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Democratas nos EUA passam para frente nas projecções eleitorais para ganhar o Senado

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O partido democrata passou para a frente nas projeções de vitória no Senado nas eleições intercalares de novembro, numa altura em que há um acordo de princípio para aprovar um dos maiores pacotes legislativos da era Joe Biden. 

Depois de um ano com as contas a favorecer o partido republicano, o modelo algorítmico FiveThirtyEight registou uma inversão das probabilidades esta semana. Os democratas são agora os favoritos à vitória, ainda que por margens apertadas: a probabilidade de que vençam é de 56 em 100. No início da semana, a probabilidade era de 54 em 100 a favor dos republicanos. 

Segundo explicou à Lusa o cientista político Thomas Holyoke, há vários fatores que estão a contribuir para uma melhoria da posição dos democratas a caminho das intercalares. 

"A agenda de Biden está repentinamente viva e possivelmente bem de saúde", afirmou o analista, referindo o apoio do senador moderado Joe Manchin ao pacote legislativo "The Inflation Reduction Act of 2022", um derivado da legislação "Build Back Better" que ele bloqueou em 2021. 

"É um grande pacote legislativo sobre alterações climáticas, saúde e impostos, uma enorme parte da agenda de Biden que parecia ter sido deixada na hora da morte", frisou. 

A legislação vai ser submetida a votos no Senado na próxima semana e depois fará o seu caminho para a Câmara dos Representantes, que os democratas também controlam.

"Se isto passar, significará que a maior parte da agenda de Biden será concretizada, com uma maioria muito estreita no congresso", afirmou Holyoke. "Este tipo de conquistas torna mais provável que pessoas que talvez estivessem desapontadas com os democratas agora estejam inclinadas a apoiá-los". 

O acordo com Manchin para aprovar este pacote de 739 mil milhões de dólares viabiliza investimentos direcionados às energias limpas e crise climática, redução dos custos de seguros de saúde e alguns medicamentos, e aumento de impostos para as maiores empresas e contribuintes mais abastados. 

"Há muito nesta proposta do Senado que lida não apenas as alterações climáticas mas também com a inflação, e isso toca de forma mais direta os assuntos que influenciam os eleitores", frisou Holyoke. 

Apesar de ter havido uma ligeira contração do PIB norte-americano no segundo trimestre (-0,9%), o analista considera que "há uma boa hipótese" de que o país "regresse ao crescimento no próximo trimestre", a par da descida do preço da gasolina. Havendo uma redução da inflação, "os democratas estarão numa posição muito melhor", considerou o especialista. 

O modelo FiveThirtyEight indica que o resultado mais provável da eleição é que os democratas fiquem com 53 assentos no Senado, mais três que os que têm agora.

O outro fator relevante para a mudança é o tipo de candidatos que se irão apresentar em novembro. Os republicanos têm mais lugares a voto nestas eleições, 21 contra 14 dos democratas. 

"Os republicanos parecem estar a promover candidatos fracos", indicou Thomas Holyoke, citando Mehmet Oz na Pensilvânia e Hershel Walker na Geórgia, que está "a tornar-se um embaraço para o partido". 

Alguns candidatos são considerados fracos e outros demasiado próximos da extrema-direita, o que não costuma ter bons resultados no Senado. 

As eleições intercalares de novembro vão decidir o controlo do Congresso e a Câmara dos Representantes, atualmente com maioria democrata, deverá mudar de mãos. O modelo de simulação FiveThirtyEight dá uma probabilidade de 83 em 100 de vitória dos republicanos. 

"Na Câmara dos Representantes, os candidatos podem ser mais extremistas e sobreviver, como a Marjorie Taylor Greene, mas no Senado isso é muito mais difícil de fazer", explicou Holyoke. "Os republicanos do Senado têm alguns maus candidatos e penso que isso vai penalizá-los". 

O cientista político não acredita que a revogação do direito ao aborto pelo Supremo Tribunal venha a ter influência nas intercalares, porque motiva eleitores tanto à esquerda como à direita e dinamiza sobretudo aqueles que já estão muito envolvidos na política e planeavam votar de qualquer maneira. 

Também o impacto das audiências da comissão parlamentar pode ser residual. O efeito dos trabalhos da comissão nota-se mais, segundo o analista, no apoio ao ex-presidente. 

"As audiências da comissão parlamentar parecem estar, lentamente, a lascar o apoio a Trump", indicou. "Há republicanos que estão a azedar em relação a Trump e parecem não querer que ele seja o candidato presidencial".