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Todos somos Portugal

E a portugalidade não colide com o modo de ser madeirense, uma forma diferente de pensar e viver na Madeira

O dia 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, leva-me a fazer algumas reflexões que vão para lá do que é habitual na celebração desta data tão importante.

A minha primeira reflexão é sobre as dúvidas levantadas, aqui no nosso arquipélago, tornado pela Constituição da República Portuguesa uma Região Autónoma, sobre a nossa integração no Estado Português. Isto parece acontecer de vez em quando, principalmente quando dá jeito desviar a atenção de alguns problemas internos ou mandar as culpas para o lado de lá.

Ainda recentemente Miguel Albuquerque, na qualidade de Presidente do Governo Regional, questionou se valia a pena a Madeira continuar integrada na República. Não há razão que o justifique, porque não há um único madeirense que não se sinta português, nem que a Madeira sinta que não faz parte de uma realidade chamada Portugal, e que Portugal não faça parte do quadro mental e emocional de quem aqui nasceu ou vive.

Este questionamento, sem que daí resulte qualquer benefício para os madeirenses, que alimenta apenas um contencioso partidário que procura dividir, cria uma tensão que fere a portugalidade e o nosso sentimento de afinidade e de amor por Portugal.

E a portugalidade não colide com o modo de ser madeirense, uma forma diferente de pensar e viver na Madeira, uma maneira própria de ser português, que o Professor Paulo Miguel Rodrigues definiu de “madeirensidade”. Aliás, tal como há algum tempo os açoreanos classificaram, com o mesmo intuito, a “açorianidade”. A riqueza de Portugal, está pois, nesta diversidade concentrada que enriquece a nossa identidade, e promove uma coesão ímpar num dos países mais antigos do mundo e dos que têm fronteiras estáveis há mais tempo.

A minha segunda reflexão é sobre as nossas comunidades e a relação próxima e afetiva que mantemos com os portugueses residentes no estrangeiro. Aqui na Madeira o PSD tem procurado fomentar divisionismos, veiculando informações falsas e manipulando uma série de factos que provocaram uma crispação pouco saudável no ambiente social e político, particularmente com os portugueses e lusodescendentes da Venezuela que agora residem na Madeira. Muito sinceramente, na minha recente deslocação aquele fantástico país da América Latina, não senti na nossa comunidade a atmosfera criada na ilha. Os portugueses que vivem no estrangeiro ou os que regressaram ao país e à nossa região, merecem todo o nosso respeito, e esse respeito começa no direito às suas opções políticas livres de condicionalismos pouco condizentes com um sistema democrático. Da minha parte terão sempre a maior consideração, independentemente em quem votem ou quem apoiem politicamente.

E isto leva-me à terceira reflexão, sobre estes portugueses que tenho tido a honra de conhecer e que são uma inspiração pelo amor que têm à sua terra e pelo empenho com que defendem o nosso modo de ser, a nossa identidade, a nossa cultura. Todos os propósitos são poucos para valorizá-los, sendo que o facto do 10 de junho ter-se começado a celebrar junto de uma comunidade no estrangeiro, foi uma bonita forma de concretizar o Dia das Comunidades. Este ano estarei no Reino Unido, com estes nossos compatriotas, a festejar Portugal.

É um dia de homenagem e de valorização, tal como o roteiro “Portugal No Mundo: Caminhos Para Valorização Das Comunidades Portuguesas”, a iniciativa que tenho desenvolvido nas minhas visitas oficiais como Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, colocando em evidência uma série de áreas que permitem reconhecer a importância dos portugueses na afirmação do nosso país no mundo.

Como já escrevi, a cada 10 de junho celebramos Portugal, Portugal no mundo e os portugueses que cruzaram terra e oceanos, e têm voz nos cinco continentes. A diáspora leva Portugal ao mundo e traz o mundo a Portugal. É este o maior sentido das nossas comunidades.