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Rede de farmácias sul-africana impõe moratória na contratação de pessoas brancas

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A maior rede de farmácias na África do Sul, Dis-Chem, impôs uma moratória na contratação de pessoas brancas alegadamente para evitar uma multa de 10% sobre o faturamento no âmbito das políticas de emprego e empoderamento negro do Governo sul-africano.

Numa diretiva aos gestores do grupo empresarial datada de 19 de setembro, divulgada na imprensa local, o administrador Ivan Saltzman explicou que a medida foi decidida após a revisão do perfil de Employment Equity (EE) da organização e do estatuto de empoderamento negro definido pela lei Broad-Based Black Economic Empowerment (B-BBEE), introduzida desde 2003.

"Com efeitos a partir de hoje, 19 de setembro de 2022, passa a vigorar uma moratória na contratação de pessoas brancas. Isso inclui contratação externa e promoções internas", adiantou.

"Sendo a Dis-Chem, uma empresa listada na JSE [Bolsa de Valores de Joanesburgo], estas são medidas muito duras e necessárias se quisermos permanecer lucrativos e evitar uma possível multa de 10% do faturamento da empresa, o que prejudicaria o negócio. Esta é uma ameaça real nesta fase", concluiu Ivan Saltzman.

O anúncio da Dis-Chem dividiu a sociedade sul-africana, que é considerada a mais desigual do mundo.

O Aliança Democrática (DA, na sigla em inglês), maior partido na oposição, salientou que o anúncio da Dis-Chem sublinha o "pânico" gerado pelas mudanças pendentes na legislação segregacionista de emprego introduzida pelo ANC governante e que define a não contratação de pessoas brancas.

"É contra esse pano de fundo que o anúncio de Saltzman deve ser entendido. As empresas estão em pânico com a ideia de sacrificarem 10% da sua faturação no altar da loucura racial do ANC. Multas dessa magnitude vão levar muitas empresas à falência", afirmou o deputado Michael Cardo, ministro sombra da DA para o Emprego e Trabalho.

O Conselho Judaico Sul-Africano condenou a declaração.

O líder do pequeno partido de oposição ActionSA, Herman Mashaba, considerou que a moratória da Dis-Chem na contratação de pessoas brancas é "racial" e "divisiva".

"As cotas raciais contribuíram para os nossos problemas económicos atuais. Contrate-se sul-africanos por mérito e concentre-se no investimento em formação", declarou Mashaba, nas redes sociais.

Por seu lado, o YouTuber sul-africano Sihle Ngobese, também conhecido como Big Daddy Liberty, declarou no Twitter: "Isto é prova de que os esquerdistas acordados não têm problemas com o racismo institucional, desde que faça o que eles aprovam. De facto, é racismo institucionalizado e não deveria ter lugar numa sociedade supostamente não racial".

Apesar da controvérsia, a empresa sul-africana reiterou a decisão de implementar a moratória contra pessoas brancas.

"Igualdade e diversidade são importantes para a Dis-Chem, e o grupo continua a dar grandes passos para garantir que mantém o progresso nesta área", salientou a empresa, em comunicado citado na imprensa sul-africana.

A Presidência da República sul-africana e o Governo do Congresso Nacional Africano (ANC), no poder desde a queda do regime segregacionista do 'apartheid', não se pronunciaram.

A legislação B-BBEE, introduzida pelo ANC do ex-Presidente Thabo Mbeki, em 2003, define que "pessoa negra é um termo genérico que significa africanos, mestiços e indianos".