Crónicas

Alberto João Jardim: Herói da Autonomia

Teve dois aliados fortíssimos e decisivos: Francisco Sá Carneiro e a Flama. O primeiro não podia ter morrido. A segunda não pode ser esquecida. Em 2000 a Madeira era o “céu na terra”: o essencial feito e nenhuma dívida

Fez uns honrosos oitenta anos de vida o nosso líder autonómico. É ciclo importante numa vida preenchida em várias etapas, distintas mas complementares, com expectativa de viver quarenta anos como seu pai e tio. Vai no dobro e está para durar!

Estou à vontade para escrever um breve, mas muito sincero, hino ao maestro da Autonomia. Tive sempre a minha independência, que mantenho.

Acompanhei-o de muito perto desde 1978, ano da sua entrada no governo regional, até 1992, ano da minha saída de seu vice-presidente. A meu pedido e anunciado quatro anos antes, quando até falou com o meu pai para eu continuar no governo. A razão da minha promoção a seu primeiro vice-presidente.

Tenho muito orgulho nesses anos a seu lado. Já o elogiei vezes sem conta, como apontei erros dos seus mandatos. No essencial não ficou nada por dizer. Apenas muitos episódios que registei mas não tive oportunidade de publicar. Talvez um dia, como curiosidades de momentos que presenciei e que deviam ser conhecidos.

Enchia-nos de orgulho ouvir os continentais enaltecer Jardim. Adoravam-no como assisti quando com ele passeei no Rossio. E os altos políticos da oposição reconheciam ser imbatível em eleições. Mario Soares incluído. Mais elogiado pelos socialistas da capital do que pelos colegas de partido.

Tenho duas mágoas difíceis de sarar. Uma delas Alberto João ter dito, repetidas vezes, ter ficado estupefacto, por eu ter coincidido com ele nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992, onde estive nos três primeiros dias, quando repetidas vezes estávamos no exterior em simultâneo. Como se para eu ir por minhas expensas seja onde fosse, repito à minha custa, tivesse que dar justificação.

Jardim nunca suportou os que saíram por iniciativa própria. No seu entendimento sair do governo só demitido por sua vontade. Apontar “histórias” de Jogos Olímpicos ou outras miudezas para dar a ideia que não saí por meu pé, magoou fundo. Em 1988 disse-lhe que não continuava no governo e só o ter feito meu pai adiar a sua reforma e me ter promovido a vice-presidente fez-me aceitar ficar uns últimos quatro anos. A despedida oficial foi tranquila em almoço no hotel Tivoli de Lisboa.

A outra mágoa foi me ter impedido de concretizar convite que recebi do dr. Durão Barroso para ser seu vice-presidente no PSD nacional. Nenhuma estrela podia brilhar no PSD-Madeira. Só o sol iluminava.

Mas este texto é para homenagear Alberto João Jardim e a sua intervenção decisiva na conquista da Autonomia. A ele se deve todo o trabalho de liderança e concepção da Autonomia. Tem a sua marca. Não conseguiu tudo o que propôs mas chegou onde ninguém antes se tinha aproximado.

Teve dois aliados fortíssimos e decisivos, a quem nunca ofendeu: Francisco Sá Carneiro e a Flama. Esta ajudava a reforçar a ideia de que, para Portugal, a Autonomia era bem melhor que a independência. Não pode ser esquecida. Sá Carneiro era o seu apoio na capital, o único político de confiança em quem podíamos acreditar. Não podia ter morrido. Mudou o curso da nossa História autonómica. Foi uma perda irreparável que não teve boa substituição. Perdemos um “irmão” aliado e ficámos com anti-autonomistas para dificultar.

Nada que derrotasse Alberto João, mas lá que ficou mais difícil não tenhamos dúvidas. Um exemplo: Sá Carneiro aprovou lei de criação da Zona Franca da Madeira, com todo o seu potencial concorrencial, em 20 de Outubro de 1980. Morre em 4 de Dezembro seguinte. O que era para ser a nossa saída internacional para o futuro acabou num impasse só ultrapassado em 1986 com o prof. Cavaco Silva. E depois disso foi sempre a reduzir a sua competitividade perante as praças europeias concorrentes. Até ao cúmulo do sufoco jurídico do governo de José Sócrates.

Se hoje temos Autonomia devemos à visão, coragem e intervenção de Jardim. Foi a luta de uma vida. Nunca desistiu nem deu por terminado o seu alargamento. É luta sem fim.

