Fact Check Madeira

Miguel Albuquerque sempre desvalorizou o Chega na Madeira?

Miguel Albuquerque sempre desvalorizou o Chega na Madeira e recusou entendimentos com o partido de André Ventura.
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“No contexto regional, o Chega não tem relevância.” Esta foi a resposta que Miguel Albuquerque, presidente da Comissão Política Regional da Madeira do PSD, deu, ontem, quando desafiado pelos jornalistas a reagir às lavras do líder nacional do CHEGA sobre o Governo Regional, que também é liderado por Albuquerque.

Na V Convenção Nacional do partido, André Ventura prometeu “fazer mossa e fazer tremer” o Governo Regional, a propósito das eleições legislativas para a Assembleia regional da Madeira, que se realizam neste ano.

Miguel Albuquerque desvalorizou tal afirmação dizendo que, “no contexto regional o Chega não tem relevância”, apesar de admitir que isso pode mudar no futuro, tudo dependendo dos eleitores.

Mas Miguel Albuquerque sempre desvalorizou o Chega na Madeira? Vejamos.

O presidente do PSD-Madeira já se manifestou favorável a acordos e coligações com o Chega, tanto a nível nacional como regional. A condição de Miguel Albuquerque é que isso sirva para afastar a esquerda do poder, no continente, ou evitar que ela chegue ao Governo na Madeira.

Em Janeiro de 2021, no rescaldo das eleições presidenciais em que André ventura foi candidato, Miguel Albuquerque evitou pronunciar-se directamente sobre uma coligação com o Chega na Madeira, mas fez questão de deixar claro algo. O Chega “tem de ser respeitado” por estar legalizado pelo Tribunal Constitucional.

“Sou totalmente contra o Bloco de Esquerda (BE)” mas isso não significa “ilegalizar o BE. A mesma coisa se passa com o Chega”, argumentou.

Em Fevereiro do mesmo ano, Miguel Albuquerque recebeu André Ventura na Quinta Vigia. Na sequência do encontro, André Ventura declarou publicamente algo que não foi desmentido por Albuquerque. “Há, de facto, uma proximidade grande entre o Chega e o PSD-Madeira, do ponto de vista do pensamento, do que achamos necessário para o País e para a Região. Isso vai facilitar ou dificultar o trabalho político aqui, vamos ver como é que corre.”

Em Abril do mesmo ano, 2021, Miguel Albuquerque admitiu incluir o Chega numa aliança pós-eleitoral no Funchal, na sequência das eleições autárquicas, para garantir a governabilidade do concelho, se isso fosse necessário.

Ao Diário de Notícias de Lisboa, referindo-se, ao Chega, admitiu uma aliança com o partido de André Ventura: “O PSD para fazer uma aliança instrumental pós-eleitoral, tal como aconteceu nos Açores, não tem de comungar de certos princípios que o Chega defende”.

Em Junho seguinte, André Ventura esteve no Funchal, na apresentação de candidatos autárquicos, disse que o seu partido pretendia “dar um abanão na estrutura de poder que reina na Madeira”. Albuquerque, então, não desvalorizou o Chega. Não será por, agora, Ventura anunciar o mesmo, que a desvalorização acontece.

Ainda a propósito das eleições presidenciais de 2021, em Agosto de 2020, soube-se que Ventura convidou Albuquerque para o apoiar na sua candidatura. A resposta do presidente do PSD-Madeira foi de que ainda não se tinha decidido ou não por uma candidatura própria.

No início do mesmo mês, Albuquerque defendeu que o PSD deveria dialogar com várias forças políticas, incluindo, entre elas, o Chega.

“O PSD deve é fazer aquilo que Sá Carneiro fez em 1979. Também fez a AD [Aliança Democrática] numa altura em que se dizia que o CDS era fascista”, afirmou o presidente do PSD-Madeira, numa alusão a um hipotético acordo de centro-direita com o CDS, Chega e Iniciativa Liberal, para afastar a esquerda do poder.

Pelo exposto, sim, é falso que Albuquerque sempre tenha desvalorizado o Chega na Madeira. A valorização explícita do partido de Ventura aconteceu, pelo menos no âmbito das eleições autárquicas no Funchal, e implícita em vários outros momentos. A nível nacional, Albuquerque também valorizou o Chega numa solução de centro-direita para afastar a esquerda.