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ONG criticam dirigentes libaneses por bloqueio às investigações da explosão de Beirute

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A Amnistia Internacional (AI) e a Human Rights Watch (HRW) criticaram hoje as autoridades políticas libanesas pela obstrução à investigação da grande explosão no porto de Beirute em 2020 que provocou mais de 200 mortos.

As duas organizações não-governamentais (ONG), entre outras críticas, denunciaram a campanha promovida pela poderosa formação xiita Hezbollah e pelo partido xiita AMAL contra o juiz instrutor, Tarek Bitar, traduzida numa série de petições contra o magistrado e que acabaram por paralisar o processo em dezembro de 2021.

"As autoridades libanesas deixaram bem claro que não estão interessadas na verdade e que utilizam todas as ferramentas a sua disposição para obstruir a investigação interna e proteger os políticos acusados no caso", denunciou na quinta-feira a secção norte-africana da AI na sua conta Twitter.

Mais de dois anos após a enorme detonação no porto da capital libanesa, que provocou pelo menos 218 mortos e 6.500 feridos, a ausência de resultados da investigação provocou uma enorme tensão social que se associa à crise económica que atinge o país há vários anos.

Os esforços de Bitar para que diversos ex-ministros relacionados com a explosão fossem convocados a depor não resultaram devido à lentidão do processo para a retirada da imunidade, enquanto o magistrado era acusado de comportamento sectário e partidário.

Para a Amnistia, o bloqueio ao juiz Bitar equivale ao "fim de uma investigação interna" e pede à comunidade internacional que "esteja atenta aos apelos das vítimas para que se promova uma investigação internacional".

Na sua mensagem, a Amnistia aproveitou por último para condenar como "absurdas" as multas contra os participantes num protesto dos familiares das vítimas, que lançaram pedras em direção ao Palácio da Justiça enquanto exigiam a reativação das pesquisas e assinalarem que "dois anos e meio após uma explosão que dizimou meia cidade, ninguém foi responsabilizado".

Por sua vez, a HRW considera, em termos gerais, que o caso da explosão de Beirute "ilustrou claramente a falta de independência do poder judicial libanês e a sua suscetibilidade à ingerência política".

A ONG avisou ainda que a decisão anunciada em setembro pelo ministério da Justiça e Conselho superior judicial para designar um juiz suplente é uma medida que poderia ser considerada como ilegal por peritos e magistrados contactados pela organização.

À semelhança da Amnistia, a HRW pede à comunidade internacional para acelerar as investigações, como já prometeu o Presidente francês Emmanuel Macron, acusado pela ONG de não ter cumprido as suas "promessas de timbres neocolonialistas" aos familiares dos mortos e sobreviventes da grande explosão do porto.