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A compra do Twitter

São várias as razões pelas quais a compra do Twitter por Elon Musk, o homem mais rico do mundo, gera preocupação. Mas o constante e crescente domínio das redes sociais face aos media tradicionais são, no essencial, o maior perigo. Não é novo que muitas camadas da sociedade se informam pelas redes sociais e não por um jornal online ou um media tradicional.

Uma das chaves do poder do Twitter é o facto de ter bastante expressão simultaneamente em públicos tão antagónicos como os adolescentes ou os maiores líderes políticos mundiais.

Esta aquisição do Twitter por parte do fundador da Tesla e da SpaceX fez soar os alarmes sobre os limites e a falta deles no ciberespaço, já que o novo dono parece pretender uma rede “sem filtro” e sem limites a uma suposta “liberdade de expressão” de tudo poder ser dito. Acontece que os perigos da desinformação são inúmeros quando a anarquia no espaço público se instala e quando são geradas fontes de notícias e multiplicadores de opiniões e tweets com base em algoritmos e falsos perfis.

A principal receita do Twitter parte da venda de espaços publicitários na rede social. Aqui, as contas comerciais pagam para que os seus perfis e conteúdos impactem mais utilizadores. Isso acontece a partir da publicidade personalizada que usa um algoritmo para que esses anúncios cheguem às pessoas certas. Isto é comum à maioria das redes sociais e faz parte de um condicionalismo a que nos sujeitamos ao navegar.

A primeira questão de fundo é: porque deseja uma empresa investir num media ou numa rede social? Será que ela vê nesse investimento algo mais do que o lucro? É obvio que sim, porque adquire um poder não formal mas de enorme valia, mesmo quando os números da operação são negativos. São investimentos estratégicos.

A segunda questão de fundo é o acantonamento dos media tradicionais, que perdem cada vez mais influência para quem quase apenas só consome redes sociais e é por elas informado e influenciado. A democratização no acesso à palavra no espaço público é poderosíssima e encantadora em teoria (e é mesmo verdadeira), mas esconde uma realidade manipuladora de que tantos nem se apercebem. Sob o apanágio de democrática, a informação sem mediação é tão tentadora quanto perigosa.