A Guerra Mundo

ONU alerta que crise de custo de vida atingirá todos os países

None
Foto EPA

O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou hoje que nenhum país ficará intocado pela crise de custo de vida causada pela guerra, cujo impacto na segurança alimentar, na energia e nas finanças é "sistémico, severo e acelerado".

Guterres falava no lançamento do mais recente relatório, três meses após a invasão russa da Ucrânia, do "Global Crisis Response Group" das Nações Unidas sobre a forma como a guerra está a afetar pessoas em todo o mundo.

"As pessoas e os países vulneráveis já estão a ser duramente atingidos, mas não se enganem: nenhum país ou comunidade ficará intocado por esta crise de custo de vida", advertiu.

O secretário-geral da ONU insistiu em que "só há uma maneira de impedir esta tempestade: a invasão russa da Ucrânia tem de acabar", mas até lá há que agir.

Neste contexto, anunciou que duas 'task forces' - coordenadas por Rebeca Grynspan, responsável pelo órgão da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), e por Martin Griffiths, responsável pela ajuda humanitária - estão a trabalhar com todas as partes envolvidas para conseguir um acordo que permita "exportar através do Mar Negro alimentos produzidos pela Ucrânia" mas também "o acesso de alimentos e fertilizantes russos aos mercados globais".

Os dois grupos "têm trabalhado de perto com todas as partes" e nos últimos dez dias "mantiveram contactos diretos com Moscovo, Kiev, Ancara, Bruxelas e Washington", referiu Guterres, sem dar detalhes, pois dizer mais "poria em risco as hipóteses de sucesso", segundo referiu.

"Este acordo é essencial para centenas de milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, incluindo na África Subsariana", sublinhou.

"O relatório deixa claro que o impacto da guerra na segurança alimentar, na energia e nas finanças é sistémico, severo e acelerado" e por isso, ao "derramamento de sangue e sofrimento" junta-se a ameaça de "uma onda sem precedentes de fome e destituição, deixando o caos social e económico".

Os preços dos alimentos estão perto de máximos históricos e os dos fertilizantes mais do que duplicaram, referiu o secretário-geral da ONU, para sustentar que "a crise alimentar deste ano tem a ver com a falta de acesso", mas "a do próximo ano pode ser de falta de comida".

Os preços recorde da energia vieram agravar o colapso económico devido à pandemia covid-19, como mostra o relatório, e o número de pessoas severamente atingidas por escassez de alimentos duplicou nos últimos dois anos.

O Programa Alimentar Mundial estima que os efeitos da guerra podem fazer aumentar em 47 milhões o número de pessoas que enfrentam uma grave insegurança alimentar em 2022, referiu ainda Guterres.

O secretário-geral da ONU pediu também a intervenção do sistema financeiro global para que sejam disponibilizados os fundos necessários aos governos para manterem a economia a funcionar, frisando que "será necessária uma ação global para resolver esta crise global".

A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de quase 15 milhões de pessoas de suas casas -- mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,9 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

A ONU confirmou hoje que 4.266 civis morreram e 5.178 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 105.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.