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Milhares de pessoas reúnem-se em Paris para protestar contra morte de curdos

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Ativistas curdos, políticos de esquerda e grupos antirracistas concentraram-se hoje em Paris, após três pessoas terem sido mortas num centro cultural curdo, num ataque que os promotores do encontro dizem ter sido motivado por motivos raciais.

O ataque de sexta-feira, num bairro do centro de Paris, também feriu três pessoas e suscitou preocupações sobre crimes de ódio contra grupos minoritários, numa altura em que vozes de extrema-direita ganharam proeminência em França e na Europa nos últimos anos.

O suspeito do ataque ficou ferido e encontra-se sob custódia da justiça.

Trata-se de um parisiense de 69 anos que foi acusado no ano passado de atacar migrantes e saiu da prisão no início deste mês.

O suspeito enfrenta potenciais acusações de homicídio e tentativa de homicídio com um motivo racista, disse hoje o Ministério Público parisiense, citado pela agência norte-americana AP.

Milhares de pessoas reuniram-se hoje na Praça da República, no leste de Paris, agitando bandeiras de grupos de direitos humanos curdos, partidos políticos e defensores de outras causas.

A concentração foi em grande parte pacífica, mas alguns jovens atiraram projéteis e envolveram-se em escaramuças com a polícia, que usou gás lacrimogéneo para os tentar controlar.

Alguns manifestantes gritaram 'slogans' contra o Governo da Turquia, que enfrenta desde a década de 1980 uma insurgência do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), formado para lutar por um Estado curso independente.

O fundador do PKK, Abdullah Ocalan, cumpre uma pena de prisão perpétua na Turquia, depois de ter sido detido em 1999.

O tiroteio de sexta-feira abalou a comunidade curda na capital francesa e pôs a polícia em alerta no fim de semana de Natal.

O chefe da polícia de Paris encontrou-se hoje com membros da comunidade curda para tentar acalmar os seus receios antes do comício na Praça da República.

O ataque de sexta-feira ocorreu num centro cultural curdo e num restaurante e salão de cabeleireiro próximos.

O ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, disse que o suspeito tinha como alvo os estrangeiros e agiu sozinho.

Disse também que o suspeito não estava oficialmente afiliado a qualquer movimento de extrema-direita ou outros movimentos radicais.

O suspeito foi condenado anteriormente por posse ilegal de armas e violência armada.

Os ativistas curdos disseram que tinham sido recentemente avisados pela polícia de ameaças a alvos curdos.

Em 2013, três mulheres ativistas curdas, incluindo Sakine Cansiz, uma fundadora do PKK, foram encontradas mortas a tiro num centro curdo em Paris.

O exército turco tem lutado contra militantes curdos do PKK no sudeste da Turquia, assim como no norte do Iraque.

As forças turcas lançaram recentemente uma série de ataques aéreos e de artilharia contra alvos militantes curdos sírios no norte da Síria.

A Turquia considera o PKK uma organização terrorista.

Segundo a organização Council for Foreign Affairs (CFR), com sede em Nova Iorque, o conflito entre a Turquia e o PKK provocou cerca de 40.000 mortos desde que começou.

Cerca de 30 milhões de curdos vivem no Médio Oriente, principalmente no Irão, Iraque, Síria e Turquia, países que integram a região montanhosa do Curdistão nativa da etnia de origen iraniana.

Os curdos representam quase um quinto da população de 79 milhões de pessoas da Turquia.