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Sector do pescado na Noruega aposta na sustentabilidade e receia alterações climáticas

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A sustentabilidade e o respeito pela natureza são marcas distintivas do universo do pescado na Noruega e as alterações climáticas preocupam os seus responsáveis, que querem impedir ataques ao ecossistema.

"Os barcos de pesca com os quais operamos têm grande preocupação com a natureza e procuramos sempre o uso de material reciclado e tentamos eliminar o plástico neste circuito", disse Rita Karlsen, da Br. Karlsen, grupo instalado em Husoy, norte do país, e parceiro da Lugrade na Noruega na importação de bacalhau.

De acordo com esta administradora, há a perceção de que o bacalhau está a procurar águas mais a norte, movimento que pode estar relacionado com mudanças no clima.

"O que sentimos é que há mais tempestades, mais dias em que sair para o mar é mais complicado. Mas a rota do peixe também tem sofrido alterações. Neste momento, o peixe é mais pequeno, mas isso deve-se à renovação da geração", explicou aquela responsável.

Christian Chramer, CEO da NSC - Norwegian Seafood Council, estrutura estatal que gere a comunicação da indústria do pescado na Noruega, também explicou que o setor olha com preocupação para as alterações climáticas e que por isso há um controlo grande em todo o processo.

"Há um orgulho muito grande em toda a gente que trabalha nesta indústria. Todos têm essa preocupação. E, por exemplo, nós tentamos que todo o peixe que sai da água seja aproveitado para a alimentação. Além disso, para o ano, a quota de pesca vai reduzir 20%".

Jimmy Tollefsen, proprietário de dois barcos que abastecem a Br. Karlsen, disse à agência Lusa que sente os desafios das alterações climáticas e que o bacalhau, nomeadamente, está a afastar-se para águas mais a norte, ainda mais frias.

"É uma grande preocupação", admitiu, assinalando que os pescadores que para si trabalham e que ganham aproximadamente 100 mil euros por ano também têm essa preocupação e perceção.

Stale Pettersen, que também abastece a Karlsen de peixe, admitiu à Lusa as mesmas preocupações: "As alterações climáticas provocam movimentos diferentes ao peixe. Isso é uma evidência".

"Tudo estamos a fazer para manter a natureza no seu estado. A nossa frota, em 20 anos, por exemplo, nunca perdeu uma rede no mar", disse aquele empresário, que apelou à proteção do ambiente.

Noruega produz em peixe por ano o equivalente a 40 milhões de refeições por dia

A Noruega produz habitualmente 2,9 milhões de toneladas de peixe por ano, o equivalente a 40 milhões de refeições por dia, revelou a NSC - Norwegian Seafood Council, estrutura estatal que gere a comunicação sobre a pesca e pescado naquele país nórdico.

Com vendas para 149 mercados e um volume de negócios de 13 mil milhões de euros, a Noruega é o segundo maior exportador de pescado no Mundo, explicou igualmente a NSC a jornalistas portugueses que estiveram com a Lugrade - Bacalhau de Coimbra naquele país.

Com sede em Tromso e representação em vários países, incluindo Portugal, a NSC revelou também que a território português chegaram até 01 de novembro aproximadamente 37 mil toneladas de bacalhau em todos os seus estados, um valor na ordem dos 314 milhões de euros.

Estes valores de toneladas de bacalhau estão abaixo 09% em comparação com o ano de 2022 (janeiro a outubro nos dois anos), mas o volume de negócios subiu 11%, o que reflete a subida de preços.

O período compreendido entre março e junho é aquele com vendas mais acentuadas e, depois de uma descida acentuada em julho e agosto, volta a disparar a importação.

A pesca do bacalhau tem os seus momentos altos entre fevereiro e abril.

"As águas da Noruega têm as características perfeitas para o crescimento e qualidade do peixe. Em Portugal, temos o mercado consolidado do bacalhau. A ideia da Noruega é controlar muito bem todo o processo de pesca e de distribuição para que a qualidade esteja sempre como nosso foco principal", sintetizou Christian Chramer, CEO da NSC.

