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Um projeto europeu – O pipeline BarMar

A atual crise energética europeia tem obrigado a uma nova análise das políticas energéticas europeias. Para além dos comentários óbvios e imediatos quanto às políticas irresponsáveis de exposição quase total por parte da Alemanha e da Áustria ao gás russo, existem também muitas outras ilações a serem tiradas.

Uma das mais relevantes é a crítica à oposição, por parte de França, ao projeto MidCat. Este projeto, há muito proposto, propunha conectar as redes de gás natural da Península Ibérica a França e, por consequência, ao resto da UE.

A Península Ibérica tem, neste momento, sete Terminais de gás natural liquefeito (TGNL) a operar com uma capacidade de importação estimada em 49.7 milhões de toneladas por ano (mtpa). Os terminais franceses têm cerca de metade desta capacidade, para além de terem um posicionamento geográfico menos eficiente para entradas de GNL por navios vindos de África ou das Américas.

Apesar de perceber alguns dos argumentos por parte dos franceses contra este projeto (nomeadamente, protegerem a sua produção nuclear doméstica e revitalizar os níveis de utilização dos seus TGNL), os tempos recentes evidenciaram, para lá de qualquer dúvida, que, no que toca a capacidade das infraestruturas energéticas, a redundância é fulcral e a localização estratégica do TGNL de Sines, bem como as dos TGNL espanhóis, são de uma tremenda importância geoestratégica.

Por outro lado, alguns dos argumentos utilizados por França foram completamente ilógicos. O primeiro foi o de que não quereriam apostar em infraestruturas para combustíveis fósseis. O GNL deve ser visto como um combustível de transição, permitindo mitigar o impacto da utilização de combustíveis fósseis alternativos e acelerar a independência da utilização de petróleo.

Para além deste facto, as redes de GNL estão a ser preparadas, a nível global, para a introdução de hidrogénio e de outros gases renováveis, facilitando uma transição gradual para energias menos poluentes.

Foi preciso a invasão da Ucrânia e consequente crise energética para que a França reavaliasse a sua posição, pelo menos parcialmente. Apesar de continuar sem querer efetuar o projeto como estava idealizado inicialmente, houve um princípio de acordo entre Portugal, Espanha e França para um projeto alternativo que também ligará estes mercados.

O projeto MidCat transformou-se no projeto BarMar conectando Barcelona a Marselha via um pipeline marítimo, com ligações adicionais entre Portugal e Espanha. Este projeto representa um desenvolvimento muito relevante para a interconexão entre países do mercado comum e representa também uma maior independência estratégica por parte da Europa como um todo.

Infelizmente, esta troca custou-nos anos de progresso, uma vez que teremos de começar o projeto do zero (com estimativas iniciais de uma duração de 7 anos para concretizá-lo) e já começaram a surgir dúvidas quanto à sustentabilidade ambiental deste projeto. Também não temos o mesmo empenho no mercado elétrico com duas interligações entre França e o mercado ibérico a cair no âmbito destes desenvolvimentos.