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Associação Portuguesa de Imprensa lamenta indiferença para com o sector

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O presidente da Associação Portuguesa de Imprensa lamentou hoje a "indiferença" para com o setor, incluindo no Orçamento do Estado, e alertou que o segundo semestre vai ser mais difícil para estes media.

"É muito importante essa palavra", a indiferença, "porque é a que nós usamos há dois ou três anos" e que "do nosso ponto de vista retrata melhor as inúmeras conversas, reuniões, eu sei lá, conferências que temos tido com governos, com políticos e inclusivamente com responsáveis da Administração Pública", afirmou à agência Lusa João Palmeiro.

"Não nos podemos queixar que não nos recebam, não nos podemos queixar que não nos oiçam, mas a indiferença é o único resultado de tudo isso", sublinhou o presidente da associação.

Em comunicado, a APImprensa manifestou-se hoje "indignada com a contínua indiferença do Orçamento do Estado para com o setor da imprensa", pois, "mais uma vez, nenhuma das propostas de alteração" relativas ao setor foi aprovada.

A APImprensa destaca que foram feitas, pelo menos, sete propostas de vários partidos, com exceção do PS, e "continua a completa indiferença dos governos" para com este setor.

"Ao ponto de nós, este ano, termos lançado estas conferências para ver se descobrimos aí não só uma maneira, como temas que possam de alguma forma modificar e melhorar o interesse pela situação em que os media em geral estão, especialmente os jornais e as revistas", explicou João Palmeiro.

Agora, "se continuar a indiferença, o que nós sabemos é que no segundo semestre deste ano acabam as disponibilidades de papel a preços que estavam previstos e orçamentados" para as empresas no início do ano, alertou.

Além disso, "a continuar essa indiferença, o que sabemos é que o investimento publicitário vai continuar a baixar" e "vai ser cada vez mais difícil fazer a cobertura de eventos que sejam em simultâneo, que sejam mais longe das redações", avisou o presidente da APImprensa.

"Portanto, o trabalho jornalístico vai sofrer e a forma como os cidadãos acedem à informação vai ser cada vez mais complicada", lamentou.

No meio disso, "há um grande esforço que estamos a fazer em termos do mundo digital, mas o mundo digital leva seu tempo", primeiro, "a ser rentável".

Em segundo, além de ser rentável, "ser eficaz na transmissão dos conteúdos de qualidade que produzimos", sublinhou.

A APImprensa está atualmente a apresentar aos políticos "um conjunto de medidas de emergência" que têm a ver "exatamente com este segundo semestre", que podem passar por um projeto do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), podem ser um projeto de outros fundos ou "como foi feito em 2020 com o pagamento antecipado da publicidade institucional do Estado", explicou João Palmeiro.

A publicidade institucional do Estado está prevista no Orçamento do Estado, "a única coisa que não está previsto é que ela seja paga antecipadamente", portanto, "é preciso encontrar uma forma legislativa para resolver isso", defendeu.

No comunicado, a APImprensa refere que "há mais de 10 anos que as associações do setor propõem medidas de apoio sensatas, que implicam praticamente nenhum investimento do Estado", sendo "medidas em sede de IRS, como a igualdade de tratamento em relação a despesas com os ginásios, animais de estimação, restaurantes, mecânicos, entre outros, e em sede de IRC, como a diminuição do imposto na compra de publicidade por parte dos anunciantes".

A entidade critica ainda que "há vários anos" que Orçamento do Estado não tenha "qualquer variação no valor destinado à comunicação social (excluindo para a RTP e para a agência Lusa), o que indica que não há qualquer preocupação com o setor, sendo a rubrica apenas copiada de ano para ano".

Entretanto, a pandemia e a guerra na Ucrânia "vieram agravar a situação de um setor já em dificuldades e, para fazer face a esta situação", a associação apresentou um plano de cinco medidas "extraordinárias para três meses", as quais "foram muito bem recebidas, mas nada foi feito".

A APImprensa espera ser ouvida no próximo OE para que as suas propostas possam ser consideradas, bem como as medidas de exceção relativas ao preço do papel.

O ciclo de conferências "Repensar a imprensa", que decorreu entre 03 a 24 de maio, apontou ideias e vias para evitar o deserto de notícias que os dados de 2021 apontam como inevitável (mais de 20% do território autárquico não tem nenhuma publicação periódica regional ou local no seu território a que se soma uma diminuição dos pontos de venda de publicações periódicas nacionais), refere a associação.

As informações recolhidas no ciclo repensar a imprensa vão ser anunciadas publicamente no início de setembro.