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Irão recusa colaborar na investigação da ONU sobre violação de direitos humanos

Foto EPA/Iranian supreme leader office
Foto EPA/Iranian supreme leader office

O governo do Irão anunciou hoje que não vai cooperar com a missão independente das Nações Unidas que se prepara para investigar as violações contra as liberdades fundamentais no país após a morte da jovem Mahsa Amini.

"O Irão não vai cooperar de nenhuma forma com a missão sobre supostos problemas com os direitos humanos", disse em conferência de imprensa o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Naser Kanani.

"Teerão condena o impulsivo uso das questões sobre direitos humanos contra nações independentes", sublinhou o porta-voz diplomático iraniano. 

Kanani considerou como "abuso" a "resolução aprovada na semana passada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU que caracterizou como "comité político".

A resolução estabelece a criação de uma missão independente de investigação que vai ter como objetivo "recolher e analisar provas" de violações dos direitos humanos na sequência da repressão que causou mais de 300 mortos, entre os quais 40 crianças e cerca de 15 mil detenções. 

Além das 15 mil pessoas presas nas manifestações, duas mil das quais acusadas de vários delitos por participação nos protestos, seis foram condenadas à morte. 

A proposta aprovada por 25 votos a favor, 16 abstenções e seis contra, entre estes da República Popular da China que tentou, sem êxito, que se retirasse do texto da resolução as partes referentes à criação da comissão de investigação.

Kanani assinalou diretamente a Alemanha como um dos principais países "promotores da resolução" tendo referido que os Estados Unidos, Israel e França fomentam os protestos. 

"Vemos o governo alemão a afirmar que apoia os direitos humanos, os direitos das mulheres e tudo o mais, mas é um governo que provocou duas guerras mundiais e que não pode fazer estas reivindicações", afirmou o porta-voz. 

O Ministério dos Negócios Estrangeiros convocou na segunda-feira o embaixador alemão em Teerão, Hans-Udo Muzel, pela atitude do país face ao Irão.

Trata-se da terceira vez que o embaixador alemão é chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão desde que começaram os protestos. 

O porta-voz governamental iraniano apresentou na conferência de imprensa máscaras antigás para recordar que na guerra entre o Irão e o Iraque, nos anos 1980, "países ocidentais, e em particular a Alemanha" forneceram a Bagdade material para o fabrico de armas químicas. 

No próximo dia 30 de novembro assinala-se o dia das vítimas da Guerra Química, disse Kanani.

Os protestos no Irão começaram após a morte da jovem curda iraniana de 22 anos, presa por não respeitar o código de vestuário obrigatório para as mulheres.

Os manifestantes pedem o fim da República Islâmica implantada em 1979.