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ONG diz que reconstrução de Cabo Delgado continua "adiada"

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Foto: Lusa

A organização não-governamental moçambicana (ONG) Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD) considerou hoje que a reconstrução da província de Cabo Delgado, norte do país, alvo de uma insurgência armada, continua "adiada".

O CDD assinalou em comunicado que apenas no distrito de Quissanga há alguns edifícios públicos reabilitados, como é o caso do comando distrital da Polícia da República de Moçambique (PRM).

A vila de Mocímboa da Praia, a mais vandalizada pelos grupos armados, não teve obras dignas de registo, refere o documento.

Em Palma, apenas a sede da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, "brilha" no meio dos escombros que sobraram, depois do ataque de março de 2021, diz ainda o texto.

Os três bancos que funcionavam na vila continuam encerrados, depois do saque de grandes quantias em dinheiro de que foram alvo.

O CDD recorda que "depois do ataque de 24 de março de 2021 pelos grupos armados, pelo menos 60 milhões de meticais (cerca de 900 mil euros) foram roubados", com suspeitas nunca esclarecidas a recaírem sobre elementos das Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas.

"A falta de serviços bancários é uma das principais queixas das famílias que já retornaram à vila de Palma", avançou o texto.

Enquanto as principais infraestruturas públicas continuam destruídas, as autoridades locais têm estado a pressionar as famílias deslocadas, sobretudo aquelas que têm vínculo com o Estado, a regressarem às suas zonas de origem, observou o CDD.

Aquela ONG criticou o que considera secundarização do governo da província de Cabo Delgado na execução do plano de reconstrução e centralização do processo pelas autoridades instaladas em Maputo.

"Não é do interesse do Governo central que o plano de reconstrução seja implementado pelas autoridades locais de Cabo Delgado, pois elas aparecem apenas no segundo plano", acusou.

"O Plano de Reconstrução de Cabo Delgado visa atender a questões específicas da província, que têm que ver com a reconstrução de infraestruturas e do tecido socioeconómico profundamente afetado pelo extremismo violento", notou o CDD.

Esse trabalho deveria ser feito por entidades que têm sensibilidade quanto ao ambiente que se vive em Cabo Delgado, pelo que a responsabilidade e liderança da implementação do plano devem ser confiadas ao governador da província, concluiu.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, a norte, junto à Tanzânia, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.