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Ministro das Relações Exteriores do Brasil defende acordo entre UE e Mercosul

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O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos Alberto França, disse hoje que o seu país quer a ratificação do acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), firmado em 2019.

O acordo de livre comércio entre os dois blocos foi negociado durante 20 anos, mas aguarda ratificação dos Estados-membros dos dois blocos.

França disse que o Brasil não pode dar-se o luxo de esperar, mas reconheceu que há algo nessa relação "que precisa ser desbloqueado".

"Olhando para os números do comércio exterior brasileiro para o ano de 2021, o Brasil exportou mais para a Ásia, sem incluir Japão e China, do que para a União Europeia", disse França numa entrevista à Efe, em Madrid, no fim da viagem que faz a Espanha e que qualificou de "muito bem sucedida."

O ministro assegurou que o Brasil "não quer fugir de seus compromissos ambientais", um dos obstáculos para se chegar a esse acordo devido à oposição de vários países europeus às políticas no setor do Governo liderado pelo Presidente Jair Bolsonaro.

"Achamos que esse acordo é vantajoso, não só para o Brasil, mas também para a UE, e tenho dúvidas se é ainda mais", afirmou França, lembrando que em sua opinião, os obstáculos para chegar a um entendimento têm mais a ver com a proteção dos produtores domésticos na Europa do que com questões ambientais.

O ministro também considerou que a solução levará tempo para chegar, "porque são processos lentos", e deixará para trás até às eleições presidenciais no Brasil em outubro.

"Acho que é uma questão que deve ser separada da questão eleitoral, embora a situação interna influencie muito no processo", afirmou França.

"Estamos a falar de ambiente e penso que há uma coisa que é importante sublinhar: a água, a terra, são recursos escassos e estamos a fazer um uso ineficiente deles. Se há uma preocupação ambiental, o que será melhor para a União Europeia e para o Mercosul é investir onde há maior eficiência produtiva e isso é na América do Sul e no Brasil", considerou.

Além da falta sobre o acordo do Mercosul com a UE, o representante do Governo brasileiro também comentou conflitos internos no bloco sul-americano formado pelo Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, como as negociações para um acordo bilateral entre uruguaios e chineses além do objetivo de alcançar uma Tarifa Externa Comum.

"O Mercosul é uma bandeira comum. O acordo bilateral entre Uruguai e China ainda não foi finalizado. Falei com o chanceler uruguaio, Francisco Bustillo, e ele nos diz que quando o acordo estiver próximo de fechar eles se reunirão com os parceiros [do Mercosul]", declarou França.

Além disso, "o que achamos necessário no Brasil", especificou França, é que "pode ser dado um estímulo à competitividade do bloco".

"E isso se consegue com uma redução moderada da Tarifa Externa Comum, para demonstrar aos produtores nacionais que a eficiência precisa ser aprimorada para que os produtos vindos do exterior acelerem a competitividade", acrescentou

O representante do Governo brasileiro também foi questionado sobre uma visita que Jair Bolsonaro fará à Rússia a convite de Vladimir Putin na próxima semana, viagem que enquadrou como "um processo relacionado apenas às relações bilaterais entre os dois países".

"A Rússia é um parceiro estratégico do Brasil e um importante 'player' no cenário mundial, mas a visita do Presidente não tem nada a ver com a atual situação de tensão naquela região [Ucrânia], que deve ser resolvida no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas", apontou.

França explicou que teve conversas com responsáveis dos Estados Unidos da América, Rússia e Ucrânia, a quem transmitiu essa necessidade.