Espectro duma revolução inacabada

Quando nos debruçamos para o actual estado da democracia no nosso país, questionamo-nos se realmente valeu a pena o 25 de Abril! Pensar que nos preparamos para (comemorar) os 50 anos da liberdade, pondo por inúmeras vezes em causa a pergunta: será que a maioria dos portugueses se sentem satisfeitos e realizados com a revolução e o rumo que tomou o regime democrático em Portugal? Prova evidente disso são os mais de 50% de abstencionistas que deixaram de acreditar neste modelo de democracia. É que ao longo deste quase meio século, conseguiram-se muitas alterações, alguns benefícios em diversos sectores, mas vejamos que; após 37 anos de adesão à UE, continuamos como um dos países mais pobres do grupo, temos mais de 2 MILHÕES de cidadãos no limiar da pobreza e mais de 10 mil sem abrigo, no caso da R.A. da Madeira, das mais pobres do país, com um dos salários mais baixos dos estados membros, apenas ultrapassados pelos Chipre, Grécia; Lituânia e Malta. E reparem que estamos a falar da hegemonia governativa de 2 partidos, a nível nacional, PS e PSD por vezes coadjuvados por outros partidos que deixaram-se seduzir pelo sistema, onde impera o oportunismo, a vigarice, o compadrio e a corrupção, enquanto que na Madeira foi dum só partido. Agora que os portugueses voltam a ser chamados a elegerem um novo governo pela razão de todos conhecida e das sucessivas consequências dos erros cometidos, vêm os paladinos da liberdade e pregadores da democracia, acenar sob a «ameaça» do espectro do fascismo, do totalitarismo, do extremismo da direita, quando a esquerda empenhou os portugueses (como diz um velho ditado) até à 5.ª geração, e a suposta direita até aqui inexistente, foi cúmplice da nossa miséria, colando-se ao sistema, pois nunca manifestou a coragem para enfrentar e muito menos combater. Aquilo que até aqui a esquerda e a direita não conseguiram fazer, não estará à espera que: após 50 anos os portugueses continuem a acreditar que serão eles mesmos a emendarem os seus próprios erros, daí que a sua incompetência e incapacidade para o efeito acenarem com a ameaça da ascensão duma “extrema direita” existente, mas sim um enorme movimento aglutinando num partido político as forças da sociedade civil que corajosamente enfrentam os oportunistas das asneiras dessa incompetência, fizeram com que os portugueses ressuscitassem as suas esperanças numa nova forma de fazer política e uma nova maneira de estar em democracia, no combate ao maior flagelo da nação; A CORRUPÇÃO. Não tenhamos medo de tentar a mudança, antes tenhamos medo de não tentar e correr o risco de ver que a vida passou e você não arriscou o que deveria, permitindo chegar até aqui com as suas esperanças desvanecidas. Para que possamos «comemorar» os 50 anos da Liberdade, será necessário fazer o que ainda não foi feito: restaurar a democracia, restituir a liberdade, resgatar os valores da sociedade, em suma reconstruir Portugal devolvendo a democracia ao povo, quebrando o que a extrema esquerda quis fazer em 7 meses e que agora bem tentam durante 50 anos, então impedida reconquistada com o 25 de Novembro de 1974, que bem poderia ser designado o dia da democracia portuguesa.

A. J. Ferreira