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Teoria racista da 'grande substituição' promovida por republicanos nos EUA

Foto danielfela/Shutterstock.com
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Vários candidatos republicanos ao Senado dos EUA estão a promover uma teoria de conspiração, designada 'grande substituição', até agora confinada aos círculos da extrema-direita, para procurar obter votos na campanha eleitoral que se aproxima.

A lógica desta teoria é a tese sem fundamento de que há um plano para diminuir a influência das pessoas brancas nos EUA.

Em alguns casos, este argumentário tem sido ignorado, dada a retórica extremista anti-imigrantes que se tornou comum entre os conservadores durante a era Trump.

Mas um tiroteio ocorrido no fim de semana, em Buffalo, no Estado de Nova Iorque, que causou a morte a 10 negros, que pode ter sido inspirado por esta teoria racista está a chamar a atenção para a crescente adesão do Partido Republicano ao credo nacionalista branco.

Na terça-feira, o presidente dos EUA, Joe Biden, participou nas cerimónias fúnebres das vítimas com as famílias, após o que exortou a nação a rejeitar o que designou por "veneno da supremacia branca".

Os EUA, acrescentou Biden, têm de "rejeitar a mentira" da racista "teoria da substituição" subscrita pelo atirador que matou aquelas pessoas.

Há três semanas, no Estado do Arizona, o candidato republicano ao Senado, Blake Masters, acusou os democratas de procurarem "inundar" os EUA com milhões de imigrantes, "para mudarem a demografia do país".

Dias depois, no Missouri, foi outro republicano candidato ao Senado, o procurador-geral estadual, Eric Schmitt, a afirmar que os democratas "estão fundamentalmente a tentar mudar os EUA através da imigração ilegal".

E no Ohio, um terceiro candidato republicano, J. D. Vance, acusou os democratas que pretenderem "alterar o eleitorado".

Avisando para uma "invasão" imigrante, Vance disse, na televisão Fox News, que os democratas "tinham decidido que não podiam ganhar a reeleição em 2022, a não ser que trouxessem uma grande quantidade de novos votantes para substituir os eleitores existentes".

Alguns republicanos negam que as declarações destas suas campanhas reproduzem as teses da 'teoria da substituição', mas os analistas não têm dúvidas.

Cinco peritos em discurso de ódio, que reviram as declarações dos republicanos, confirmaram que promovem aquela teoria racista, a qual não tem qualquer fundamento, mesmo que não mencionem a raça diretamente.

"Comentários desse tipo demonstram dois traços essenciais dessa teoria de conspiração dita da 'grande substituição'. Preveem um Dia do Juízo Final racial, dizendo que é tudo parte de um grande plano", apontou Brian Hughes, professor na American University e diretor associado do Laboratório de Inovação e Investigação em Polarização e Extremismo. "A história básica que contam é a mesma que se vê nos diálogos entre extremistas nas redes sociais: 'um inimigo está a orquestrar o fim dos brancos americanos enchendo o país com não-brancos".

Com efeito, uma apresentação principal da 'teoria da substituição' nos EUA sugere, mas nunca com provas, que os democratas estão a encorajar a imigração da América Latina, para que mais potenciais eleitores próximos de si substituam os norte-americanos "tradicionais", disse Mark Pitcavage, investigador sénior no Centro sobre Extremismo da Liga Anti-Difamação.

Esta mensagem tornou-se uma componente central do apelo aos eleitores feito pelo atual movimento conservador. O antigo presidente republicano Donald Trump aludia repetidamente a uma invasão imigrante na fronteira sul e chegou a partilhar nas redes sociais uma mensagem de alguém que assinava WhiteGenocideTM.

A congressista republicana Liz Cheney, que foi destituída da liderança dos paramentares do seu partido na Câmara dos Representantes, por criticar Trump, responsabilizou na segunda-feira o seu partido "por dar força ao nacionalismo branco, à supremacia branco e ao antissemitismo".

Um inquérito de opinião, divulgado na semana passada, da Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research, apurou que um em cada três cidadãos dos EUA acredita que está em curso uma tentativa de substituir os americanos nascidos nos EUA por imigrantes, por razões eleitorais.