Artigos

Impacto da pandemia Covid-19 no desenvolvimento infantil e na aprendizagem

Fruto desta pandemia assiste-se a uma dificuldade no controlo emocional das crianças, mais concretamente em controlar a ansiedade

O impacto da pandemia tem sido uma temática muito discutida a analisada mundialmente, gerando um crescente número de estudos e investigações.

Desde 11 de março de 2020 que a pandemia COVID-19 “metamorfoseou” a vida de cada um de nós, exigindo mutações constantes face a atitudes e comportamentos. A lavagem das mãos de modo frequente, a utilização das máscaras, o isolamento social e a forma de cumprimentar o outro foram aparentemente as mudanças mais visíveis.

Os profissionais de diferentes áreas educacionais e de neurodesenvolvimento têm sentido de perto os efeitos que a pandemia tem vindo a surtir no desenvolvimento infantil nas competências: comunicativas e linguísticas, sociais, emocionais, motoras e na aprendizagem.

Face às medidas exigidas e implementadas pela Direção Geral de Saúde(DGS), foi necessário o uso da máscara e o isolamento social, conduzindo incontestavelmente, a limitações no normal e harmonioso desenvolvimento das crianças.

Como sabemos, o uso da máscara, enquanto meio preventivo na propagação da Covid-19 veio dificultar o processo comunicativo e social das crianças desde a mais tenra idade. Logo, o processamento de comunicação não verbal fica fortemente condicionado e limitado, pois as crianças restringem o seu olhar ao olhar do adulto, não observando as mais diversas expressões faciais e os movimentos articulatórios para pronunciar os sons da fala. Logicamente disparam drasticamente as dificuldades evidenciadas em termos comunicativos e linguísticos, nomeadamente das crianças mais novas. As crianças que apresentam atrasos em termos de neurodesenvolvimento, estas patenteiam limitações e repercussões ainda mais significativas.

Todas as dificuldades verificadas em termos de competências comunicativas e linguísticas interferem grandemente na aprendizagem da leitura e da escrita. Como tal, torna-se fulcral detetar o mais precocemente possível estas dificuldades e estar atento aos sinais de alerta para prevenir os atrasos no desenvolvimento infantil.

Durante o isolamento social, a aprendizagem das crianças restringiu-se a uma excessiva exposição aos dispositivos eletrónicos: computadores/ tablets (videoconferência, emails, redes sociais), telemóveis (WhatsApp), o que influenciou grandemente no desenvolvimento da linguagem oral e exigiu esforço visual continuado. Logo, os efeitos do uso dos ecrãs na pandemia desencadeou efeitos nefastos na visão das crianças e jovens, havendo um aumento de casos de miopia conforme sublinha a diretora de marketing da Fundação Vision as Needed- Essilor ( Europa), Margarida Barata.

Muitas das dificuldades de aprendizagem são reflexos de problemas de visão, logo se uma criança não vê bem, maiores são as dificuldades em aprender.

Uma outra consequência da pandemia covid-19 prendeu-se com a utilização das tecnologias, que se intensificou com o elevado risco das adições de diversos jogos e de um maior número de redes sociais, apesar de também ter contribuído para o aumento da literacia digital. Ainda durante o tempo em que crianças estiveram isoladas em casa, estas ficaram privadas de se relacionar com os seus pares e com os adultos, reduzindo automaticamente as suas experiências sociais e ambientais nos mais diversos contextos naturais, sendo um obstáculo à interação social. Não obstante isso, as crianças mais pequenas sentiram na sua casa e junto dos seus progenitores um ambiente de paz, tranquilidade, conforto, segurança e aconchego. Correr, saltar, caminhar e a prática de desportos ficaram também fortemente condicionados, o que se repercutiu em termos de motricidade global.

Fruto desta pandemia assiste-se a uma dificuldade no controlo emocional das crianças, mais concretamente em controlar a ansiedade, o stress, pois a sociedade acaba por fazer emergir níveis altos de ansiedade. O aumento progressivo de mortes associado a esta pandemia, as notícias passadas pelos mais diversos canais televisivos e a ideia de que a pandemia não é muito fácil de controlo, são exemplos elucidativos das causas desta instabilidade emocional, levando os pais à procura de psicólogos clínicos e educacionais.

Concretamente nas escolas assistiram-se a profundas alterações no tipo de trabalho a desenvolver, exigindo de todos os profissionais de educação um trabalho de grande reforço educativo.

Neste momento compete aos pais, aos professores e todos aqueles que trabalham em prol da educação e do neurodesenvolvimento infantil: fomentar atividades de reforço, insistindo nas áreas fracas da criança; disponibilizando apoio tendo em conta as necessidades e peculiaridades individuais e implementando programas de recuperação de aprendizagens.

Neste momento o Ministério de Educação dispõe de um programa intitulado “ Plano 21I23 Escola+”, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 90/2021, com o intuito de promover a recuperação das aprendizagens dos alunos aquando da pandemia COVID-19 desde a educação pré-escolar até ao ensino secundário (incluindo os cursos de ensino profissional). “O Plano 21|23 Escola+” que se iniciou em 2021 pretende a recuperação das competências mais afetadas pela pandemia; a diversificação das estratégias de ensino; o investimento no bem-estar social e emocional; a confiança no sistema educativo; o envolvimento de toda a comunidade educativa; a capacitação, através do reforço de recursos e meios e a monitorização, através da avaliação do impacto e eficiência das medidas. Estas são baseadas em estratégias educativas diferenciadas e visam a promoção do êxito escolar de todos os alunos. Logo evitar-se-ão as desigualdades, garantindo assim que nenhum aluno fique para trás.