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ONU diz que mais de 17 mil pessoas foram forçadas a fugir após investidas em Cabo Delgado

Foto LUÍSA NHANTUMBO/LUSA
Foto LUÍSA NHANTUMBO/LUSA

Mais de 17 mil pessoas, maioritariamente mulheres e crianças, foram forçadas a fugir de suas casas nos distritos de Ancuabe e Chiure, na província moçambicana de Cabo Delgado, após os ataques da semana passada, informou a ONU.

Em conferência de imprensa, o porta-voz do secretário-geral, Stéphane Dujarric, fez na quinta-feira uma breve atualização sobre a situação em Moçambique após os ataques registados na semana anterior, indicando que, até ao momento, as organizações humanitárias ajudaram mais de 1.700 pessoas, enquanto o serviço aéreo humanitário da ONU continua a transportar suprimentos.

De acordo com Dujarric, desde o início do ano a Organização das Nações Unidas (ONU), juntamente com os seus parceiros, conseguiu chegar a 100.000 pessoas em Cabo Delgado, sendo que 'kits' de alimentação, educação e higiene têm sido distribuídos à população local.

"O nosso objetivo é alcançar 84.000 pessoas com assistência humanitária regular nos distritos de Ancuabe e Meluco. E, mais uma vez, lembramos a todas as partes em conflito que devem respeitar e proteger os civis, bem como facilitar a ajuda humanitária rápida, segura e desimpedida aos civis necessitados", afirmou o porta-voz de António Guterres, na sede da ONU, em Nova Iorque.

"Também é fundamental que pessoas vulneráveis - incluindo idosos, pessoas com deficiência, mulheres grávidas e crianças desacompanhadas ou separadas -- sejam alcançadas com alimentos, abrigo, proteção e outras ajudas urgentes o mais rápido possível", concluiu.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse na quinta-feira que os grupos rebeldes que têm aterrorizado Cabo Delgado estão enfraquecidos e em debandada, justificando as incursões dos insurgentes em pontos novos do sul da província.

Segundo o chefe de Estado moçambicano, os rebeldes que aterrorizam a província desde 2017 estão a fugir para o sul de Cabo Delgado procurando alimentos, devido às operações militares que estão a ser desenvolvidas pelas forças moçambicanas, apoiadas pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e pelo Ruanda.

Testemunhos feitos à Lusa na última semana indicam, pelo menos, oito mortes desde dia 05 de junho, no distrito de Ancuabe, incluindo de líderes comunitários, algumas por decapitação, numa altura em que os residentes se queixam de ainda haver vários desaparecidos.

Num dos ataques foram abatidos seguranças de uma mina de grafite, utilizada a nível global nas novas baterias de automóveis elétricos, enquanto outra empresa mineira do mesmo material suspendeu as operações logísticas pela principal estrada da província.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a SADC permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.