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Guerra na Ucrânia, crises globais e clima marcam arranque da Assembleia-Geral da ONU

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A guerra na Ucrânia, as várias crises que afetam o mundo, como fome e conflitos, e as alterações climáticas marcaram a abertura da 77.ª Assembleia-Geral (AG) da ONU, que arrancou ontem em Nova Iorque.

No seu discurso de abertura, o presidente da 77ª AG da ONU, Csaba Korosi, afirmou que a guerra na Ucrânia foi um "ponto de viragem para todos nós", apelando ao respeito e proteção dos valores e princípios da carta das Nações Unidas, que foram despeitados através da invasão russa.

"Ao iniciarmos a nossa 77.ª sessão, fazemos isso num mundo de divisões geopolíticas cada vez maiores e de incerteza prolongada. (...) Temos de adotar uma abordagem preventiva e acabar com conflitos e crises antes mesmo de começarem. Esta guerra tem de ser travada. Mata pessoas, mata o desenvolvimento, mata a natureza e mata os sonhos de milhões", frisou o húngaro.

O diplomata advogou ainda que os conflitos ao redor do mundo estão a criar "convulsões humanitárias não vistas desde a Segunda Guerra Mundial" e a testar as forças institucionais.

Além das ofensivas bélicas, Csaba Korosi destacou as temperaturas recorde que se têm registado nas últimas semanas em vários pontos do globo, assim como inundações que têm destruído diferentes territórios, afirmando que "parece que a Mãe Natureza está a ripostar".

"À medida que o nosso planeta aquece e os recursos naturais se tornam escassos, os conflitos pioram. A crise da água está prestes a tornar-se na nossa próxima maior ameaça. Nas últimas semanas vimos temperaturas recordes, incêndios violentos e inundações devastadoras", observou.

Contudo, declarou que o ser humano consegue ser ainda mais destruidor do que a natureza, sublinhando que "nunca nos últimos 40 anos o risco de usar armas nucleares foi maior do que é hoje".

"Essa realidade sinistra pede uma união em torno da questão do desarmamento. Isso vale também para as armas pequenas e leves, cuja proliferação é um grande obstáculo ao nosso desenvolvimento e progresso em todo o mundo", disse.

Na visão do diplomata húngaro, que substituiu no cargo Abdullah Shadid, diplomata das Maldivas, o mundo não voltará ao "antigo normal" de antes da pandemia de covid-19, avaliando que a única maneira de alcançar melhores resultados é "transformar".

"O mundo está à espera de respostas nas Nações Unidas. Como principal órgão deliberativo da Organização, a AG tem uma responsabilidade especial. Pretendo aproveitar os grandes talentos desta comunidade de Estados-Membros para forjar as soluções sistémicas necessárias para transformar o nosso mundo", disse.

"Ao aceitar este privilégio, (...) prometi que a imparcialidade seria a marca registada da nossa operação. A minha equipa e eu faremos o possível para buscar 'soluções através da solidariedade, sustentabilidade e ciência' -- o lema que escolhi para esta presidência", acrescentou Csaba Korosi.

O húngaro concluiu o seu discurso recordando que as Nações Unidas foram criadas "das cinzas da guerra e da destruição com a intenção de ser um poço de soluções", pelo que responder aos desafios mais urgentes da humanidade exige o revigoramento do multilateralismo".

Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, discursou na abertura desta nova sessão, antevendo que os próximos meses continuarão a ser de teste à "força e a durabilidade do sistema multilateral" que a ONU representa.

A 77.ª AG da ONU, que reunirá em Nova Iorque chefes de Estado e de Governo de todo o mundo, arrancou hoje sob o tema "Um momento divisor de águas: soluções transformadoras para desafios interligados", sendo que o primeiro dia do Debate Geral de alto nível será em 20 de setembro.

Entre as figuras políticas aguardadas na semana de alto nível estão o Presidente norte-americano, Joe Biden, o chefe de Estado do Brasil, Jair Bolsonaro, ou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov.

Portugal estará representado pelo primeiro-ministro, António Costa, que se deslocará a Nova Iorque para participar pela segunda vez desde que é líder do executivo português na Assembleia-Geral.

Além da guerra na Ucrânia, que se espera que seja o tema dominante do evento, também a crise alimentar, alterações climáticas e a educação serão abordadas na ONU.