock & Roll

A dada altura, durante a adolescência, acabamos por começar a perceber que é muito pouco provável nos tornarmos todos nas estrelas de Rock & Roll que víamos nas revistas.

Tive a sorte de ter alguns professores cujo contributo educativo mudou a minha visão sobre as minhas próprias capacidades. Outros, inspiravam pelo estilo, pelo à vontade, e pela maneira como conseguiam captar a atenção de uma turma de adolescentes.

Os professores eram o mais próximo das estrelas de Rock & Roll, pensava eu na minha óptica ingênua, da pequena lista de futuros empregos numa era cujo acesso à Internet era mais limitado, muito limitado. Na época, os professores podiam vestir o que quisessem, não davam aulas 8h por dia, muitos deslocavam-se todos os anos; conhecendo cidades, vilas e povoações diferentes. E quem não gosta de viajar? Tudo isto enquanto se transmite e adquire conhecimento, aliado a um ordenado e uma possível progressão de carreira. Dava a ideia de ser enriquecedor, até mesmo libertador. Até que… percebi que não era bem assim. Há escolas (sejam elas públicas, privadas, ou outras instituições de ensino) que impingem um “dress code” formal, e que apenas contratam a recibos verdes, não cobrindo as horas em que os alunos não aparecem, nem o trabalho de backstage.

Hoje, parece-me que os professores se assemelham mais a um caracol do que às estrelas de Rock & Roll que imaginara. A analogia não visa ofender nenhum professor, mas salientar o facto de andarem com a casa às costas, enquanto o seu progresso na carreira avança a passo de caracol (se é que avança).

Para não mencionar o facto de ser bem difícil controlar uma turma de 20 a 30 alunos. Se controlar uma criança em casa já é difícil, imagine-se 20 ou 30 que já não sentem curiosidade na aprendizagem, nem na descoberta de novos conhecimentos e competências (a não ser as que estejam ligadas aos jogos online e às redes sociais).

Outra questão é a falta de interesse; certamente todos já sentiram a frustração que é de estar a falar com alguém que simplesmente não nos escuta. Imagine-se fazer disso uma profissão, super motivador não é? Também há aqueles que têm o curso de educação/ensino de uma determinada área; mas falta-lhes a competência comunicativa e a empatia de transmitir uma mensagem a quem desconhece os conteúdos, mas apenas quem tem o curso com o nome certo é que pode dar aulas?

Quer-me parecer que os professores que outrora eram estrelas, hoje, são mais facilmente comparáveis a planetas (sem luz própria, porque não há iluminação suficiente para aguentar com tanta escuridão), sem rock, nem roll, sem os aplausos, sem o poder de compra, e aos poucos, sem família.

Portugal assemelha-se, cada vez mais, a Ali Babá e os 40 ladrões. Contudo, falta-nos a montanha repleta de tesouros e, claro, a empregada que além das lides domésticas e as refeições suculentas, limpa logo 39 delinquentes com a máxima descrição, enquanto conversamos tranquilamente, e sem noção do perigo que nos cerca, com o 40º.

É importante que se estimule a curiosidade e a vontade de aprender; é também importante dar dignidade a quem trabalha (independentemente do cargo e profissão) porque, se trabalhamos e não temos direito a uma vida digna… De que nos serve todo o esforço e dedicação?

João Diz