A Guerra Mundo

Civis retirados de Azovstal estiveram dois meses sem ver luz do sol

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Os civis retirados dos 'bunkers' da siderurgia Azovstal, em Mariupol, Ucrânia, estavam há dois meses sem ver a luz do sol, não tinham água potável nem alimentação adequada, contou um voluntário da ONU que participou nas operações.

O brasileiro Saviano Abreu, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), participou diretamente nas operações para a retirada de civis da siderurgia de Azovstal e outras áreas de Mariupol.

Em declarações ao 'site' ONU News (https://news.un.org/pt/), com notícias das Nações Unidas, e a partir da cidade de Zaporizhzhya, Saviano Abreu contou que as pessoas retiradas do 'bunker' da fábrica estavam há dois meses sem ver a luz do dia, o que teve "impacto psicológico" nas suas vidas.

"Elas não puderam ter acesso a água potável, de maneira adequada, durante dois meses e muitas delas contaram que só comiam uma vez ao dia. E ainda por cima ter os barulhos, os estrondos das bombas, da guerra acontecendo, lá do lado de fora, sem exatamente saber o que estava acontecendo. Elas saíram deste lugar e só então descobriram com detalhes o que tinha acontecido do lado de fora e descobriram que a cidade de Mariupol está completamente destruída", afirmou.

A terceira operação de retirada de civis na região de Mariupol terminou no domingo, sob coordenação da ONU e do Comité Internacional da Cruz Vermelha, depois do acordo da Rússia e da Ucrânia. A maior parte dos civis foram retirados para a cidade próxima de Zaporizhzhya.

Assim que são retirados, segundo Saviano Abreu, os civis recebem apoio psicológico e uma primeira refeição quente.

"À chegada aqui em Zaporizhzhya, também têm uma assistência imediata com alimentação, com um prato de comida quente, que são coisas que a maioria deles não puderam ter nos últimos dois meses, além de água e produtos de higiene", sublinhou.

O responsável destacou que também é prestado aconselhamento para que as pessoas possam decidir para onde querem ir, porque a retirada de civis de áreas em conflito "é uma decisão voluntária" de cada pessoa.

O porta-voz do Ocha explica que existem abrigos disponíveis em Zaporizhzhya, onde também são prestadas aos civis orientações e apoio para quem quer deixar a Ucrânia, mas muitas pessoas optam por permanecer no país, apesar da guerra.

Saviano Abreu afirma que ambas as partes em conflito garantem que já não há mais civis na siderurgia de Azovstal, mas a ONU e a Cruz Vermelha continuam a organizar mais operações de retirada de civis na zona de Mariupol.   

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A ofensiva militar causou a fuga de mais 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.