Este ano, a NSC prevê investir quase 1,7 milhões na promoção do bacalhau norueguês em Portugal, com um olhar mais atento ao consumidor mais jovem.

Além de bacalhau, Portugal importa da Noruega mais 14 mil toneladas de pescado, nomeadamente salmão.

Lugrade - Bacalhau de Coimbra prevê melhor ano de sempre e quer chegar aos 60 milhões por ano

A Lugrade -- Bacalhau de Coimbra, S.A. prevê um volume de 40 milhões de euros (ME) em 2023, o melhor ano de sempre na faturação, apesar de ter trabalhado oito meses sem a unidade de Torre de Vilela, destruída por um incêndio.

A empresa de Coimbra, que tem uma outra fábrica em Taveiro, esta de produção de bacalhau seco, inaugurou também em 2023, em Casais do Campo, uma outra unidade, embora esta seja de menor dimensão.

Quando for reconstruída a unidade de Torre de Vilela e quando as três estiverem em produção total, a Lugrade prevê chegar aos 60 milhões de euros por ano, para um total de 200 trabalhadores.

Destes 60 milhões de euros por ano, 40 milhões serão para o mercado português.

Com foco na tradição, na qualidade e na confiança, a empresa de Coimbra apresentou no fim de semana em Husoy, na Noruega, um novo produto -- o Magnus, um bacalhau de grandes dimensões e que, este ano, terá disponível 1.400 unidades para o mercado.

"É um bacalhau único, pela sua dimensão, com mais de 5,5 quilos depois de seco [25 quilos no momento da pesca]. Tem lombos muito altos e é um peixe muito macio, com os lombos a lascar, precisamente ao gosto dos portugueses. Estará no mercado com um selo de autenticidade", garantiu o administrador Joselito Lucas.

A Lugrade, este ano também, teve pela primeira vez como principal importador de bacalhau processado precisamente a Noruega, com 37% das suas compras. Destas 2.000 toneladas de bacalhau importado daquele país nórdico, 60% tem a sua origem em Husoy, uma pequena ilha a norte.

O principal parceiro da Lugrade na Noruega é a Br. Karlsen, empresa de Husoy na qual trabalham quase 20 portugueses.

A empresa de Coimbra, fundada em 1987 e que importa ainda bacalhau do Atlântico Norte (35%), Islândia (24%), Gronelândia (03%) e Ilhas Faroé (01%), tem a previsão de aumentar em 40 o seu número de trabalhadores com a abertura da unidade reconstruída em Torre de Vilela, alcançando assim a marca de 200 funcionários.

Em 2023, Portugal importou até finais de outubro quase 37 mil toneladas de bacalhau da Noruega (em média a 8,5 euros o quilo), uma descida de 09% em relação a 2022.

Rita Karlsen, da Br. Karlsen, que agora gere a empresa constituída em 1932 -- é a 3.ª geração nesta companhia familiar que está no "top 10" do norte da Noruega -, admitiu, em declarações aos jornalistas portugueses que acompanharam a Lugrade naquela apresentação, que este ano produziu 1.800 toneladas de bacalhau (em salgado verde).

"Temos uma grande relação com Portugal e agora com a Lugrade. É uma empresa familiar, como nós somos, com um foco grande na qualidade e no compromisso ético. Estamos felizes com esta parceria. Adoramos trabalhar com a Lugrade. Além disso, temos aqui um 'pequeno Portugal' dentro da empresa", explicou, em alusão aos trabalhadores portugueses que ali exercem funções.

A Br. Karlsen, além do bacalhau, é também produtora de salmão e utiliza uma frota de 20 barcos.

Sobre o Magnus, Rita Karlsen admitiu que é um peixe difícil de encontrar, que pode chegar aos 20 anos de vida, mas garantiu que a empresa que lidera tudo fará para continuar a abastecer a Lugrade e o consumidor português com o "melhor pescado do mundo".