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Guterres diz que África atravessa "tempestade perfeita" e apela ao alívio da dívida

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O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou hoje que os países africanos atravessam a "tempestade perfeita", referindo-se ao acumulado de várias crises, tendo apelado ao alívio da dívida desses Estados.

Questionado pela Lusa acerca da situação que os países africanos atravessam, num 'briefing' à imprensa em Nova Iorque, Guterres defendeu que se tem posicionado a favor dos países em desenvolvimento, nomeadamente dos países africanos, uma vez que a maioria deles sofre em várias frentes, desde a pandemia de covid-19, passando pelas alterações climáticas, até aos impactos da guerra na Ucrânia.

"A maioria desses países está face a uma 'perfect storm', uma 'tempestade perfeita' se traduzir à letra para português. Muitos desses países não tiveram vacinas (da covid-19) a tempo. Os fundos que - na Europa e nos Estados Unidos - foi possível mobilizar, imprimindo dinheiro, esses países em desenvolvimento não conseguiram fazer, senão as suas moedas imediatamente se desvalorizariam de forma inaceitável", começou por explicar o secretário-geral, na sede da ONU.

Referindo-se ao período pandémico, Guterres lamentou que não tenha havido alívio da dívida em África, o que fez acentuar os problemas no continente.

"Não houve alívio da dívida, (...) não houve acesso a financiamentos beneficiados, quer com subsídios, quer com taxas de juro mais baixas. Os países em desenvolvimento enfrentam gravíssimos problemas, como as pequenas ilhas que viviam do turismo e não tiveram receitas durante dois anos, além do impacto das alterações climáticas e dos altos preços da energia e da alimentação, de quem são inteiramente dependentes", afirmou.

"Esses países sofrem agora as consequências da guerra na Ucrânia e isso faz com que a situação seja muitas vezes desesperada, uma vez que não há espaço fiscal para responder às necessidades dos respetivos povos. Vemos a pobreza e a fome a aumentarem de uma forma dramática", sublinhou o ex-primeiro-ministro português.

Nesse sentido, Guterres insistiu na adoção de medidas imediatas para dar liquidez a essas economias e para aliviar a divida desses países.

Além disso, o líder das Nações Unidas reforçou ainda a necessidade de uma reforma do sistema financeiro global, "porque foi definido pelos ricos a favor dos ricos e não serve, de maneira nenhuma, os interesses dos países em desenvolvimento, nomeadamente os países africanos".

O líder da ONU apresentou hoje as suas prioridades à imprensa antes das reuniões de líderes internacionais na Assembleia Geral, agendadas para a próxima semana.

A guerra na Ucrânia, as várias crises que afetam o mundo, como fome e conflitos, e as alterações climáticas serão tema central da 77.ª Assembleia-Geral da ONU, que arrancou na terça-feira em Nova Iorque.

O evento decorre sob o tema "Um momento divisor de águas: soluções transformadoras para desafios interligados", sendo que o primeiro dia do Debate Geral de alto nível será em 20 de setembro.

Entre as dezenas de figuras políticas aguardadas na semana de alto nível estão o Presidente norte-americano, Joe Biden, o chefe de Estado do Brasil, Jair Bolsonaro, ou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov.

Portugal estará representado pelo primeiro-ministro, António Costa, que se deslocará a Nova Iorque para participar pela segunda vez desde que é líder do executivo português na Assembleia-Geral.