Jardim foi um estadista. Alcançou estatuto nacional e internacional, principalmente europeu. Recebido pelo “grande” Jacques Delors, logo após a integração europeia, então presidente da Comissão Europeia, fui testemunha das inúmeras questões colocadas a Jardim sobre a situação sul-africana, no seguimento da visita do presidente Botha à Madeira. E da sua detalhada apresentação da nossa realidade social e económica, depois repetida aos vários Comissários Europeus. Sempre na defesa dos interesses regionais e portugueses. O seu prestígio pessoal levou-o a presidente da Conferência das Regiões Periféricas da Europa, ultrapassando muitos outros interessados portugueses.

Era visita assídua dos vários e sucessivos ministros em Lisboa, onde procurava obter o que não era conseguido pelos secretários regionais. Muitas vezes recorria aos próprios primeiros-ministros. Fosse na esfera militar, católica ou diplomática era sempre enriquecedor estar por perto.

Alberto João Jardim não se faz outro igual. De uma cultura invulgar, era no uso da palavra que sempre surpreendia, sendo inesquecíveis os seus longos discursos na Assembleia Legislativa da Madeira.

É desconhecido qualquer hobby. Era tudo política, mesmo assistir aos jogos do Marítimo. Com um grande dissabor que recusou evitar.

Como todos os governantes, cometeu erros. Antes disso, conduziu a Madeira até o ano 2000, tendo concluído o aeroporto e deixado a dívida pública quase a zero. Tudo, o que era essencial, estava feito e nada havia para pagar. O céu na terra.

Depois foi enganado por uma nova geração de políticos que achava que só com muitas obras havia sucesso político e eleitoral. Para além do mais. E caíram na armadilha da contabilidade paralela para uma dívida inaceitável. Foi o acabar de um ciclo único na vida da Madeira e do Porto Santo. Um período que ainda se arrasta e por muito durará. No bom como no mau.

Mas não gostamos menos de Jardim por causa disso. Sempre lhe perdoámos tudo. Mesmo aquelas “pedradas” nos ingleses, o combate ao “eixo Lisboa-Cascais”, o confronto com a maçonaria, com Soares e os líderes do PSD, que tanto nos surpreendiam.

Foi muita sorte nossa ter aproveitado Alberto João Jardim logo desde o 25 de Abril. Mais uns anos e poderia já não ter a mesma liberdade. Sem a sua liderança a História teria sido outra. A Autonomia seria distinta certamente.

Jardim merece lugar de destaque na História da Madeira. Em Lisboa, já se sabe, nunca reconhecerão o seu papel decisivo para um Portugal democrático. Aqui, temos de expor o seu nome em letras douradas. Podia e devia ter sido no aeroporto. Não foi. Resta encontrar posição ainda de maior destaque. O contrário será inaceitável.

Sondagem

É sempre o barómetro político mais temido. Especialmente quando a amostra é pequena. Não dá qualquer certeza mas indica tendências. Como tenho dito, a muleta eleitoral do PSD não vale nada. Tira credibilidade ao PSD, que precisa estar liberto para estas eleições. Reunir as tropas e … vencer!

O que arrepia é o CDS, mesmo com o que gasta de dinheiro da Assembleia Legislativa da Madeira, em pura propaganda de José Manuel Rodrigues, com a cumplicidade de todos os partidos (!!!), não ter mais de um por cento de votos e estar ao nível do PAN e do PCP. A presidência da Assembleia Legislativa e duas Secretarias Regionais não lhe deram qualquer popularidade. Ou serão os protagonistas que estão esgotados? Estão lá para fechar o partido? Não dão lugar a novas caras?

Os muitos indecisos (25%) votarão mais facilmente no PSD ou na coligação?

Miguel Albuquerque não devia desperdiçar o estatuto de líder partidário preferido com acasalamentos que não valorizam.

As sondagens, na Madeira, têm histórico de pouco acerto. Falham sucessivamente. Mas não fazem grande quem é insignificante.

IRC a 10% é erro

A obsessão devia ser aproveitar a abertura do actual ministro das Finanças para introduzir o conceito de sistema fiscal próprio e, então, iniciar o debate especializado sobre as diferentes taxas a cobrar.

Devo adiantar duas opiniões minhas. Uma de que, o IRC a 10 %, reduz a receita fiscal regional mas não atrai investimento. Só uma taxa de 5 ou 6%, com possibilidade de negociação investimento a investimento, será concorrencial com as demais praças europeias.

O outro aspecto a considerar é que o governo da República não permitirá que as empresas, continentais e açoreanas, se desloquem para a Madeira sem terem a sua verdadeira direcção fixada na Região. Ao contrário o continente perderia toda a sua receita de IRC.