A Guerra Mundo

Centenas de ucranianos e russos unem-se em Nova Iorque pelo fim da guerra

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Centenas de cidadãos ucranianos e russos reuniram-se na noite de quinta-feira em frente ao Consulado da Rússia em Nova Iorque numa vigília em que exigiram o fim da guerra e justiça pelos crimes cometidos por Moscovo.

Erguendo velas acesas e cartazes contra o Presidente russo, Vladimir Putin, ucranianos e russos manifestaram indignação pelo arrastar da guerra e lamentaram os milhares de vidas que este conflito arruinou.

Em declarações à Lusa, Denis, um moscovita de 32 anos, explicou que sentiu a necessidade de estar ali, entre ucranianos, para mostrar que nem todos os russos apoiam Putin e que a guerra precisa de parar.

"Estou aqui hoje porque acho que os russos precisam de rezar a apoiar a Ucrânia, porque precisamos de mostrar ao povo ucraniano que estamos com eles, que estamos contra Putin e que ele é um assassino. Realmente esperamos que os Estados Unidos e os países europeus ajudem a Ucrânia a vencer", disse.

"Um ano de guerra é um longo período e todos têm de entender que é preciso pará-la", apelou, segurando um cartaz que dizia "Sou russo e eu sou contra a invasão".

Entre cânticos e discursos de união, Arthur Zgurov, representante da comunidade ucraniana em Nova Iorque, fez um balanço destes 365 dias de conflito, sublinhando que o mundo aprendeu "da pior maneira" que "um país pequeno como a Ucrânia consegue mostrar grande espírito e grande bravura".

"Um ano depois desses terríveis eventos que remodelaram o nosso país, que remodelaram cada um de nós, aprendemos sobre a força dos ucranianos e aprendemos que em tempos de guerra, quando um inimigo ataca, podemos pôr de parte as nossas diferenças e agirmos juntos. Entendemos que estamos todos em guerra. Que mesmo aqui, fora do palco da guerra, estamos num campo de batalha e somos todos soldados. E pela nossa unidade, pelo nosso exemplo, inspiramos o mundo", disse Zgurov.

"Levou o seu tempo, porque o mundo acreditava que só duraríamos três dias. Que após três dias seríamos completamente esmagados por Moscovo, mas esses três dias passaram, três meses passaram...e agora um ano! Um ano a defender a liberdade, não só do nosso país, mas também os valores do mundo todo. O preço que pagamos é muito alto, mas se não o pagarmos, nunca sentiremos a preciosidade da unidade", acrescentou perante a multidão que o ouvia.

Entre os cartazes erguidos durante a vigília podia-se ler: "Criem um tribunal especial para Putin", "Sou russo e apoio a Ucrânia", "Libertem Alexey Navalny [opositor do Governo russo]", "Rússia é um Estado terrorista", "Parem o Putin terrorista", "Vamos vencer muito em breve", "Putin, as tuas mãos estão cobertas de sangue inocente", além de várias caricaturas com comparações entre Putin e o ex-líder da Alemanha Nazista Adolf Hitler.

"Estou aqui para exigir o fim da guerra, exigir que a Rússia saia da Ucrânia e que nos deixe em paz, porque somos um país independente e livre. Um dia de guerra é demasiado. Um ano de guerra é demasiado", disse à Lusa uma mulher ucraniana que preferiu não se identificar.

Face ao apoio russo manifestado na vigília, uma jovem ucraniana - que falou à Lusa, mas pediu para não ser identificada -- considerou-o importante, mas apontou que "há milhares de russos a viver em Nova Iorque e só algumas centenas apareceram" em frente ao Consulado da Rússia.

"Este é o único lugar que a comunidade ucraniana em Nova Iorque poderia estar hoje. Isto já dura há um ano e é impossível acreditar que o nosso país está destruído, que as nossas famílias estão em perigo, que muita gente está a morrer", lamentou.

"É importante ver cidadãos russos aqui, porque todo o apoio importa. Contudo, há milhares de russos a viver em Nova Iorque e só algumas centenas apareceram após este ano de guerra. Gostaria de ver mais apoio", frisou a jovem.

Horas antes da vigília, a apenas alguns quilómetros de distância, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou, com uma esmagadora maioria de 141 votos, uma resolução que exige a "retirada imediata" das tropas russas da Ucrânia e pede "uma paz abrangente, justa e duradoura".

O projeto de resolução, elaborado pela Ucrânia com o apoio da União Europeia, obteve 141 votos a favor, sete contra e 32 abstenções dos 193 Estados-membros da ONU, reforçando mais uma vez o isolamento de Moscovo na panorama internacional.

A votação ocorreu numa sessão especial de emergência da Assembleia Geral para assinalar um ano de guerra da Rússia na Ucrânia.