Madeira

"Mel não pode ser visto como um adoçante da poncha"

Devido às vagas de calor, o último ano não foi muito benéfico para os apicultores da Madeira.

Foto Hélder Santos/ASPRESS
Foto Hélder Santos/ASPRESS

O último ano não foi muito vantajoso para as abelhas e os cerca de 300 apicultores da Madeira, muito à conta das vagas de calor que se fizeram sentir, essencialmente, em Agosto.

Na ressaca da 7.ª Mostra da Poncha e do Mel, que decorreu no último fim-de-semana, na freguesia da Serra de Água, um dos produtores que marcou presença na iniciativa - inclusive como um dos oradores na palestra técnica desenvolvida no certame - Rúben Pedro, proprietário da Florenças Valbom, explicou ao DIÁRIO e TSF o porquê de 2022 ter ficado aquém das suas expectativas.

Apesar de ter havido muita flor não houve néctar. Secou tudo. O que aconteceu? As abelhas não tiveram mel suficiente e neste momento está a haver uma enorme quebra. Por exemplo, desde que tirei o mel em Setembro perdi à volta de 30 colmeias, porque não há mel. Agora em 2023 será complicado. Rúben Pedro

Face a este decréscimo na produção de mel regional, que já se vai sentir ao longo de 2023, o jovem apicultor assume que em virtude da menor quantidade o preço deveria subir, como 'manda' a lei da oferta e da procura, mas não será isso que irá acontecer.

"Devia subir, porque o vidro e os rótulos passaram para o dobro do preço e o preço do mel também devia subir, mas o problema é que em termos de concorrência, na Madeira, é muito à base do «se ele faz a 9 eu faço a 8», por exemplo. Se eu subir o preço perco automaticamente clientes, então tenho de perder a minha margem", explica.

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Rúben Pedro lamenta a mentalidade de quem produz e comercializa mel na Madeira, explica que a sua regular necessidade para fazer poncha não acrescenta valor ao produto e aponta a uma solução.

O mel não pode ser visto como um adoçante da poncha. Tem de ser visto como um produto de grande qualidade e que deve ser valorizado, de valor acrescentado. Os Açores, por exemplo, já têm o mel com Denominação de Origem Protegido (D.O.P). É mesmo mel dos Açores e a Madeira não tem nada disso. É isso que falta. O nosso mel, ao ser vendido para a poncha, o produtor perde imenso dinheiro e o próprio produto não é valorizado. É o caminho mais fácil e mais curto, é verdade, mas temos de evoluir. Na minha opinião temos de criar uma estrutura, uma cooperativa, por exemplo, e trabalhar com o Governo. Não ser o Governo a fazer tudo, como tem sido feito até agora. Rúben Pedro

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Ainda segundo o produtor que possui uma melaria sediada logo à entrada do Parque Empresarial de Santana, os apicultores madeirenses têm de aproveitar "tudo o que a colmeia dá".

"Se for para vender só mel já tinha ido à falência. O meu principal negócio é vender os 'packs' de derivados e o mel é um complemento. Temos de perceber isso e é isso que tem faltado", sublinha.

Rúben Pedro colocou o seu mel em saquetas de abertura fácil, com 10 gramas, uma solução que considera “mais higiénica” e de “abertura fácil” para quem opte por beber um chá, a título de exemplo.

É também uma opção “mais saudável” para os lanches das crianças nas escolas ou para atletas - funcionando basicamente como uma barra energética. Além das saquetas, a ‘Florenças Valbom’ produz chocolates com recheio de mel.

Toda uma série de produtos que as abelhas oferecem que até podem chegar à cosmética, como a produção de sabonetes ou cremes naturais - um ramo de negócio que Rúben também sabe poder explorar, mas que carece de certificação do Infarmed pela própria composição química.

Antes de 2022, este apicultor conseguia extrair mel três vezes ao ano e contribuía anualmente com cerca de uma tonelada e meia.